Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Se não mudou de idéia ou de propósitos, o presidente Lula reúne hoje líderes e dirigentes dos diversos partidos da base oficial para ver se bota ordem na, com todo o respeito, bacanal partidária iniciado em função das eleições municipais de outubro. Porque, com raras exceções, na maioria dos estados não se repete a aliança responsável por dar governabilidade à atual administração federal no Congresso. É aquela história da irreverente música dos saudosos Mamonas Assassinas, relatando ampla festa livre de preconceitos. Tem gente, ou melhor, partidos, que só se deram mal desde que a música começou.
Alguns auxiliares palacianos achavam, ainda ontem, que o Lula deveria lavar as mãos e deixar que a natureza siga o seu curso. Traduzindo: tentar conciliar o inconciliável só lhe trará prejuízo e dor de cabeça.
O PT, não propriamente o partido do governo, mas um dos partidos do governo, debate-se, estrila e protesta sempre que sugestões chegam ao seu comando para aceitar candidatos de outras legendas às prefeituras das principais cidades. Se pudessem, os companheiros indicariam seus filiados nas 26 capitais dos estados, forma de tentarem demonstrar independência na sucessão de 2010. Mesmo para perder, os dirigentes nacionais do PT insistem em candidaturas próprias.
O PMDB, de seu turno, sabe que se for marginalizado nas alianças, como vem sendo, corre o risco de deixar de se constituir no partido com maiores bancadas na Câmara e no Senado, daqui a dois anos. Legendas médias, como o PTB, o PP, o PR e o PDT, conformam-se em não apresentar candidatos em muitos estados, mas desde que indiquem os pretendentes às vice-prefeituras, situação capaz de satisfazer a um, desagradando os demais. Quanto aos pequenos partidos, entre seguir a reboque ou a marcar posição perdendo, hesitam e querem, ao menos, saber quais as compensações.
Em suma, a aliança no plano nacional desfaz-se nos estados e ameaça minar as estruturas no Congresso, onde os anos de 2009 e 2010 serão cruciais para o Palácio do Planalto.Está o presidente Lula na situação daquele indigitado cidadão que se ficasse o bicho comia, mas se corresse o bicho pegava. No caso, o bicho é a fragilidade de seu esquema parlamentar, ainda na semana passada expressa na escassa maioria de dois votos para a aprovação da CSS, na Câmara. A montagem da estratégia começou vulnerável, cinco anos e tanto atrás, quando José Dirceu liderou a formação de maioria através do mensalão e outros expedientes.
Acostumaram-se todos os partidos à Oração de São Francisco, aquela do "é dando que se recebe". Agora, percebem estar em jogo a própria sobrevivência, caso não busquem afirmar-se através das urnas municipais. Para continuarem fazendo valer suas cartas no jogo do poder, necessitam de vitórias nas escolhas dos prefeitos das principais cidades do País. Trata-se de peculiaridades de um regime dominado pelo mercantilismo político.
O dia é hoje
Em termos culturais, o futebol suplanta a política, entre nós. Hoje, em Belo Horizonte, haverá um acoplamento. O selecionado brasileiro enfrenta o argentino numa situação no mínimo inferiorizada. Espera um milagre o time do Dunga, aliás, os times, porque desde sua designação para técnico jamais colocou duas vezes em campo a mesma equipe, que mais parece o PT às vésperas das eleições de outubro para as prefeituras das capitais.
Minas sempre se pautou pela cautela, mas, se nos primeiros quinze minutos da partida permanecer aquele joguinho apresentado nas partidas com a Venezuela e o Paraguai, nossos craques que se preparem para intensa saraivada de vaias.
Aqui a política irá misturar-se outra vez ao futebol. E se o presidente Lula estiver presente, como prometeu ao governador Aécio Neves? Tempos atrás, no Maracanã, o chefe do governo viu-se presa da maior de suas frustrações diante dos apupos dos irreverentes cariocas, aqueles que vaiam até minuto de silêncio, no dizer do saudoso Nelson Rodrigues.
Qualquer manifestação negativa no Mineirão, hoje, atingirá o Lula na moleira, em especial por conta dos aplausos que vem recebendo em todas as cidades por onde passa anunciando o PAC. Não poderá repetir a performance, até porque, não lhe será oferecido qualquer microfone. Vamos aguardar, com os nervos à flor da pele, porque lá não estaremos, nem no gramado, nem na tribuna de honra.
Injustiça
Trata-se de injustiça comentar que as mulheres estão em baixa, na política, por conta da blitz desencadeada contra Dilma Rousseff, mais as trapalhadas no governo Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, ou a prisão do filho da governadora Wilma Maia, do Rio Grande do Norte.
Papelão muito maior têm feito os homens, tornando-se desnecessário referir quais e quantos, nos governos estaduais e em Brasília. Condenar ambos os sexos em função de suas lambanças no trato da coisa pública será loucura, mas, pelo jeito, logo se iniciará um movimento singular dos gays, lésbicas e penduricalhos, achando que chegou a vez deles...
Depende de cada juiz
Mesmo decidindo que o registro de candidaturas às eleições de outubro só poderá ser negado aos pretendentes condenados pela Justiça, com sentença transitada em julgado, existem no Tribunal Superior Eleitoral ministros que pensam diferente. Os juízes eleitorais de primeira instância assim como os Tribunais Estaduais Eleitorais poderão, a seu critério, impedir que malandros notórios se candidatem.
Serão decisões subjetivas, sujeitas a recursos a instâncias superiores, que acabarão por chegar ao TSE, para a sentença definitiva. A Constituição consagra cidadãos de reputação ilibada e vasto saber jurídico, para que sejam nomeados para tribunais e outras funções específicas. Por que não se adotaria o oposto, ou seja, rejeição para cidadãos de abominável reputação e nenhum escrúpulo?
Fonte: Tribuna da Imprensa