quarta-feira, novembro 26, 2008

A VITÓRIA DE CHÁVEZ – A QUESTÃO EQUATORIANA – SANTA CATARINA - A MÍDIA DA MENTIRA

Laerte Braga A primeira notícia na segunda-feira, dia 24, divulgando os resultados das eleições na Venezuela, BOM DIA BRASIL, vendeu as “dificuldades para as intenções de Chávez permanecer no poder até 2012”. O presidente da Venezuela cumpre um mandato em que foi eleito por maioria absoluta de votos e que termina em 2012. Logo, que dificuldades? O mandato é legítimo e as eleições de domingo 23 de novembro atestam a característica democrática da revolução bolivariana de Hugo Chávez. O JORNAL DA BANDEIRANTES divulgou durante toda a semana notícias sobre fraudes com urnas eletrônicas em várias partes do Brasil. A vulnerabilidade do sistema já havia sido denunciada por especialistas, assim que o processo foi implantado. Todos defendiam a adoção do voto impresso além do voto eletrônico, como garantia para o eleitor. Em agosto de 2002, logo após o golpe frustrado para derrubar Chávez, no referendo sobre seu mandato, o presidente aceitou a presença de observadores internacionais, dentre eles o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter e adotou o voto impresso. Essa decisão deixou furiosa a oposição. Estava desmontada a fraude e Chávez venceu com tranqüilidade. Carter fez declarações públicas sobre a legitimidade da manifestação popular através do voto de apoio ao governo. No Brasil, o então presidente do stf, ministro nelson jobim, hoje no Ministério da Defesa do governo Lula, orientou o senador eduardo azeredo, a impedir a vontade de alguns parlamentares de adotar o voto impresso na urna eletrônica. jobim garantiu o sistema e azeredo apresentou projeto para matar a idéia desse recurso, voto impresso. Segundo ambos o sistema era garantido. Em todas as eleições desde a adoção do voto eletrônico as fraudes têm crescido e tem mostrado a vulnerabilidade do mesmo. Os especialistas no assunto garantem ser possível eleger qualquer candidato dentro de um esquema de fraudes. azeredo e jobim são políticos minúsculos no modelo político e econômico vigente, representam interesses dos donos do País. O PSUV (PARTIDO SOCIALISTA UNIDO VENEZUELANO) ganhou 17 dos 23 governos estaduais em disputa, 264 prefeituras contra 65 dos partidos de oposição reunidos e a maioria dos legisladores municipais. Toda a oposição reunida teve quatro milhões duzentos e oitenta mil votos, contra quatro milhões quinhentos e trinta mil votos nas eleições do ano passado, ou seja, menos 250 mil votos. Os demais jornais da GLOBO e a mídia no geral deram destaque às vitórias da oposição dimensionando-as de maneira a fazer o telespectador, leitor, ouvinte, a acreditar que o chavismo foi derrotado. O presidente do Equador, Rafael Corrêa, recebeu uma auditoria da dívida externa pública de seu país e constatou a existência de inúmeras irregularidades em contratos com governos, empresas, bancos e agências internacionais de financiamento. Juros extorsivos, obras superfaturadas e realizadas aquém das exigências contratuais, pagamento de propinas, toda a sorte de falcatruas costumeira quando se trata de banqueiros, empresários, latifundiários, governos tucanos, etc. Convocou a imprensa de seu país, divulgou os relatórios da auditoria, a íntegra do documento e anunciou que recorreria às instâncias internacionais cabíveis para suspensão do pagamento da dívida ilegítima. Empresas brasileiras e espanholas (corredores para o tráfico de financiamentos por bancos e agências internacionais) estão envolvidas. O caso mais claro e público é o da Norberto Odebrecht. Construiu uma usina hidrelétrica fora dos termos contratados, superfaturou, comprou funcionários públicos equatorianos e os governantes anteriores (os dois anteriores a Corrêa). Lula trepou nas tamancas, advertiu o Equador que o país estava dando calote, a mídia adotou a expressão calote como corriqueira no noticiário e o embaixador do Brasil em Quito foi chamado a Brasília. Aqui o diplomata explicou que o presidente Corrêa não suspendeu o pagamento, apenas recorreu contra o pagamento em tribunais internacionais e não vai pagar ao demonstrar a corrupção. O problema do governo brasileiro é que todos esses acordos, a maioria, foram feitos no governo tucano de Fernando Henrique (tucano é sinônimo de corrupção). Ou, no caso de Itaipu, pela ditadura militar brasileira, com outro ditador, Stroessner, no Paraguai. Se uma corte internacional julga um processo dessa natureza a favor do governo do Equador o Brasil vai se ver na contingência de investigar todos os contratos semelhantes e empresas como a Norberto Odebrecht serão varridas do mapa. Aqui e no exterior. Aqui, a Norberto Odebrecht, além de anunciante da GLOBO, faz parte do consórcio de empresas que constrói o metrô de São Paulo, aquele do buraco que matou algumas pessoas (Segundo José Serra um “acidente rotineiro nesse tipo de obra). Pior que isso, toda a corrupção tucana que Lula tem escondido não se sabe por que, terá que ser mostrada. Todo o comprometimento da ditadura brasileira com a ditadura paraguaia terá que vir a público. O que Lula menos gosta é confronto. Com tanto equilibrismo ao longo desses seis anos para evitar esses conflitos perdeu forças para enfrentar essa gente e acabou presa de figuras como jobim, como geddel vieira lima, como mangabeira unger, como gilmar mendes e vai por aí afora. Há no Congresso Nacional um requerimento aprovado de CPI das Empreiteiras. Como outro, de CPI dos Bancos. Mas cadê peito? A maioria esmagadora dos congressistas brasileiros recebe doações de campanha de empreiteiras e bancos. De latifundiários. O Equador deixar de pagar é o de menos para o Brasil. Mas vir a público as políticas praticadas pelos governos brasileiros com países sul americanos, ou a América Latina de um modo geral, é complicado e rompe um círculo que envolve desde interesses do império norte-americano aos das grandes empresas, bancos e latifúndio, sócios majoritários do Estado brasileiro. Onde essa gente vai ficar em novas “concorrências”? Como fazer para comprar presidentes corruptos de países amigos/irmãos e tudo terminar em contas multimilionárias em paraísos fiscais? A decisão do governo do Equador é como aquelas demonstrações com peças de dominó em que derrubam várias a partir de deslocar a primeira. O modelo fica exposto, fica a nu. As chuvas em Santa Catarina exibem a dimensão real das políticas neoliberais voltadas para a agricultura no estado (no País inteiro). A ocupação urbana desenfreada e predatória posta em prática por empresas e governos ao longo dos anos. Santa Catarina é um dos mais belos estados brasileiros, com praias maravilhosas, paisagens fantásticas, uma espécie de monumento da natureza à beleza, à paz e a harmonia e que como todo o Brasil está sendo tomado pelos donos. No Ceará, em Fortaleza, uma das mais belas praias da cidade está sendo aterrada (isso mesmo, aterrada) para a construção de um condomínio de luxo. Resta à mídia exibir o drama de pessoas atingidas pelo descalabro provocado pela inconseqüência dos governantes e das elites. Tentar transferir as responsabilidades para as chuvas exclusivamente sem especificar as razões reais de tantas chuvas e de tanta fragilidade nas cidades e no campo. Sem analisar as conseqüências das políticas industriais e agrícolas de um modo geral, voltadas para interesses de grupos ou a transformação de cidades como Florianópolis, belíssima, em pardieiros futuros da especulação imobiliária e das elites refugiadas em condomínios de luxo. Só saem de lá, os filhos dessas elites, para agredir e assaltar “vagabundas” como fizeram faz pouco no Rio, em nome da moral, da pátria, da decência, etc, etc, bem como do dinheirinho sagrado para as drogas. A mídia dramatiza e enfatiza situações de um e outro, mostra o estado de calamidade a que o povo do estado se vê atirado, mas não mostra que o governador do estado, Luís Henrique, está atolado em corrupção até a alma (se é que tem), responde a vários processos, tem o mandato em risco por abuso de poder econômico em campanhas eleitorais e assim, os donos de Santa Catarina. Família Bornhausen inclusive. O País inteiro vive esse dilema. Mídia mentirosa, vendendo um mundo que não existe, incensando uma solidariedade que é natural ao brasileiro, uma vocação para a fraternidade que está dentro de cada um, mas que, por mais paradoxal que possa parecer, estão sendo, solidariedade e fraternidade, eliminadas na competição desvairada a que o ser humano é atirado em nome da sobrevivência da sociedade do tudo é normal desde que se vença. O resultado é esse, o modelo é apenas um espetáculo de luzes e câmeras e falas ocas. As pessoas não percebem que as cheias de Santa Catarina têm várias formas e matizes e estão sendo postas goela abaixo de cada uma, cada um, no mundo globalizado na ótica de dois trilhões de dólares para salvar bancos. Chávez tem que ser demonizado. Corrêa tem que ser pressionado a trair seu povo e seus princípios. Claro, contrariam essa gente podre e sem escrúpulos que não tem o menor problema com as cheias em Santa Catarina e com toda certeza vai lucrar alguma coisa, como sempre lucra em todas as tragédias desse jaez. Como não tem jeito de culpar índios ou camponeses sem terra pelas cheias, ou sem teto, ou desempregados, fica fácil atribuir tudo à providência divina. Os verdadeiros culpados, esses não. São os anunciantes do monte de JORNAL NACONAL que pulula por aí em redes de tevê, em jornais impressos, revistas, rádios, o escambau. Na mesma segunda-feira, na edição do JORNAL HOJE, o apresentador, logo após a exibição das imagens de devastação em Santa Catarina, disse o seguinte: “é, mas vamos mudar de assunto, vamos mostrar a ousadia das cores dos esmaltes para o verão”. E um mundo de mãos pintadas de amarelo, laranja, vermelho, tudo em matéria paga pelo complexo de beleza imposto em forma de feiúra aos que acreditam no deus mercado e seus santos.