Karla CorreiaLuciana Abade
BRASÍLIA
Em sessão com raro nível de comparecimento de parlamentares, o governo movimentou sua base na Câmara e conseguiu barrar as convocações de Naji Nahas, Luiz Eduardo Greenhalgh e Luiz Gushiken na CPI dos Grampos. Com isso, bloqueou a investida da oposição que pretende aproveitar a crise gerada pelos desdobramentos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, para ampliar o foco das investigações da comissão parlamentar e aproximar as investigações do Palácio do Planalto. A articulação do governo também adiou para hoje a votação do requerimento de convocação do banqueiro Daniel Dantas que, mesmo se aprovada, só deve acontecer depois do recesso parlamentar.
A estratégia da bancada governista é esperar o esfriamento da crise e ganhar tempo de articulação no Congresso – onde é notória a extensão dos contatos políticos de Daniel Dantas – antes da eventual oitiva do empresário. Normalmente esvaziado, o plenário da CPI estava lotado para o embate entre a ala menos interessada em convocar Dantas e os autores dos requerimentos com mira direta no Planalto. Diante da investida da oposição, a bancada governista partiu para a intimidação e pediu as convocações de Pio Borges, Pérsio Arida e Luiz Carlos Mendonça de Barros, personagens de destaque na privatização do Sistema Telebrás, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, e fechou o cerco contra a convocação de Dantas.
– Seria um absurdo sair do foco das investigações da CPI, que trata de separar as escutas legais das ilegais – argumentou a deputada Iriny Lopes (PT-ES). – Vamos deixar as disputas de ordem político-partidária e nos ater ao tema da comissão.
– Essa CPI tem como objetivo apurar escutas telefônicas no país e não podemos nos afastar do objeto dessa comissão, mas as se outros fatos vierem a surgir, devem ser encaminhados às autoridades competentes – redargüiu o presidente da comissão, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ).
Defesa de Greenhalgh
Coube ao relator da CPI, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA) a articulação do acordo que blindou o advogado de Dantas e ex-deputado pelo PT de São Paulo Luiz Eduardo Greenhalgh, cujos contatos com o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, levaram o caso Dantas para dentro do Palácio do Planalto. As conversas entre Greenhalgh e Carvalho, suspeito de tráfico de influência, foram tema de reunião da Coordenação Política na segunda-feira.
– O problema é que se fosse encarar a resistência do governo e insistir na votação dos 17 requerimentos apresentados, nenhum seria aprovado – explicou Fruet. –O pedido de oitiva para Daniel Dantas foi mantido porque ninguém, a esta altura dos acontecimentos, se atreveria a votar contra esse requerimento específico. Seria como assinar uma ficha de inscrição na "Bancada de Dantas".
A CPI do Grampo deve votar hoje as convocações de Daniel Dantas e dos delegados Protógenes Queiróz – afastado ontem da Operação Satiagraha – e Romero Menezes, coordenador da Operação Chacal, além dos juízes Fausto de Sanctis e Flávia de Toledo.
Fonte: JB Online