terça-feira, julho 22, 2008

PF vai investigar denúncia de delegado

Protógenes será chamado para depor sobre acusação de que superiores obstruíram investigações
SÃO PAULO - A Polícia Federal vai abrir inquérito para investigar as denúncias do delegado Protógenes Queiroz, que acusa a cúpula da instituição de ter obstruído a Operação Satiagraha. A PF avalia que Protógenes cometeu um "grave erro" ao acusar superiores de o terem isolado no instante crucial da missão que levou o banqueiro Daniel Dantas para a cadeia.
O delegado será chamado para depor e terá que provar o que apontou em representação de 16 páginas entregue quinta-feira à Procuradoria da República. Se não provar, poderá ser enquadrado por denunciação caluniosa - crime contra a administração pública a partir de revelações contra alguém que sabe ser inocente.
A operação foi desencadeada dia 8 e levou à prisão 18 pessoas - além de Dantas, controlador do Grupo Opportunity, foram capturados o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta, empresários e doleiros envolvidos em suposto esquema de desvio de recursos públicos, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Protógenes saiu do caso sexta-feira. Oficialmente, ele deixou Satiagraha para fazer o Curso Superior de Polícia, em Brasília.
Sua representação está sob análise do procurador da República Roberto Diana, que expediu ofícios aos delegados Roberto Troncon, chefe da Divisão de Combate ao Crime Organizado, Paulo de Tarso Teixeira, chefe da Divisão de Combate a Crimes Financeiros, e ao superintendente regional da PF em São Paulo, Leandro Daiello Coimbra, aos quais solicita informações sobre Satiagraha e cópia integral da gravação do encontro em que Protógenes teria admitido a necessidade de deixar a investigação para fazer o curso.
Em sua nova rotina de estudante, Protógenes almoçou ontem um prato feito no Lê Franguito, modesto restaurante na Praça de Alimentação do Flamingo Shopping, à margem da BR-020. O curso se prolongará até 22 de agosto e é requisito obrigatório para ascensão à classe especial, último degrau da carreira. Ele tentou se passar por anônimo, mas não conseguiu. Localizado pela imprensa, voltou às pressas para a Academia Nacional da PF.
Mal saiu do caso e já entrou na mira de advogados de defesa dos alvos de Satiagraha. Ontem, os criminalistas Alberto Zacharias Toron e Renato Marques Martins, defensores do consultor Rodrigo Bhering Andrade, ingressaram com representação contra Protógenes perante a Corregedoria da PF. Os advogados pedem procedimento disciplinar contra o policial, sob alegação de que Andrade, que trabalhou para o Opportunity, atendeu intimação para ser interrogado dia 14, mas o delegado não estava.
Na sexta-feira, 18, "de forma surpreendente", o escritório de advocacia recebeu ligação da PF pedindo comparecimento imediato de Andrade porque o delegado pretendia relatar o inquérito. "A pressa ou obrigação de relatar o inquérito em tão exíguo prazo não pode atropelar o bom senso. Pior: não pode permitir que se conduza o inquérito com deslealdade e dano para o investigado", protesta Toron.
Fonte: Tribuna da Imprensa