Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Muitas alterações poderão acontecer nos percentuais das pesquisas agora produzidas em série a respeito das eleições para as prefeituras das capitais. Quem ocupa hoje a pole-position poderá, muito bem, passar para o fim da fila. Nem na boca de urna essas consultas podem merecer credibilidade integral.
Feita a ressalva, porém, importa registrar um fator no mínimo significativo: os candidatos dos governadores, fora raras exceções, estão sendo rejeitados pelo eleitorado. Tomem-se apenas três das maiores capitais.
Em São Paulo, o candidato do governador José Serra apanha de goleada dos candidatos que se opõem a ele, Marta Suplicy, abertamente, e Geraldo Alckmin, meio enrustido. Não há como desvincular Gilberto Kassab do Palácio dos Bandeirantes, e será por mera coincidência que o atual prefeito não conseguiu emplacar até hoje?
No Rio, Eduardo Paes, candidato do governador Sérgio Cabral, ainda não disse a que veio. Perde para o senador Crivela e para Jandira Feghali, não valendo o argumento de que tudo vai mudar quando começar a propaganda eleitoral gratuita, em agosto. Afinal, as telinhas também estarão à disposição dos adversários.
Em Belo Horizonte, a mesma coisa. Apesar de sua popularidade, o governador Aécio Neves não conseguiu transferi-la para Márcio Lacerda, mesmo ajudado pelo prefeito Fernando Pimentel. Jô Moraes ganha de lavada e não será por questões ideológicas, porque, se ela pertence ao PC do B, Márcio Lacerda é do Partido Socialista.
Multipliquem-se esses números por outras capitais e se concluirá que não vão bem os candidatos dos governadores. Por que será?
A mesma lista de sempre
Prepara-se o vice-presidente José Alencar para nova investida contra a alta dos juros, prevista para a próxima reunião do Copom. Mesmo sendo o mais fiel aliado do presidente Lula, seu substituto não perdoa. Julga suicida a política do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, até porque, a alta dos juro já se reflete nas atividades econômicas, da indústria ao comércio e aos serviços. Só ganham as iniciativas financeiras, ou seja, os bancos.
O presidente Lula tem demonstrado compreensão e tolerância diante das críticas de seu vice, mas como o país acaba de entrar em fase mais aguda do período eleitoral existe no Palácio do Planalto e adjacências altos auxiliares sustentando a necessidade de uma réplica á altura do comportamento de Alencar.
Seria bom que desistissem, porque a reação poderá ser aquela do "não vem que não tem". Sabe o vice-presidente que a equipe econômica gostaria de vê-lo pelas costas, mas, como dispõe da democracia a seu favor, não imagina recuar. Tem mandato fixo, até dezembro de 2010, enquanto Guido Mantega, Henrique Meirelles e penduricalhos podem ser demitidos a qualquer momento.
O círculo se estreita
Engana-se quem aposta todas as fichas na candidatura de Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula, pelo PT. O chefe do governo empresta seu apoio declarado a ela e até supõe que poderá transferir-lhe sua popularidade. Mas nem por isso considera completado o quadro sucessório, com Dilma de um lado e José Serra, de outro.
Afastando-se por cautela a tentação de voltar a falar no terceiro mandato, que fica para outro dia, a verdade é que existem opções para o presidente Lula. Uma delas chama-se Ciro Gomes, que tem recebido estímulos para não ensarilhar as armas. Precisará impulsionar por conta própria sua candidatura, com base inicial no PSB e pequenos partidos, mas, se lá para o fim do ano que vem mantiver a chama acesa poderá receber um belo presente de Papai Noel.
Tudo dependerá, é claro, da performance de Dilma, primeiro, e de uma espécie de enquadramento do PT, depois. Os companheiros resistem a dividir o poder, atentos para o fato de que se o Lula é maior do que eles, qualquer presidente não petista será maior ainda. Há, entre seus dirigentes, quem defenda a inclusão de outras hipóteses saídas do âmbito partidário, como os ministros Tarso Genro e Patrus Ananias.
Entre tantas ilações, emerge uma realidade: conhecidos os resultados das eleições de outubro, a situação se modificará. Caso o PT consiga eleger razoável número de prefeitos, com ênfase para as capitais estaduais, Ciro Gomes se enfraquecerá. E Dilma Rousseff, por mais estranho que pareça, que se cuide...
Estava certo, sim
Não tinha o ministro Celso Amorin, das Relações Exteriores, nada que desculpar-se e dar o dito pelo não dito quando comparou as nações ricas a Joseph Goebbels, aquele que tempos atrás sustentou tornar-se verdade uma mentira muitas vezes repetida. Não praticam outra ideologia senão a do nazismo, esses países que pela força econômica e até pela força das armas impõem seus interesses ao resto do mundo. O problema é que dominam a opinião publicada, nos cinco continentes. Se não for a opinião pública.
Para os ricos, retirar os subsídios que dão a seus produtos agrícolas, mesmo em pequena parcela, só se os países emergentes abrirem completamente as fronteiras para o ingresso de seus produtos industrializados. Matariam de vez o desenvolvimento de dois terços do planeta, transformando-os em meros produtores de grãos e sucedâneos, cujos preços controlariam.
Chama atenção a reação desmedida de dona Susan Schewab, chefe da delegação dos Estados Unidos à nova rodada de Doha. Ela fez questão de ser rotulada como filha de sobreviventes do Holocausto, ou seja, reapresentando uma conta amarga e inesquecível, mas saldada há décadas com a pulverização do nazismo.
A menos que no país de adoção de seus pais a doutrina de Goebbels tenha adquirido novas cores. O que as nações ricas praticam contra o resto do mundo faria a felicidade de Hitler e sua quadrilha. E com a agravante de que o novo Holocausto, agora, não atinge apenas o bravo povo de Israel, mas quem não pertencer aos países desses novos cultores do nazismo.
Fonte: Tribuna da Imprensa