BRASÍLIA - O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que nunca concordou com os métodos usados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e garantiu ter prestado apenas uma "ajuda humanitária" a Olivério Medina, ex-representante da organização narcoguerrilheira no Brasil, em 2006. Ele disse que só assim pode entender a inclusão de seu nome em um e-mail trocado entre Medina e o líder guerrilheiro Raúl Reyes, morto em março num ataque do Exército colombiano contra seu acampamento, no Equador.
Ex-seminarista, Carvalho contou que ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi procurado por representantes da Igreja com um documento assinado pelo procurador da República Luiz Francisco Fernandes Souza, relatando a péssima situação carcerária de Medina. O ex-dirigente da Farc e ex-padre estava detido no presídio da Papuda, em Brasília.
O argumento usado para convencer Carvalho a interceder no caso era de que Medina, com problemas de saúde, não tinha direito a banhos de sol e estava detido com presos comuns. "Eu liguei, então, para a Secretaria de Direitos Humanos. Foi só isso", afirmou o assessor de Lula.
Carvalho disse não ter qualquer preocupação com a menção de seu nome no caso e repetiu que sua relação com a guerrilha é "zero". "As Farc tiveram lá atrás a oportunidade de fazer a escolha pela luta democrática, como o PT fez, a Frente Ampla do Uruguai fez, Evo Morales e Hugo Chávez fizeram. Mas elas acabaram completamente isoladas", comentou o chefe de gabinete da Presidência.
Silvano Heck, assessor de Carvalho também citado no e-mail, confirmou que a única proximidade entre o governo Lula e a guerrilha colombiana foi o contato de entidades de direitos humanos sobre as condições de detenção de Olivério Medina. "Foi apenas um gesto de apoio a um preso", argumentou Heck.
Na época, a Secretaria Especial de Direitos Humanos também recebeu denúncia da Cruz Vermelha e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), segundo a qual Medina estava detido na Papuda com traficantes e outros criminosos. De acordo com Heck, as entidades que procuraram o Planalto queriam que o ex-padre fosse transferido para uma "prisão compatível".
Em nota divulgada ontem, a Associação Nacional dos Procuradores da República defendeu Luiz Francisco, citado em um dos e-mails trocados entre integrantes das Farc e considerou "injustas" as insinuações de que ele estaria ligado à guerrilha colombiana.
"A Associação esclarece que o contato do procurador regional da República com o padre Francisco Cadena (Olivério Medina) se limitou a visita realizada em nome da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão à penitenciária na qual o sacerdote estava preso", destacou o texto.
"Na ocasião, o procurador regional da República, atento à função do Ministério Público de defesa dos direitos fundamentais, encaminhou relatório à Vara de Execuções Criminais de Brasília para que reconhecesse o direito do prisioneiro a uma hora diária de sol, pois estava limitado a uma hora por semana."
Fonte: Tribuna da Imprensa