Por Silvana Blesa
Foi a maior chacina registrada na Bahia. Sete pais de famílias, todos trabalhadores sem qualquer tipo de envolvimento com a criminalidade, pagaram com suas vidas pela ira dos traficantes que vivem disputando poder do tráfico na região de Mussurunga e São Cristóvão. O vendedor de queijo Evanildo Nascimento Santana, de 28 anos; o segurança Rodrigo Conceição, 25; o vendedor Luís Carlos Conceição, 31; o segurança Alcides Magalhães, 37; o pedreiro Luiz Carlos Silva dos Anjos, 32; o frentista Eraldo Pereira Lima, 25; e o porteiro Gessildo Nascimento Oliveira, 45 anos, foram fuzilados e morreram na hora. O encanador Gildo Azevedo da Silva, de 32 anos, e o vigilante Aderivaldo dos Santos Cerqueira, 34 anos, foram baleados nas costas. Eles foram atendidos no Hospital Geral do Estado, HGE, e liberados. A chacina ocorreu por volta de 21 horas de sábado, na Baixinha de Mussurunga, ou Baixa da Adutora como também é conhecido o local, praticada por um bando chefiado por um homem conhecido como “Jerry Adriano”, que queria vingança. Ele invadiu o bairro para matar um rival que teria baleado um elemento de sua quadrilha na semana passada, lá mesmo na Baixinha. Além de matar sete inocentes, a quadrilha saqueou moradores do local. A população está apavorada, temendo novos ataques. O medo é tão grande que as pessoas ouvidas pela reportagem pediram para ficar no anonimato. Temem ser identificadas e mortas. Eram 21 horas de sábado quando 15 homens fortemente armados invadiram a Baixinha de Mussurunga e espalharam o pânico, medo e terror. Entraram no “Bar da Sol” e em um boteco vizinho, onde grupos de amigos, moradores do bairro se divertiam jogando dominó e tomando cerveja, como era de costume. Os assassinos ordenaram que os homens se deitassem no chão, com as mãos nas cabeças, e começaram a atirar. O massacre durou mais de dez minutos. Sete pessoas morreram na hora. Dois rapazes conseguiram fugir, mas foram baleados. Parentes e amigos tentaram socorrer os baleados, mas entraram em desespero ao verificar que não havia mais nada a fazer. Estavam mortos. Uma mulher chorava a perda de três pessoas da mesma família. Ela revelou que seu padrasto Eraldo, o primo Rodrigo e o tio Luís Carlos Conceição, estavam tomando cerveja e jogando dominó juntamente com um grupo de amigos, quando os matadores chegaram, armados com escopetas, metralhadoras e pistolas. Todos usavam boné e sem máscara, se aproximaram dos bares e ordenaram que os homens se levantasse para serem revistados. Verificaram que as vítimas não estavam armadas e não seriam as pessoas que procuravam. Mas, “para não perder” a viagem, obrigaram que os homens se deitassem no chão e os executaram. O primeiro a morrer foi o segurança Alcides Magalhães, que trabalhava há um mês na Estação de Mussurunga. Ele tinha acabado de jogar uma partida de dominó e seguiria para o trabalho quando foi abordado pelos assassinos, que perguntaram se ele era policial. Disse que não, mas foi alvejado com vários tiros. Evanildo estava no boteco ao lado do “Bar da Sol” e foi morto com três tiros disparados por um dos bandidos que nem fez questão de olhar para a vítima. “Eles entraram no bar e quando saíam para o outro estabelecimento, um deles virou a arma para trás e atirou a esmo. Os três tiros acertaram meu amigo, que tinha acabado de chegar ao local”, disse um rapaz. O porteiro Gessildo, que trabalhava em um condomínio no bairro da Pituba, estava se despedindo dos amigos para ir trabalhar quando os matadores chegaram e não teve tempo de sair. Depois de praticar o massacre, os assassinos roubaram celulares, dinheiro e documentos das vítima e saíram andando tranqüilamente pela rua.
Uma matança anunciada
; Uma disputa por domínio do tráfico de drogas pode estar ligada a rixa entre os assassinos e bandidos que se escondem na Baixinha de Mussurunga. Sem se identificar familiares das vítimas contaram que duas semanas antes, os matadores foram no mesmo bar a procura de elementos que teriam invadido o território rival e executado uma pessoa ligada aos criminosos, mas os procurados não estavam no estabelecimento. Na semana passada, o mesmo bando com 10 homens armados esteve pela segunda vez no bar, mas também não encontrou os rivais. “O som estava ligado, e as pessoas jogando dominó e bebendo. Eles (os matadores) entraram e revistaram o ambiente, mas não encontraram quem procuravam. Mandaram que o som continuasse ligado, e disseram aos clientes que não ficassem com medo, e saíram sem fazer nada”, revelou. Durante o dia de sábado, os mesmos bandidos mandaram recados para os moradores, avisando que retornariam durante a noite e se não achassem quem procuravam, quem fosse encontrado na rua morreria. Apavorados com as ameaças, os moradores do local entraram em contato com a polícia e avisaram que corriam risco de morte”, afirmou um líder comunitário, especulando que “essas mortes poderiam ter sido evitadas, se a polícia tivesse atendido aos nossos diversos telefonemas. Agora a tragédia já foi feita e os marginais estão ai, soltos. Enquanto nós trabalhadores, vivemos trancafiados em casa, temendo até mesmo falar sobre o crime”, denunciou.
Delegado-chefe promete elucidar
; Na noite do crime, o delegado plantonista Luis Henrique Costa Ferreira, da 12ª delegacia (Itapuã) esteve no local para fazer os levantamentos cadavéricos. Mas durante o dia de ontem na delegacia, apenas um único policial dava plantão, registrando as ocorrências. O agente não sabia dizer nada sobre a chacina, e explicou que a delegacia estava sem delegado para falar sobre o caso. No entanto, o delegado-chefe da Polícia Civil, Joselito Bispo, revelou que convocou agentes civis da Delegacia de Homicídios, 11ª D.P, além da 12ª para trabalhar exclusivamente no esclarecimento da chacina. “Estamos investigando minuciosamente, não podemos ainda revelar nomes. Mas já estamos trabalhando para prender os autores”, disse o delegado Joselito Bispo. Ele relatou que na semana passada houve um confronto entre dois grupos.
Fonte: Tribuna da Bahia