quarta-feira, junho 18, 2008

Pobres e classe média põem fogo na inflação

TRIBUNA DA BAHIA Notícias
O governo federal e a equipe econômica tomaram um susto, com as projeções do mercado para a inflação até o final do ano, com o marcador sinalizando 6%, ou seja, fora da meta estipulada pelo Banco Central, 4,5%. Mesmo que se considere a variação de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo, seria uma resultado que fugiria ao controle do ambiente inflacionário. Mas pela primeira vez vem a tona um dado importante, além dos preços dos alimentos, gerados no ambiente internacional, com o aumento do consumo na China, a escalada de alta do petróleo, que contamina todos os outros preços, e a redução da oferta de grãos, por conta do Etanol, produzido pelo milho, as classes C, D e a média estão gastando em demasia. No caso do maior poder aquisitivo, o fato está estampado no crescimento vertiginoso do mercado imobiliário, a excepcional venda de automóveis e eletrodomésticos Com o real valorizado frente ao dólar, que tem oscilado entre R$1,63 e R$1,64, o crescimento do emprego, a fartura de crédito, e os ganhos de renda têm ajudado a uma alta dos preços dos serviços, segmento que concentra os prestadores da classe C e D. Estão nessa lista serviços de conserto de transporte escolar (alta de 3,54% de janeiro a maio de 2008), estacionamento (3,16%), médicos e dentários (3,47%), costureira (3,30%), academia de ginástica (4,34%) e natação (2,93%). Fazer as unhas passou a custar 4,58% mais neste ano. No salão de beleza, o recordista na alta de preços foi depilação (7,73%). O serviço superou o reajuste do hotel -5,07%. O aumento mais expressivo, porém, ficou com os ingressos de jogos esportivos -33,73%. Todos subiram acima do IPCA -2,88% de janeiro a maio. Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de índices de preços do IBGE, há um “claro movimento de alta, especialmente dos serviços pessoais”. “Existem duas influências importantes: o reajuste do salário mínimo e mais recentemente a alta dos preços dos alimentos. Para quem é autônomo, a alimentação é muito sentida no orçamento, e a tendência é que se tente repassar os aumentos para o custo dos serviços”, diz. A economia aquecida, diz, propicia os repasses. “No caso de serviços como manicure, cabeleireiro, costureira, o consumidor é mais fiel. Não troca facilmente. Assim, o repasse é mais fácil. Os clientes aceitam mais os reajustes.”(Por Gerson Brasil - Editor de Economia)
Repasse de custos em alta
Para Carlos Thadeu de Freitas Filho, da SLW Corretora, a economia aquecida “dá sustentação aos repasses de custo”, o que abre espaço para o reajuste dos serviços. Essa tendência, diz, é mais notada em serviços nos quais o peso da mão-de-obra é maior e cuja expansão do consumo está atrelada ao aumento da renda. É o caso típico dos serviços do salão de beleza. Quando perguntado se os pobres e a classe média estão pondo fogo na inflação, o economista Armando Avena, ex-secretário do Planejamento, afirma que sim e diz que a situação tende a se agravar, mas ressalta que por outro lado a economia do país também cresce de maneira surpreendente, como mostrou o último dado sobre o PIB. Crescimento de 5,8% no primeiro trimestre, em comparação com igual período de 2007. Na sua opinião, é possível crescer com a inflação em alta, num ambiente de disponibilidade de crédito, valorização da renda e do emprego. Ele chama a atenção para o aumento dos investimentos produtivos no país, que estão situados na marca dos 15%, além da safra de grãos que o Brasil vai colher Segundo estimativas da Companhia nacional de Abastecimento, Comab, a produção nacional de grãos na safra 2007/08 baterá um novo recorde, a estimativa é de uma produção de 140,8 milhões de toneladas. Um aumento de 6,8% em relação ao período anterior, que foi de 131,7 milhões de toneladas (aumento de 9,2 milhões de toneladas). Mesmo com um ambiente de agricultura favorável, os discursos do governo federal de que o crescimento econômico do país é sustentável, na prática o aumento da demanda tem provocado o recrudescimento da inflação. Para tornar o cenário mais conturbado, a aprovação da CSS, a nova CPMF, trará um repasse de preços automaticamente por parte das empresas. Avena acredita que esse imposto vai impulsionar ainda mais a inflação, num momento em que o governo tenta, através da subida dos juros, se antecipa a uma progressiva expansão descontrolada dos preços.

Fonte: Tribuna da Bahia