Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Basta olhar para cima, tanto faz se em São Paulo, Belo Horizonte ou Brasília. A visão é de esquadrilhas de tucanos entrechocando-se, batendo asas e quebrando bicos, sem saber para onde devem voar. Um lamentável ensaio geral para 2010 desenvolve-se em 2008. Dá o PSDB provas de não estar preparado para reassumir o poder, com as eleições presidenciais, apesar de as pesquisas ainda favorecerem o partido.
Em São Paulo, não conseguem entender-se e parecem a pouca distância de perder a prefeitura da capital, seja com Gilberto Kassab, seja com Geraldo Alckmin. Em Belo Horizonte pecam pela inação, porque salta aos olhos que se o governador Aécio Neves deseja a presidência da República, não pode deixar de indicar um tucano para a prefeitura, jamais um socialista desconhecido. Ainda mais diante da evidência de que apoiará Fernando Pimentel, do PT, para a própria sucessão. Qualquer ave que deixa de bater asas condena-se à queda.
Importa, porém, projetar o vexame do ensaio geral para a noite de estréia, com a prima-dona perdendo a voz. Ninguém garante que daqui a um mês José Serra continuará liderando as pesquisas, assombração para ele e para os concorrentes. Afinal, o PT não tem nem terá candidato eleitoralmente denso, em se tratando de Dilma Rousseff, Marta Suplicy, Tarso Genro ou Patrus Ananias.
O PMDB, com ou sem o retorno de Aécio Neves, continuará um navio à deriva, apesar dos esforços do governador Roberto Requião. Dos Democratas não haverá que falar, condena-se a permanecer como reboque do PSDB, mas se a locomotiva não sabe para onde ir, o que se dirá do último vagão? Encontrar um candidato nos pequenos partidos só acontece de cem em cem anos. Como já aconteceu em 1989, com Fernando Collor, melhor será que Ciro Gomes pense duas vezes antes de lançar-se.
Repete-se a piada do Joãozinho, aquele menino que só pensava naquilo. Para os atuais detentores do poder, obstinados em não perdê-lo, sobra mesmo a proposta do terceiro mandato. O presidente Lula desmente, chama a hipótese de obscenidade democrática. Está sendo sincero. Só que não haverá outra saída, para os companheiros e penduricalhos: ou levam o comandante a mudar de rumo ou naufragam nos rochedos de seus próprios erros.
Pernas para o ar, ninguém é de ferro
É sempre bom reler os versos de Ascenso Ferreira, para quem, depois do trabalho dos outros, a hora era de botar as pernas para o ar, por ninguém ser de ferro.
Hoje é quarta-feira. Mesmo aqueles deputados e senadores que chegaram ontem a Brasília, se é que chegaram, preparam-se para daqui a pouco voltar aos seus estados. A proposta seria para que ontem e pelo menos até o meio-dia de hoje votassem umas tantas medidas provisórias responsáveis pelo trancamento das pautas na Câmara e no Senado. Só se conseguirem na manhã de hoje, porque ontem foi um fracasso.
Tudo por conta do feriado de amanhã, ironicamente o Dia do Trabalho. Da sexta-feira não se fala, apesar de um dia normal para o cidadão comum. Nem que um automóvel fosse sorteado entre Suas Excelências, dificilmente haveria um felizardo.
Dirão os tolerantes não ser diferente do Congresso aquilo que acontece nos tribunais superiores e até na Esplanada dos Ministérios, mas, convenhamos, se as pautas estão trancadas, valeria limpá-las até na Sexta-Feira da Paixão ou no Natal. Como ninguém é de ferro...
Vem ou não vem?
Uma semana já se passou, no prazo de trinta dias, para o general Augusto Heleno atender o convite da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, para falar sobre os perigos que rondam a Amazônia. O silêncio é total, tanto no Comando Militar da Amazônia quanto no Comando do Exército.
Ninguém informa nada. Se vier, o general arrisca-se a receber nova admoestação do Palácio do Planalto e, com certa segurança, ser destituído do comando que exerce, para comandar uma escrivaninha em Brasília. Se não vier, frustrará não apenas os senadores, mas a metade do País que se insurge contra as ameaças à soberania brasileira germinando na floresta.
O governo aguarda que o Congresso vote a nova Lei dos Estrangeiros, onde estariam incluídas restrições à presença de ONGs alienígenas interessadas na internacionalização da Amazônia, assim como proibições a que estrangeiros adquiram imensas glebas na região. O problema é que os povos indígenas que habitam nosso território são cidadãos brasileiros. Nada têm a ver com a Lei dos Estrangeiros, mesmo em grande parte manipulados por eles.
E quanto às terras vendidas a estrangeiros, será sempre bom não esquecer que, quando ia sancionar a Lei de Gestão das Florestas, o próprio presidente Lula vetou o artigo que obrigava qualquer venda superior a uns tantos milhares de hectares serem submetida à aprovação do Senado...
Fonte: Tribuna da Imprensa