Advogados também querem revogar prisão dos Nardoni com base em relatório de peritos independentes
SÃO PAULO - Com base nos trabalhos paralelos dos peritos George Sanguinetti e Delma Gama, a defesa de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar a menina Isabela Nardoni, de 5 anos, vai solicitar a anulação do processo contra o casal e a revogação da prisão dos acusados.
Os peritos criticaram o laudo do Instituto de Criminalística (IC), considerado "medíocre, falho e sem valor". "Tecnicamente, o processo é nulo. A denúncia foi fulminada", disse o advogado Marco Polo Levorin. Ele diz que o pedido de anulação pode ser encaminhado ao juiz Maurício Fossen, no Fórum de Santana, Zona Norte de São Paulo, ainda nesta semana.
Os especialistas disseram que seus "colegas" foram precipitados, pressionados e cobrados a produzir laudo parcial, contra Nardoni e Anna Carolina. "O laudo não é isento e prejudica o casal", disse o perito. Sanguinetti e Delma afirmaram ontem que a menina foi jogada do sexto andar do Edifício Residencial London, na Zona Norte, no dia 29 de março, de cabeça para baixo e não em pé, como atestam o IC.
Para eles, é possível que a menina tenha sido jogada consciente, uma vez que as marcas na parede do prédio são de pernas e há um pingo de sangue no peitoril, escorrido pelo ferimento na testa. Sanguinetti novamente afirmou ser capaz de provar que Isabella não foi esganada e que a causa da morte é o politraumatismo, causado pela queda. "O cadáver fala. É só prestar atenção.
O pescoço da garota não apresentava machucados externos, nenhum arranhão, o que é fundamental em uma asfixia mecânica", afirmou. A dupla apontou também falhas na investigação policial, como a falta dos exames de impressão digital no apartamento e o de vestígios de pele debaixo das unhas de Alexandre e Anna Carolina. "No laudo, os peritos afirmaram que no apartamento havia uma desordem caracterizando hábitos rotineiros do casal, que vivem no lixo.
Como eles podem afirmar isso? Quanto tempo eles conviveram com o casal para fazer essa afirmação? Eles tinham a obrigação de fazer o levantamento das impressões digitais. O apartamento estava revirado porque alguém procurava algo nele", avaliou Delma. Ela garantiu já conhecer o verdadeiro motivo que provocou o crime e chegou a cogitar que a tela tenha sido cortada para que um objeto fosse atirado.
No entanto, momentos depois, ela voltou atrás e disse ainda estudar possibilidades e que somente vai revelar o que pode provar. Sobre o que aconteceu no apartamento, os peritos também foram evasivos. "Acho pouco provável esse ferimento na testa dela, que não é suficiente nem para fazer um ponto, pingar tanto sangue pelo apartamento", disse Sanguinetti.
Cerca de 20 manifestantes protestaram em frente ao prédio onde Sanguinetti e Delma anunciaram os resultados de análise preliminar sobre os laudos do caso Isabella Nardoni. A líder do grupo Elza Codjain acusou os dois profissionais de oportunismo e falta de ética. "Ficamos indignados e revoltados com a fala absurda desses oportunistas, eles vieram desqualificar a nossa inteligência", atacou Elza.
"Não vamos nos cansar de pedir justiça." O Movimento Isabella Oliveira nasceu de uma rede de relacionamentos na internet. Os manifestantes têm acompanhado sistematicamente todos os passos da investigação e do processo. O grupo organiza uma manifestação para o dia 7, às 14 horas, na avenida Paulista, próximo ao prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Depoimentos
O promotor Francisco Cembranelli descartou ontem convocar o irmão de 3 anos de Isabella Nardoni, Pietro, para depor no processo que apura o assassinato da garota. Foi uma resposta a ofício do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), do início do mês, defendendo que a criança não fosse interrogada. Amanhã, Alexandre e Anna Carolina serão interrogados pelo juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri.
Cembranelli, promotor do Fórum de Santana, em São Paulo, afirma que desde o início do caso foi contra o depoimento da criança e continua sem ver motivos para convocá-lo. "Pelo fato de conhecer bem o processo e saber que a prova se mostrava bastante consistente no sentido de incriminar o pai e a madrasta, não havia mesmo razões para adoção de medida tão drástica", informa no documento.
A presidente do Conanda, Maria Luiza Moura Oliveira, comemora a decisão de Cembranelli. "A resposta oficializa a posição da Justiça frente ao depoimento, ou seja um compromisso pela proteção da criança", disse.
Fonte: Tribuna da Imprensa