Suspeito de ter grampeado o presidente do Supremo, Ambrósio negou envolvimento no caso
BRASÍLIA - Com uma sucessão de negativas e munido de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que impedia sua prisão, Francisco Ambrósio, agente aposentado do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), afirmou ontem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Grampos que sua participação na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, limitou-se a triagem e classificação de e-mails. Ambrósio negou qualquer participação ou conhecimento de escutas telefônicas clandestinas na operação comandada pelo delegado Protógenes Queiroz.
"A única coisa que posso falar é que todos os grampos que fiquei sabendo, que todas as escutas telefônicas, foram realizadas com ordem judicial", disse Ambrósio, que é apontado como suspeito de ter feito o grampo telefônico que flagrou conversa entre o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
No depoimento, Ambrósio afirmou que recebeu R$ 1,5 mil por mês, durante cerca de cinco meses, para trabalhar na Operação Satiagraha, em Brasília. "Não participei efetivamente da investigação da PF", repetiu Ambrósio, que confessou ter atuado como "espião" no Congresso, na década de 80, durante a abertura política e toda a discussão pelos parlamentares das Diretas Já.
O sargento Idalberto Martins de Araújo, do Centro de Inteligência da Aeronáutica, foi outro que depôs à CPI dos Grampos recheado de negativas. Foi o sargento quem apresentou Ambrósio ao delegado Protógenes Queiroz.
Idalberto contou que indicou para Protógenes o sargento Rodopiano, que está na reserva da Aeronáutica, para trabalhar na Operação Satiagraha, no Rio de Janeiro.
Segundo Idalberto, o sargento Rodopiano teria feito "análise de inteligência" para Protógenes. Rodopiano também foi pago pela PF pelos serviços prestados, mas Idalberto não soube dizer quanto seu colega de farda recebeu da PF.
Após os depoimentos dos dois arapongas, o presidente da CPI dos Grampos, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), reclamou do segredo de Justiça das investigações que envolvem o banqueiro Daniel Dantas, preso na Operação Satiagraha. A CPI já solicitou todo o processo sobre o caso, mas o Supremo negou o envio dos dados sigilosos.
"O Daniel Dantas só é beneficiado de não ter seu nome investigado pela CPI pela decretação de segredo de Justiça. Esse segredo de Justiça só protege o 'Zé do Banco' porque o 'Zé do Morro' não se beneficia disso", disse Itagiba.
Ele também criticou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que enviou para CPI documentos em caráter reservado e confidencial. "Acho lamentável em um momento em que o País exige transparência que documentos, que devem ser abertos, venham com a chancela de reservados e confidenciais. Precisamos esclarecer as coisas e não ter mais segredos", afirmou o presidente da CPI.
Jobim enviou à comissão de inquérito o laudo feito por engenheiros do Exército sobre a capacidade de equipamentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fazerem escutas ambientais e telefônicas. A CPI também recebeu a relação dos equipamentos adquiridos pela Comissão de Compras do Exército em Washington para a Abin, em 2005.
Fonte: Tribuna da Imprensa