Sismógrafos registraram cerca de 300 tremores, o mais forte de 3,9 graus na escala Richter
FORTALEZA - Pela terceira vez este ano a terra voltou a tremer na região Norte do Ceará. Desta vez, segundo a Defesa Civil do Estado, a intensidade chegou a 3,9 graus na escala Richter, que vai de zero a nove graus. "Foi o maior de todos", informou Francisco das Chagas Brandão Melo, chefe do Laboratório de Sismologia da Defesa Civil.
Assustados, moradores de várias cidades permaneceram acordados nas ruas durante toda a madrugada. Muitas senhoras se sentiram mal e foram socorridas por ambulâncias. De acordo com Melo, os abalos vão continuar e a população precisará aprender a conviver com eles.
Os tremores começaram por volta das duas horas da madrugada de ontem. Os equipamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que monitoram toda região nordestina, registraram mais de 300 abalos em oito localidades.
No distrito de Jordão, em Sobral, a 240 quilômetros de Fortaleza, a caixa d'água que abastece a comunidade está com pequenas rachaduras e ameaça desabar. Três médicos prestaram atendimento a idosos que se queixavam de pressão alta. Muita gente levou colchões para dormir no meio da rua. Redes foram penduradas em árvores. Até o padre foi chamado para tranqüilizar a população. "Vim para acalmar o povo e também para chamar a atenção das autoridades para a situação", disse o padre Juscelino Pascoal.
Técnicos da Defesa Civil também tentavam acalmar os ânimos das pessoas. Além do pavor dos tremores, os moradores também convivem com o risco de perder suas casas por causa da especulação imobiliária. Segundo a Defesa Civil, a população está sendo alertada também a não vender os imóveis aos corretores que se aproveitam da ocasião. Outra recomendação da Defesa Civil é que os moradores improvisem um abrigo em frente da própria casa temporariamente.
Móveis balançando
Fernando Cunha, morador da cidade de Massapé, disse que era 1h50 quando percebeu os móveis da casa balançando. "Foram três tremores fortes e depois se sucederam vários outros menores", relatou. O terremoto também atingiu o Município de Coreaú. "Estava no computador quando tudo começou a tremer. O barulho era horrível, assustador. Foi aquele desespero", contou Joélio Souza.
Fernando Queiroz disse que em Moraújo a população também ficou muito assustada: "Todos saíram de casa com medo que acontecesse o pior". Em Jordão, o vigilante Antônio Batista viu a terra sacudir e as telhas caindo. Em Sobral, a sexta-feira amanheceu em clima de ressaca e o tremor foi o assunto do dia.
Segundo a Defesa Civil, esses terremotos vêm acontecendo desde o dia 28 de janeiro. De acordo com o professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Wellington Ferreira Filho, a região Norte do Ceará tem um histórico de atividades sísmicas por causa da presença de falhas geológicas. "Existem registros no Nordeste de abalos sísmicos desde o início do século 19. Existem também pesquisas que apontam para abalos sísmicos na pré-história. Então, esse é um fenômeno que vai continuar ocorrendo", informou o especialista.
Ele ressalvou, no entanto, que são ocorrências de pequena intensidade. "A maior registrada até agora, em termos de magnitude, foi de 5,2 (graus na escala Richter), o terremoto de Pacajus, que inclusive foi sentido na região de Fortaleza, em 1980", lembrou o professor.
Ele explica que as falhas geológicas são rachaduras na crosta terrestre, ou seja, na casca que envolve o planeta. "Essa casca é dividida em placas tectônicas, que estão em movimento. Na borda das placas, existe uma maior atividade. É o caso dos Andes, do Japão, do Oeste dos Estados Unidos, onde ocorrem os maiores terremotos. Nós estamos no interior da placa. E essa região é a mais ativa do Brasil", afirma. Segundo o professor, apesar de não ser um fenômeno previsível, a expectativa é de que não ocorram terremotos de grande magnitude.
Fonte: Tribuna da Imprensa