Quando começa a contagem regressiva para a chegada da menstruação, sai de baixo. Às vezes, não dá nem para conversar. Falar de algum assunto mais sério, então... E ai de quem resolver fazer gracinha. A TPM mexe tanto com algumas mulheres que a sigla já ganhou apelidos mais criativos, digamos assim, que o termo Tensão Pré-Menstrual. “Tô Pra Matar” é um deles. Bem adeqüado para descrever esse verdadeiro tormento. Para elas. E para eles. Pois é, TPM também é assunto de homem. E como. A maioria, 84,4% deles, acredita que os sintomas típicos desse período interferem no seu namoro ou casamento. Coisa que muita mulher nem se dá conta. Só 54,6% delas afirmam perceber que isso ocorre. Os números são resultado do trabalho de uma equipe do Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas, São Paulo, com apoio do laboratório Bayer Schering Pharma. Com o objetivo de estudar um assunto que mexe tanto com os ânimos da maioria da população, foi realizada a pesquisa “Tensão Pré-Menstrual: perspectivas e atitudes de mulheres, homens e médicos ginecologistas no Brasil”. Retrato de um tema que muitas vezes é levado na brincadeira, mas que dá dor de cabeça em muitos homens. Tanto que eles resolveram até compartilhar suas experiências. No Orkut, site onde se acha de tudo um pouco, eles trocam idéias e discutem a questão. E para descontrair, já que o tema é tão irritante, vale até brincadeirinhas, como o concurso da namorada mais “braba”, lançado pela comunidade “Minha namorada tem TPM”. Um problema fácil de perceber. Difícil mesmo é saber como agir nesses dias. O estudante de relações públicas Filipe Vieira Romeiro de Melo, 21, titubeou até na hora de dizer como a namorada fica quando está “naqueles dias”. “Meu irmão# (pausa e risos). Ela fica dramática, exagerada e muito sensível. Tem que ter paciência”, disse, mencionando uma palavra mágica. Paciência. A namorada de Filipe é Mariana de Barros, 20 anos, que confessa: “Eu fico irritada. Insuportável”. Ela conta que sua TPM começa dez dias antes da menstruação. “Nesse período, o dia-a-dia me irrita. Eu reclamo de tudo. Qualquer coisa que aconteça a mais, eu faço uma tempestade em copo d’água”, contou Mariana. Namorando com ela há oito meses, Filipe já sentiu tudo isso na pele. Mas, nem sempre consegue contornar a situação. “Eu fico na minha, mais calado. Às vezes ajudo, dando manha, sendo mais paciente, mas nem sempre dá”, disse.
Situação árdua no trabalho
E imagine quem, além de tudo, ainda tem que lidar com a TPM da chefe e das colegas de trabalho. Uma tarefa árdua. E delicada. “Eles falam que tentam não levar para elas problemas maiores na época da TPM. Eles vão arrumando maneiras de sobreviver à TPM no trabalho”, disse o ginecologista, professor e coordenador da pesquisa Carlos Alberto Petta. Segundo ele, o estudo, feito em oito cidades brasileiras (no Nordeste, foram contemplados os municípios baianos de Salvador e Camaçari), reflete o que ocorre com homens e mulheres das regiões metropolitanas do país. O designer pernambucano Christiano Duhy, 30, vive cercado por 14 mulheres na empresa onde trabalha. Definindo seu temperamento como “linear”, ele diz que dá para perceber quando uma ou outra está mais irritada que o normal. Difícil é saber quando o motivo é a TPM. Por via das dúvidas, ele diz que tenta manter a linha. “Minha reação é a mais diplomática possível. Procuro recuar, falar menos, pisar em ovos para evitar atritos”. Já na vida pessoal, “a TPM da minha namorada, Poliana, é invencível. Ela supera a TPM das mulheres com quem trabalho. Ela é muito brava. Você não tem idéia. É como tentar irritar uma gata que não está a fim de brincadeira. É arranhão na certa”, enfatizou. Sobreviver. Como bem disse o ginecologista Carlos Alberto Petta, tanto na vida pessoal quanto na profissional, talvez seja essa a meta dos homens naquela época crítica das mulheres: escapar ilesos da TPM delas.
Haja paciência para suportar as crises
Nem bandidos nem mocinhos. Tudo bem que 80% das mulheres que participaram da pesquisa têm ou já tiveram TPM. Tá certo que na hora da irritação, sobra para eles mesmo. Mas tem muito homem que também não sabe o que é Tensão Pré-Menstrual e não tem idéia do que fazer para ajudar. Na verdade, eles pensam que são mais compreensivos do que as mulheres acham que eles são. A maioria, 62,1% dos homens entrevistados disse que consegue entendê-las sem brigar. Percentual que desceu para 54,8% na opinião delas. Enquanto isso, 39,4% dos homens saem de perto ou são indiferentes e 11% ficam irritados e sem paciência. Para ajudar os homens, o ginecologista e professor da Universidade Estadual de Campinas Carlos Alberto Petta dá a dica de como agir durante a TPM. De acordo com o especialista, o primeiro passo é ajudá-la a identificar se o que ela tem é Tensão Pré-Menstrual. “Muitas mulheres não de se dão conta de que estão estressadas, irritadas e com dores porque estão na TPM”, disse. O segundo passo é estimular a mulher a procurar ajuda. Na maioria das vezes, mudar o comportamento, aliando uma alimentação mais saudável a exercícios aeróbicos, ajuda muito. Tente reduzir o sal, o álcool, o café e o chocolate consumidos, por exemplo. Já no caso de 7% a 10% das mulheres que menstruam - aquelas que têm a forma grave da TPM, chamada de transtorno disfórico pré-menstrual - é preciso recorrer a remédios. A terceira orientação para os homens é perguntar às mulheres o que elas acham que deve ser feito nesse período para saber se preferem ficar quietas ou querem conversar sobre o assunto, por exemplo. O quarto, último, mais importante e, talvez, mais difícil passo é ter paciência. Afinal, conseguir segurar a barra nem sempre é fácil. Que o diga Anderson Luiz Rodrigues Esteves, 26, noivo da estudante Luciana Mendonça, 19. “Ela fica estressada até a alma. Fica irritada com tudo. Eu tenho que entender que ela está passando por esse período. Faço carinho, dou um presentinho, uma flor, a levo para o cinema ou à praia. Tento descontrair, disse.Luciana reconhece que fica “atacada” nesse período, mas não acha necessário procurar ajuda médica. Assim como ela, 61,4% das mulheres que participaram da pesquisa nunca buscaram atendimento médico por causa desses sintomas. Atitude que poderia ajudar muitas delas. “Na maioria das vezes, a TPM pode ser amenizada. Em alguns casos, com suporte médico e psicológico, os sintomas podem desaparecer. Mas, o apoio masculino já ajuda a amenizar a situação”, afirmou o ginecologista responsável pelo ambulatório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas, Cláudio Leal Ribeiro.
Fonte: Tribuna da Bahia