Atriz faleceu ontem, no Rio, vítima de infecção pulmonar
Da Redação
Morreu ontem, às 16h45, a comediante Dercy Gonçalves. Aos 101 anos, a atriz foi internada na madrugada de sábado no Hospital São Lucas, em Copacabana e levada para o Centro de Terapia Intensiva (CTI) com grave pneumonia, quadro que se agravou mais tarde para uma in fecção pulmonar e insuficiência respiratória. O velório da atriz acontece hoje na Assembléia Legislativa. O Governo do Estado decretou luto oficial de três dias. Em Madalena, sua cidade natal, haverá luto de sete dias e as festividades em homenagem à padroeira foram interrompidas. A atriz deixa a filha Dercimar Senra.
– Não posso enterrá-la sem seus colares e paetês e tenho que colocar o samba da Viradouro em sua homenagem – contou Dercimar.
Querida na classe artística, a morte da atriz que afirmava: "Só vou morrer quando eu quiser", comoveu colegas de profissão.
– Ela não acreditava na velhice e sempre pensou num final de vida honroso. Vai-se a Dercy, ficam os palavrões mais carinhosos – disse o ator Ary Fontoura.
Figura carimbada de quadros de humor, Dercy fez parte da história do teatro e do cinema nacional, atuando ao lado de ícones como Oscarito. Batizada com o nome Dolores Gonçalves Costa, ficou conhecida como Dercy Gonçalves depois de deixar sua cidade natal para seguir a carreira artística. Sua irreverência era marca registrada, além de ter sempre na ponta da língua um palavrão para seus interlocutores.
Nascida em junho de 1907 em Santa Maria Madalena, na Região Serrana do estado, a atriz já mostrava na adolescência que não seria fácil de controlar. Aos 17 anos, fugiu de casa atrás da companhia de teatro Maria Castro.
De família pobre, Dercy viu sua mãe sair de casa depois de descobrir a infidelidade do marido. Filha do alfaiate Manoel Costa e da lavadeira Margarida, começou a trabalhar nova e criança já manifestava interesse pelas artes. Conseguiu emprego no único cinema da cidade, mas na bilheteira. Além disso, chegou a fazer apresentações para hóspedes dos hotéis de Madalena e cantava no coral da igreja. Apesar de não ter apoio da família conseguiu construir uma longa trajetória nos palcos.
Em 1929 estreou em Leopoldina (MG) integrando o elenco da companhia que a fez sair de casa em busca do teatro. A especialidade cômica da atriz ficou em evidência ainda na década de 30, participando do auge do teatro de revista. Em 1960 começou a viajar com espetáculos onde permanecia sozinha no palco contando casos autobiográficos e, mesmo numa época onde o moralismo se fazia presente, a comediante conquistou o público. Com o sucesso, atuou em conhecidas chanchadas do cinema brasileiro.
Dercy chegou a ser a atriz mais bem paga da categoria quando fez parte do elenco da extinta TV Excelsior, em 1963. Trabalhou na TV Rio e, na Rede Globo, apresentou os programas Dercy espetacular e Dercy de verdade (entre os anos de 1966 e 1969), conquistando números de audiência até então nunca vistos na emissora. Apesar do sucesso obtido, o programa foi tirado do ar com a censura que assolava o país. Ainda na Globo fez parte do elenco da novela Que Rei sou eu?.
Já com 80 anos, a atriz teve que voltar ao batente, depois de sofrer um golpe de seu empresário que a deixou com dificuldades financeiras. Dercy esteve presente em inúmeras homenagens prestadas pela sua história. Em 1985, recebeu o Troféu Mambembe. Em 1991 viu sua história contada no desfile da escola de samba Viradouro, de Niterói, como enredo da agremiação. Como não poderia deixar de ser, causou polêmica ao desfilar no último carro com os seios a mostra. Sua história ainda foi contada pela escritora Maria Adelaide Amaral, com a biografia Dercy de cabo a rabo.
Dercy participou da construção de seu mausoléu, no cemitério de Madalena, onde deve ser enterrada amanhã. Fonte da curiosidade de turistas, tem forma de pirâmide, todo em mármore e cristal e virava piada nas palavras de Dercy. A cidade também abriga um museu em homenagem à atriz, com acervo que conta a sua história.
Fonte: JB Online