Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Nas Nações Unidas, ironicamente homenageado pela Interpress, organismo empenhado em congregar a mídia internacional, perpetrou o presidente Lula uma das mais hediondas ofensas à imprensa. E não foi numa daquelas entrevistas-relâmpago onde costuma extrapolar do bom senso e da gramática. Foi do púlpito, em discurso formal.
Disse o presidente que nem se importa quando a imprensa fala bem ou fala mal dele. Trata-se de uma heresia. Mais ainda, da revelação do inconsciente presidencial. Porque só se exprime assim quem realmente sente-se incomodado quando falam mal a seu respeito.
Como aceitar que alguém não se incomode em estar sendo elogiado ou criticado pelos jornais, revistas, rádios e televisões? Nem o jacaré tem couro tão grosso assim. Apesar de todos os defeitos, vícios e exageros dos meios de comunicação, é através deles que os governos chegam à opinião pública. Enaltecendo ou verberando governantes.
Caso não se importasse com a forma de como é tratado pela mídia, Lula não manteria essa bem montada estrutura de comunicação social ou, muito menos, teria autorizado a criação da TV Brasil, de resto elogiável pelo trabalho apresentado.
Mais lamentável na afirmação do presidente foi ter sido feita diante de representantes da imprensa mundial, obrigando-os a engolir em seco a declaração.
Teve mais, no entanto. Ainda nas Nações Unidas, cercado por microfones, câmeras e gravadores embolados, diante da indagação sobre os resultados das últimas pesquisas que elevaram ainda mais sua popularidade, completou o chefe do governo: "Não me abalo com pesquisas, nem quando estão baixas, nem quando em cima, pois retratam o momento em que se tirou a fotografia...".
Pois é. As pesquisas podem ser falhas, distorcidas e, não raro, fajutas. Mas haverá um momento em que, acima e além delas, a fotografia se tornará definitiva. No caso, no dia das eleições. Pelo jeito, Sua Excelência também não se abalará, com votos dados para cima ou para baixo...
O ninho em frangalhos
Sobrará o quê, dos escombros do ninho dos tucanos? Palhas e gravetos para todo lado, esquadrilhas sem plano de vôo, um bater monumental de asas e bicos. As eleições para a prefeitura de São Paulo estão sendo um desastre para os objetivos futuros do PSDB.
A divisão surge cada dia mais irreversível, com Gilberto Kassab, leia-se, José Serra, de um lado, e Geraldo Alckmin de outro, apoiado por Aécio Neves. Nem se pode dizer que depois da vitória de um dos candidatos o partido se unirá novamente, porque o risco é de Marta Suplicy eleger-se.
Culpa de quem? Pode ser do açodado Geraldo Alckmin, que já tem experiência de fracasso em condições semelhantes. Quem sabe de Gilberto Kassab, incapaz de perceber sua condição de coroinha, jamais de bispo. Ou terá José Serra revelado sua incapacidade de aglutinar os contrários? Tanto faz, porque do jeito que as coisas vão, o Alto Tucanato arrisca-se a perder não apenas a prefeitura de São Paulo, mas a presidência da República.
Alguém desencapou
O ministro Carlos Lupi não é doido nem rasga dinheiro. Aderiu-se publicamente à utilização do FGTS para a compra de ações da Petrobrás, foi por haver recebido sinais nesse sentido, da equipe econômica ou do Palácio do Planalto. O que dizer da explosão do presidente Lula, logo depois, chamando a idéia de abominável, capaz de desarticular o mercado de ações?
É preciso prospectar o episódio mais a fundo. Alguém, no governo, estimulou o ministro do Trabalho a engajar-se na proposta e, depois, exasperou o presidente da República no sentido contrário.
O resultado aí está: uma lambança dos diabos. O mínimo a supor é a existência de ministros ou altos funcionários interessados em desestabilizar Lupi, de olho no seu lugar para oferecer a aliados e correligionários.
Quem, depois de Celso?
Volta e meia percorre os corredores do Itamaraty o boato de que Celso Amorin estaria considerando encerrar antes de 2011 sua missão no governo. Já está superando o tempo de permanência do Barão do Rio Branco. Somados os dois anos em que exerceu o ministério de Relações Exteriores no governo Itamar Franco com os tempos de Lula, logo será o chanceler de mais trabalhos prestados ao País.
Fala-se apenas de boatos, porque nenhum sinal efetivo partiu do ministro, exceção ao período em que teve seu nome cogitado para a presidência da Organização Mundial de Comércio.
Dando asas à imaginação dos cisnes que navegam nos lagos de Brasília e do Rio, porém, vale especular: quem sucederia Celso Amorin? Poucas chances existem para o secretário-geral, Samuel Pinheiro Guimarães, e não será por seus mínimos defeitos, mas por suas muitas virtudes. É considerado nacionalista demais para os neoliberais que continuam dando as cartas no governo.
Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente Lula, não tem propensões a repetir Henry Kissinger ou Condoleezza Rice, lá em cima, que passaram de assessores superpoderosos a secretários de Estado. Além do mais, não é diplomata, condição que hoje impede até a designação de embaixadores fora da carreira, quanto mais chanceleres. Há quem faça apostas em Bernardo Pericás, atual embaixador em Cuba.
Fonte: Tribuna da Imprensa