BRASÍLIA - A campanha pelo terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou ontem um novo porta-voz. Desta vez, embalada por elogios do vice-presidente José Alencar, que é do Partido Republicano Brasileiro (PRB).
Cinco dias depois de nova pesquisa CNI/Ibope mostrar que a avaliação positiva do governo atingiu 58% - o nível mais alto registrado até agora -, Alencar pregou mais tempo no Planalto para Lula, sob o argumento de que ele "tem feito muito", mas ainda "falta muito para fazer".
Ao estabelecer uma comparação histórica com o governo do presidente dos EUA Franklin Roosevelt (1933-1945), o vice Alencar deixou claro que estava falando de um terceiro mandato para o presidente brasileiro. "Lula deseja fazer o seu sucessor, mas eu digo para vocês que, se perguntar para os brasileiros, o que os brasileiros desejam é que o Lula fique por mais tempo no poder", afirmou Alencar, em entrevista à "Rádio Bandeirantes", de São Paulo.
Na mesma linha, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), que no ano passado defendeu o terceiro mandato e foi desautorizado pelo presidente, anunciou que pretende retomar a campanha em breve, mesmo sem o aval de Lula. Mais: vai sugerir um plebiscito sobre o tema.
Alencar disse que é um democrata e não aceita conversar "sobre outra coisa que não seja democracia". Mas antes que os entrevistadores pedissem a justificativa para a permanência de Lula no poder, Alencar mesmo perguntou e respondeu. "Por quê? Porque o Lula está bem, o Lula vai bem e raramente nós encontramos um cidadão como ele para dirigir as coisas do Brasil, ainda que seja um homem simples", observou. "Pegamos (o desemprego) em 12%, e hoje está em 8%, 9%".
Sem conversar ontem com Alencar, Devanir disse que vai sugerir a realização de um plebiscito, junto com as eleições municipais de outubro, para que a população decida se o Congresso deve mudar a Constituição com o objetivo de permitir o terceiro mandato.
Alencar não mencionou explicitamente a proposta de plebiscito - embora tenha falado em "perguntar aos brasileiros" se querem que o presidente continue no poder -, mas lembrou a crise vivida pelos EUA (pós-Grande Depressão de 29), no governo Franklin Roosevelt, para defender a permanência de Lula no Planalto.
Apesar de reconhecer que o País não vive nenhuma emergência política, social ou econômica, Alencar disse que, assim como Roosevelt, Lula também é muito popular e tem "muito a fazer", como as obras de infra-estrutura. Maior empresário do País do setor têxtil, o vice-presidente ponderou que obras como as previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) "não podem ter descontinuidade".
Roosevelt, 32º presidente norte-americano, ganhou um terceiro mandato e teve o direito de governar por 12 anos, graças à Emenda 22 feita à Constituição dos EUA. "Os EUA precisavam que ele continuasse", afirmou Alencar. "Eu garanto que, mesmo fora do PT, essa idéia (do terceiro mandato) tem muito apoio", disse Devanir.
Para ele, a proposta que prevê o fim da reeleição e cinco anos de mandato ainda é tímida. "Não morro de amores por essa idéia, porque a reeleição não é o grande problema e também não é a bandeira dos cinco anos que vai salvar nossa lavoura", afirmou o deputado.
No seu diagnóstico, o nó está em fazer um projeto vingar nesse período. "Se não vinga em oito, quanto mais em cinco", desafiou. "Quanto mais tempo, melhor para as coisas terem começo, meio e fim".
Coelho assado
O presidente Lula não gostou de ver o assunto do terceiro mandato voltar à cena política e, logo após o almoço, mandou o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, jogar água na fervura. "Isso é do entusiasmo do vice-presidente, que é natural. Mas tenho absoluta certeza de que o intuito do presidente é terminar o segundo mandato e se afastar", declarou Múcio.
Em agosto do ano passado, Lula rechaçou a idéia de espichar seu mandato. Foi além: disse que não se pode brincar com a democracia e que não disputaria outra eleição, em 2010, nem se o povo pedisse. "Não tem essa de o povo pedir", afirmou.
"Meu mandato termina no dia 31 de dezembro de 2010. Agradeço ao povo brasileiro o carinho que teve comigo e passo a faixa para outro presidente da República em 1º de janeiro de 2011. E vou fazer meu coelhinho assado, que faz uns cinco anos que eu não faço".
Fonte: Tribuna da Imprensa