As três maiores montadoras dos Estados Unidos – Chrysler, General Motors e Ford – vão receber auxílio financeiro do governo americano para evitar a falência.
Nos últimos meses, as companhias vêm anunciando cortes de produção e de milhares de empregos, motivados pela queda nas vendas de automóveis causada pela desaceleração econômica.
Para evitar a quebra das empresas, o presidente George W. Bush anunciou um plano de ajuda de US$ 17,4 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões).
O pacote prevê o repasse imediato de US$ 13,4 bilhões, provenientes do pacote de US$ 700 bilhões de resgate ao sistema financeiro. Os US$ 4 bilhões restantes serão repassados às montadoras posteriormente.
Como parte do pacote, o governo americano estabeleceu o prazo de 31 de março para que as montadoras se reestruturem e se tornem viáveis.
As montadoras haviam pedido auxílio da ordem de US$ 14 bilhões ao governo americano. O pacote chegou a ser aprovado pela Câmara dos Representantes, mas o Senado não conseguiu atingir um consenso para votá-lo, o que fez com que a Casa Branca passasse a estudar maneiras de ajudar o setor.
Qual o risco de as montadoras quebrarem?
Caso as montadoras consigam elaborar planos de falência conforme a lei americana, não haverá muitas mudanças inicialmente. As empresas receberiam um prazo para renegociar contratos de trabalho e reorganizar seus negócios.
A GM teme que as pessoas parem de comprar seus carros durante o período de reorganização da companhia, o que iria abalar ainda mais seu modelo de negócios.
O pior cenário seria as montadoras ficarem sem dinheiro e simplesmente fracassarem na tentativa de reorganização.
Isso teria um efeito em toda a cadeia automotiva, atingindo várias empresas, desde fabricantes de autopeças até revendedoras.
Segundo analistas, poderiam ser perdidos até 2,5 milhões de empregos nos Estados Unidos, além de 2 milhões de vagas que já foram cortadas neste ano.
Por que a situação se deteriorou de maneira tão grave?
As três montadoras afirmam que a crise financeira global as deixou em grandes dificuldades.
A crise de crédito significa que é difícil encontrar prováveis compradores. Também é mais difícil para os consumidores conseguirem financiamentos, enquanto outros estão cortando gastos para tentar economizar.
Como resultado desse cenário, as vendas da GM caíram mais de 40%. Na Ford e na Chrysler, a queda foi de um terço das vendas.
Além disso, a crise financeira também torna mais difícil para as próprias empresas obter crédito e pagar suas dívidas.
Mas as empresas não reestruturaram seus negócios para economizar dinheiro?
Sim, mas as mudanças coincidiram com um agravamento da situação econômica global.
A GM, por exemplo, teve de fechar fábricas e cortar milhares de vagas para reduzir custos. A empresa chegou a considerar uma fusão com a Chrysler, mas recentemente negou que tenha retomado negociações nesse sentido.
Todas as empresas estão enfrentando problemas no momento.
Quais os principais problemas enfrentados pelas montadoras?
Em primeiro lugar, elas estão sobrecarregadas com custos de planos de saúde e de pensão de centenas de milhares de ex-funcionários.
No ano passado, a GM e as outras montadoras firmaram um acordo com a união de sindicatos de trabalhadores do setor, United Auto Workers, para reduzir esses custos em cerca de US$ 50 bilhões, mas as medidas só entrarão em vigor em 2010.
Esses custos, ligados ao passado das empresas, são um problema que suas rivais mais recentes não enfrentam.
As empresas também cometeram erros nos anos 80 e 90, ao não perceber a ameaça representada por rivais estrangeiras, como a japonesa Toyota.
Enquanto as montadoras asiáticas entraram no mercado dos Estados Unidos com carros menores e mais eficientes, as empresas americanas responderam com um aumento da produção de veículos maiores, com alto consumo de combustível.
Inicialmente, esses grandes veículos se mostraram populares entre os consumidores americanos e muito rentáveis para as empresas, mas no longo prazo, com o aumento nos preços da gasolina, eles acabaram perdendo terreno para os carros menores e mais eficientes.
Por que o pedido de ajuda das montadoras ao Congresso americano foi rejeitado?
As três montadoras pediam um pacote de US$ 14 bilhões de auxílio. O plano chegou a ser aprovado pela Câmara dos Representantes. Para que fosse aprovado no Senado, os democratas necessitavam do apoio dos republicanos, já que têm maioria de apenas um voto na casa.
No entanto, mesmo alguns senadores democratas se colocaram contra a medida, e o plano não conseguiu apoio suficiente.
Os senadores republicanos exigiam que a United Auto Workers concordasse com cortes imediatos nos salários, o que foi rejeitado pelos sindicatos.
Fonte: BBCBrasil