sábado, maio 31, 2008

Lula admite "remédio amargo" contra inflação

BELÉM - Às vésperas de mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para decidir o nível dos juros básicos da economia, hoje em 11,75%, e no mesmo dia em que o governo anunciou que aumentará a economia de recursos do orçamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou ontem que usará "remédio amargo", se for preciso, para evitar a volta da inflação.
"Estejam certos que nós, no governo, vamos fazer o sacrifício que tivermos de fazer para manter uma política fiscal responsável e não vamos gastar aquilo que não temos", disse, em discurso durante o 1º Fórum dos Governadores da Amazônia Legal.
De improviso, ele lembrou que, no passado, tinha de abrir a boca do filho caçula para dar remédio amargo. "Ele chorava, mas eu dava porque sabia que era necessário", contou. "Se a inflação voltar, ela vai quebrar o bolso do povo pobre e trabalhador", completou. "A gente não vai jogar o dinheiro fora, pois o Brasil precisa de 15 ou 20 anos de desenvolvimento sustentável para que a gente se transforme numa economia grande e definitivamente saudável."
Além de governadores, cerca de 1.200 pessoas, a maioria ligada ao PT paraense, participaram do evento, num centro de convenções de Belém. "O nosso papel é manter um certo equilíbrio sobre aquilo que o povo pode comprar e as empresas podem produzir", afirmou. "Podem olhar para a minha cara: este País não vai voltar a ter recessão e desemprego."
O presidente avaliou que, mesmo diante da ameaça do aumento de preços, o Brasil vive um "momento de ouro". "Temos uma reserva de US$ 200 bilhões", observou. "Teve uma crise nos Estados Unidos e na União Européia, bilhões de dólares dançaram na ciranda financeira, e nós estamos tranqüilos."
Lula aproveitou para comentar a descoberta de mais um poço de petróleo no litoral brasileiro e a decisão da agência Fitch que avaliar o País como lugar sem risco para investidores. Ele comparou o Brasil a uma pessoa que encontra crédito fácil numa loja.
O presidente ironizou adversários ao afirmar que era mesmo um homem de "sorte". "Tudo isso é sorte, mas se a gente não tivesse trabalhado duro para arrumar a economia e controlar a inflação não estaríamos nesta situação", disse. "Muitos companheiros até pensaram em sair do PT (por causa de ajustes econômicos feitos em 2003)", completou. "Não fiz nada mais do que faço na minha casa, no casamento com Dona Marisa, só gasto o que tenho."
Logo após a reunião, o presidente Lula focou a questão de um possível aumento de preços no setor de alimentos. Em entrevista antes de embarcar para Roma, onde participará de uma conferência das Nações Unidas sobre segurança alimentar, disse que o Brasil e outros países da América Latina podem aumentar a produção de alimentos e evitar o agravamento da crise do desabastecimento, que já atinge alguns países. "Temos um pacote dos ministérios de Desenvolvimento Agrário e da Agricultura para incentivar a produção de alimentos", observou. "Acho que é um problema de fácil solução."
Ele avaliou que a crise da falta de alimentos se deve ao aumento do número de pessoas comendo no mundo, especialmente na China e na Índia, e à elevação do preço do barril de petróleo, que acarreta aumento no transporte de alimentos e na fabricação de fertilizantes.
"Você tem dois problemas crônicos", disse. Sem dar detalhes do "remédio amargo" que poderá usar no combate à inflação, o presidente se limitou a dizer que a inflação é algo que o preocupa há pelo menos 40 anos. "Estejam certos de que a inflação não voltará a nos criar problemas, e vamos fazer o necessário para controlá-la."
Fonte: Tribuna da Imprensa