quinta-feira, outubro 02, 2008

Juro para comprar carro sobe até 25%, diz economista

A turbulência global provocou uma onda de precaução entre bancos e financeiras que devem aumentar as taxas de juros para a compra de carros novos e usados em até 25%. A taxa foi verificada em pesquisa feita pelo economista Ayrton Fontes, da MSantos, empresa especializada no varejo de automóveis. Segundo Fontes, o aumento de juros é uma ação preventiva, pois os bancos brasileiros têm apenas 8% dos empréstimos captados no exterior e poderiam manter as taxas atuais. O levantamento feito por ele junto a seis grandes bancos mostra que as novas tabelas que chegam às concessionárias nesta quinta-feira vêm com aumentos de 10% a 25% nas taxas mensais. Na última terça-feira, as concessionárias de veículos foram orientadas pelas instituições financeiras a fecharem contratos pendentes, antes da entrega das novas tabelas. Segundo o levantamento, quem operava com 1,38% passa a cobrar 1,65% mensais. Planos com juros a 1,48% ao mês vão para 1,8%. Os prazos, por enquanto, não serão alterados e chegam a até 72 meses, embora o plano preferido pelos consumidores seja o de 48 meses. Os juros baixos e os prazos longos têm alimentado o mercado de carros novos, que voltou a crescer depois de registrar queda em agosto. Até segunda-feira (29), foram vendidos 252 mil veículos no mês passado e a previsão é de encerrar setembro com mais de 260 mil unidades, o que significaria aumento de 6% em relação a agosto, mês em que os negócios haviam caído 15% em relação a julho. Faltando um dia para fechar o mês (os dados de terça-feira não estavam computados), esse já foi o melhor setembro da história em vendas. No acumulado do ano até o mês passado, foram vendidos até agora 2,19 milhões de veículos, 26% a mais que no mesmo período de 2007. A venda de carros (automóveis de passeio e comerciais leves) no Brasil ultrapassou a marca dos 2 milhões de unidades no ano após a divulgação dos números de veículos comercializados em setembro, realizada nesta quarta-feira (1) pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A projeção da indústria é encerrar o ano com mais de 3 milhões de unidades comercializadas. Nos nove meses do ano, já foram vendidos 3.792.565 veículos (incluindo caminhões, ônibus, motos e implementos rodoviários). Deste total, 2.096.396 unidades são referentes a automóveis e comerciais leves, um crescimento de 26,87% em relação aos primeiros nove meses de 2007. O volume de automóveis e comerciais leves com motor bicombustível vendidos no ano representa 87,08% das unidades comercializadas. Considerando somente automóveis de passeio e comerciais leves, foram comercializadas 254.182 unidades em setembro, com alta de 10% em relação a agosto (231.069) e 30,94% sobre setembro de 2007 (194.122). A venda de veículos em geral somou 462.356 unidades durante o mês de setembro, o que representa um aumento de 8,1% em relação a agosto (427.692 unidades comercializadas), e um crescimento de vendas de 30,59% em relação a setembro de 2007 (354.055 unidades). Entre as montadoras, a Fiat mantém a liderança nas vendas com 24,85% de participação de mercado de automóveis e comerciais leves. Em segundo lugar está a Volkswagen com 21,87%, seguida pela General Motors (21,26%), Ford (9,49%), Renault (4,38%), Honda (4,07%), Peugeot (3.04%), Toyota (2,74%), Citroën (2,55%), Hyundai (1,68%) e Mitsubishi (1,49%).
Exportações baianas começam a serem afetadas
Os impactos da crise financeira norte-americana foram tema de discussão no Conselho de Economia da Bahia. Os economistas Armando Avena e Osmar Sepúlveda foram unânimes ao afirmarem que a crise com certeza vai trazer impactos ao Brasil e a própria cadeia produtiva baiana que já sente os impactos através das commodities. Segundo a análise de Armando Avena, o momento é de cautela e o crescimento da Bahia será afetado em razão da pauta de exportação do Estado ser composta de produtos petroquímicos e derivados do petróleo, papel, celulose, soja e metalurgia que sentirão os efeitos da crise. “O oeste baiano não está mais exportando soja. Já sentimos que neste ano a economia baiana cresceu menos que a economia brasileira no ultimo semestre. Enquanto o Brasil cresceu 6%, a Bahia 5,6% e vai continuar crescendo menos. A Bahia depende da economia do Brasil e vai acompanhar as nuances econômicas”, diz. Ele ainda revelou que a agricultura baiana decresceu 1,8% neste ultimo semestre. Ele ainda apontou que o grande culpado da crise foi o descolamento do mercado financeiro do mercado real. “Antes o mundo só emprestava dinheiro ao cliente prime, quando passou a emprestar ao subprime, considerado de alto risco, houve esse problema”, cita. Entretanto Avena chamou a crise de saudável por considerar que vai fazer as economias se restabelecerem e terem maior controle da ciranda financeira. Os EUA respondem, de acordo com Avena por 35% da economia mundial e 15% das exportações brasileiras. “Cerca de 70% das compras e vendas no mundo provêm do dólar e 80% das reservas mundiais estão em dólar. Se houver agravamento da crise tudo isto será afetado. Estamos vendo a escassez do crédito com a suspensão das linhas de exportação. A inflação brasileira vai surgir e os produtos importados, regulados pelo dólar também sofrerão aumentos”, diz.(Por Alessandra Nascimento)
Três hipotecas num só imóvel
O economista Osmar Sepúlveda aconselha um remédio amargo para a crise. “O Brasil sofre de dois vícios chamados taxa de juros e carga tributária. Pagamos impostos elevados e é preciso modificar a atual estrutura tributária, mas reconheço que neste momento este foi um importante remédio. Pagamos tantos juros que nem nos damos conta”, comenta. Sepúlveda explicou que o que aconteceu com os EUA jamais vai acontecer no Brasil. “Nos EUA havia casos de se fazer três hipotecas por um único imóvel. Aqui no Brasil isso jamais vai acontecer porque é ilegal se utilizar um único imóvel para mais de uma hipoteca. Outra situação que é preciso mencionar é que os norte-americanos abusaram das especulações. Eles provocaram o aumento no preço dos alimentos e culparam o programa de biodiesel brasileiro. Havia casos que se especulava na bolsa com uma safra que ainda nem tinha sido plantada. Isso gerou o aumento do preço dos alimentos”, revela. Armando Avena ainda lembrou do socorro do Proer ao sistema bancário brasileiro e traçou relações deste plano ao plano atual norte-americano. “Os americanos apenas estão socorrendo seus bancos para evitar que a crise se alastre e impeça o crescimento de outras economias. O que os americanos fazem hoje é o que fizemos por aqui com o Proer”, cita.
Fonte: Tribuna da Bahia