Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Caso não sobrevenha um imprevisto, o ministro Nelson Jobim prestará depoimento, hoje, na CPI dos Grampos, na Câmara. Ainda que com todo o respeito, será confrontado com perguntas incômodas. Como explica que tenham chegado ao seu gabinete informações apenas sobre sete escutas telefônicas promovidas no âmbito das Forças Armadas, quando o Superior Tribunal Militar informa terem sido 234, só este ano? Afinal, Exército, Marinha e Aeronáutica possuem aparelhos para grampear telefones?
O que dizer da revelação do jurista Ives Gandra Martins de que em 2007 foram autorizadas 409 mil escutas telefônicas? Os organismos ligados à inteligência devem dispor do direito de grampear telefones e ambientes variados, claro que com autorização judicial? Como punir agentes de informações flagrados promovendo escutas irregulares?
Abre-se para o ministro da Defesa excelente oportunidade de falar pelo governo e repor a crise em seus devidos termos, quer dizer, justificar a existência de instituições aparelhadas para monitorar criminosos, jamais para bisbilhotar a vida de cidadãos acima de suspeitas.
Caso venha a sair-se bem, Jobim poderá receber a grata surpresa de ser incluído no rol dos presidenciáveis, melhor dizendo, dos vice-presidenciáveis, na hipótese de o PMDB insistir na formação de uma chapa com Dilma Rousseff. Perdendo-se em inconsistências, porém, arrisca-se a cair em desgraça no Palácio do Planalto. Dias atrás o presidente Lula determinou-lhe ficar em silêncio para não conturbar ainda mais a crise dos grampos. Se for falar, é porque, no mínimo, foi liberado pelo chefe para transitar pelo fio da navalha.
Números inexplicáveis
De quatro, positivamente, o Brasil não se encontra, ficando a razão com o ministro Guido Mantega. Mas não dá para explicar porque, no auge da crise que levou a Lehman Brothers à breca, tenha a bolsa de valores de Nova York caído 4.42 pontos, enquanto a Bovespa, no mesmo dia, caiu 7.59 pontos. Nosso colchão será mais macio que o deles, permitindo queda mais acentuada?
É bom tomar cuidado, porque cresceu nas últimas semanas a fuga de investimentos externos. O dinheiro sai bem mais do que entra, em nossa economia, coisa que nem o momento mágico do pré-sal consegue evitar. As ações da Petrobras perdem valor quando deveriam constituir-se na taboa de salvação dos especuladores estrangeiros. Tem algo de errado por aí.
Contra Lula, Serra fica em São Paulo
José Serra não confirmará nunca, vai jurar de pés juntos que não disse, mas alguém de sua intimidade revelou sua resposta dada de bate-pronto diante da indagação sobre um hipotético terceiro mandato. Rejeitando a possibilidade de disputar o Palácio do Planalto contra o presidente Lula, em 2010, o governador admitiu, então, concorrer a um segundo mandato em São Paulo.
"E quem seria o candidato do PSDB à presidência da República?" "Ora, o Geraldinho, que já tem experiência...". Ninguém, no ninho, admite que o presidente Lula aceite mudar as regras do jogo para permanecer no poder. Até porque, as oposições não deixariam, imaginam os cardeais do PSDB. Mesmo assim, uma nuvem de carcarás poderá melar o plano de vôo e ofuscar a revoada dos tucanos. Porque se Dilma Rousseff não emplacar, se as pesquisas indicarem no momento apropriado a vitória incontestável de Serra, penas vão se espalhar por todo lado.
Vai sem falar de crise
Dia 22 o presidente Lula estará em Nova York. Será homenageado com jantar oferecido por empresários de lá e de cá, possivelmente conversará com o presidente George W. Bush, em Washington. Seus assessores internacionais já estão preparando a visita, com uma recomendação especial: não abordar a crise financeira americana. Responder, no máximo, que confia na capacidade da economia dos Estados Unidos superar as dificuldades atuais.
Apesar do momento mágico promovido pelo pré-sal, o presidente Lula parece disposto a retomar a campanha proselitista do etanol, até mesmo buscando convencer empresários e governantes americanos de que o produto retirado do álcool é mais barato do que o proveniente do milho. Além, é claro, de não contribuir para a falta de alimentos.
Fonte: Tribuna da Imprensa