BRASÍLIA - Enfim, algo mais do que palavras. Tanto faz se estimulada pelo ministro da Justiça ou pelo ministro das Relações Exteriores, a Polícia Federal começou a devolver espanhóis desembarcados em aeroportos brasileiros, mas sem a exata documentação necessária. É possível que Celso Amorim e Tarso Genro tenham conversado, parecendo provável uma consulta anterior ao presidente Lula. A verdade é que o governo brasileiro reagiu. Aplausos.
Torna-se imprescindível, porém, firmeza de atuação. Porque nossa tradição revela um sucessivo esfriamento de iniciativas, à medida que passa o tempo. Quando os Estados Unidos começaram a exigir de turistas brasileiros que retirassem os sapatos na entrada e na saída de seus aeroportos, fotografando-os todos, fizemos o mesmo com turistas americanos aqui chegados. O problema é que lá essas exigências continuam, mas aqui foram para o espaço.
No caso com a Espanha, torna-se necessário não esmorecer. Engrossar, tanto quanto os súditos do rei Juan Carlos engrossam. É claro ser maior o fluxo de brasileiros para a Espanha do que de espanhóis para o Brasil, da mesma forma como se reconhece não serem todos turistas. Existe gente que vai tentar a sorte na Europa, desempregados, aventureiros e até desesperados. Mas é bom atentar para a recíproca.
Quando Fernando Henrique desenvolveu a política das privatizações e da abertura total de nossa economia aos estrangeiros, montes de espanhóis engravatados vieram para cá sem passagem de volta. Nos bancos, nas telefônicas e em outras empresas, ocuparam vagas antes ocupadas por brasileiros. Ganharam e ainda ganham dinheiro a mais não poder, nas diversas atividades onde depositaram seu capital.
E não apenas espanhóis, mas franceses, portugueses, alemães e americanos. Neoliberalismo é assim mesmo, mas, pelo menos, não se exija em Madri passagens de volta para estudantes em trânsito quando esses bilhetes não foram exigidos em São Paulo e no Rio para os estrangeiros que aqui vieram trabalhar.
Recuo tático?
A primeira conclusão da iniciativa do ministro Carlos Lupi de licenciar-se da presidência do PDT é de vitória do PT na queda de braço entre os dois partidos. Com a óbvia participação do presidente Lula, que, se elogiou o titular do Trabalho como o mais republicano de seus auxiliares, não deixou de aplicar-lhe uma chave de braço daquelas capazes de caracterizar no mínimo um "vasari", para não falar num "ipom". Para quem não traduziu esses dois termos das lutas marciais japonesas, explica-se: "vasari" significa o mesmo que cartão amarelo, enquanto "ipom" é cartão vermelho.
Lupi foi vítima de bem armada trama, visando enfraquecê-lo ou, se possível, afastá-lo do governo. Estava incomodando, seja por abrir espaços para o PDT, partido da base oficial, seja por insurgir-se contra a próxima tramóia que vem por aí, a falsa reforma trabalhista orquestrada para retirar do trabalhador os derradeiros direitos que restam.
Acontece que não havia, como não há, na Constituição, na lei, em decretos ou simples regulamentos, a proibição de alguém ocupar um ministério e ao mesmo tempo continuar dirigente partidário. O Conselho de Ética da presidência da República fez as vezes de mãos do gato para o PT tirar as castanhas do fogo.
A blitz não vai cessar, tendo em vista haver o ministro do Trabalho nomeado uns tantos filiados ao seu partido para funções na administração federal. Eram vagas ocupadas pelos companheiros, e isso explica quase tudo. Deve preparar-se o sucessor de Leonel Brizola para continuar recebendo pressões. Recuou da primeira trincheira, será instado a recuar mais. O que faria o fundador do PDT, nessa situação?
À vonatade, mas nem tanto
Quem acompanhou a visita do presidente Lula a favelas do Rio terá notado que, em sua comitiva, quem mais se esforçava para parecer à vontade era a ministra Dilma Rousseff. Afinal, escalada para acompanhar o chefe em todas as vilegiaturas pelo País, ela parece estar aprendendo rápido.
Abana para as multidões, sorri, cumprimenta quantos não conhece, nos palanques, e aplaude com efusão os improvisos do Lula. Não era do ramo, vai-se transformando, pré-candidata que parece ser à sucessão de 2010. O problema é que para chegar onde chegou o presidente atua há quarenta anos ou mais. Aprendeu, na prática, como comportar-se diante das massas, ora veemente, ora apelando para a linguagem que o povão adora, das paródias e das comparações.
O professor não se cansa de dar lições, mas a primeira-aluna não poderia, em tão pouco tempo, adquirir o seu diploma. Por isso, Dona Dilma de vez em quando escorrega. Em especial quando, nos palanques, por diversas vezes, consulta o relógio de pulso. Estaria contando os minutos para o fim daquele espetáculo, por ter mais o que fazer no recôndito dos gabinetes?
Sem Aécio, fazer o quê?
O PMDB trabalha com o sonho, ou seja, a hipótese de Aécio Neves ingressar no partido e tornar-se candidato à presidência da República. Fácil não parece, mas possível, quem sabe?
Mesmo assim, o PMDB tem os pés no chão. Caso o governador mineiro permaneça no ninho tucano, o que farão Michel Temer e seus companheiros diante da sucessão? Partiriam para uma candidatura própria ou aguardariam, não em cima do muro, mas no chão, a escolha do presidente Lula? Se vingar o terceiro mandato, tudo se resolverá para os peemedebistas. Docemente constrangidos ou entusiasticamente emocionados, iriam aderir em peso à possibilidade de continuar tudo como está, ou seja, mantendo seus ministérios e penduricalhos.
Mas diante da candidatura da ministra Dilma Rousseff, por exemplo, como se comportaria o partido? Tentaria emplacar o candidato à vice-presidência ou rejeitaria solução do PT?
Entra na equação, nesse comento, a candidatura própria. O governador Roberto Requião não faz segredo de que vai disputar a indicação.
Como disse em recente programa de propaganda gratuita pela televisão, "o coração dos brasileiros está do lado esquerdo". Suas relações com Hugo Chávez são conhecidas. Da mesma forma sua campanha contra as privatizações e suas iniciativas tão condenadas pelas elites, de não cobrar impostos das camadas mais pobres da população e de fornecer água e energia de graça para os menos favorecidos.
Outro nome do PMDB poderia ser considerado? Nelson Jobim perdeu as esperanças, caso venha a contar com a simpatia do presidente Lula? Quanto tinha candidato, como Ulysses Guimarães e Orestes Quércia, o partido perdeu as eleições. E agora que não tem?
Fonte: Tribuna da Imprensa