Nelsom Jobim afirma que houve uma "leniência no combate ao mosquito e agora estão pagando este preço"
WASHINGTON - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou ontem que as Forças Armadas estão prontas para ajudar o Rio de Janeiro no combate à dengue, inclusive com montagem de hospitais de campanha. Jobim, após palestra em Washington, disse que o chefe estadual de Defesa já tinha feito contato e a ajuda está encaminhada.
"Realmente o problema é sério lá no Rio, houve uma leniência no combate ao mosquito da dengue e agora estão pagando este preço", disse o ministro. "As Forças Armadas estão dispostas a ajudar, inclusive com a montagem de hospitais de campanha, porque os hospitais das forças lá estão todos ocupados", disse o ministro.
O número de mortes por dengue no Rio pode aumentar, caso o HemoRio (Instituto Estadual de Hematologia) não consiga superar em quase 50% o número de doadores de sangue. Na segunda-feira passada, a diretora do instituto, Clarice Lobo, viu chegar a 50 o número de bolsas de plaquetas - quantidade suficiente para suprir apenas cinco ou seis pacientes adultos.
"O estoque ficou muito, muito, muito baixo. Não deixamos de atender, mas ficamos bastante preocupados. Se tivéssemos sete pessoas precisando de plaquetas, nosso estoque não seria suficiente", afirmou Clarice. No Estado do Rio foram confirmados 48 óbitos pela doença, dos quais 20 pelo tipo hemorrágico.
Ontem, uma menina de sete meses morreu num hospital da capital com suspeita de dengue. As plaquetas são responsáveis por conter os sangramentos, comuns na forma hemorrágica da dengue. Normalmente, uma pessoa tem entre 150 mil e 400 mil plaquetas por mm de sangue.
Mas a doença provoca queda brusca desse número e a transfusão de plaquetas pode ser a única solução. Diariamente, o HemoRio recebe cerca de 400 doadores por dia e esse número precisa subir para pelo menos 600 pessoas. Até quinta-feira, foram confirmados no estado 35.901, dos quais 23.555 na capital.
"Não caiu o número de doadores, mas a demanda de plaquetas subiu entre 30% e 50%. Temos dois problemas. Em primeiro lugar, não podemos fazer um estoque estratégico da plaquetas, porque ao contrário das hemácias, que duram 42 dias, elas não podem ser estocadas por um período maior que cinco dias. Em segundo lugar, um adulto precisa de sete a nove bolsas de plaqueta em cada transfusão. Por isso, estamos conclamando a população do Rio a doar sangue", afirmou Clarice.
Segundo ela, apesar de em caso de emergência máxima ser possível trazer plaquetas de outro estado, o principal é focar na cultura da doação. "Temos que mobilizar as pessoas", afirmou. A partir da semana que vem, um ônibus vai rodar a cidade para chegar mais perto dos doadores.
Ontem, Jorge Luiz dos Santos Brito, de 26 anos, tirou um tempo para doar sangue para uma vizinha. Ela está internada no Hospital Juscelino Kubitschek, em Nilópolis, na Baixada Fluminense, com dengue hemorrágica. "Vim por um apelo do pai da Aline, minha amiga e vizinha. Só tinha doado sangue em 2000, quando servia no Exército. Esse é um momento que a gente tem que ajudar, estamos vivendo uma epidemia. Eu mesmo tenho dois outros amigos que estão com dengue", disse Brito.
Segundo Clarice, apesar de em caso de emergência máxima ser possível trazer plaquetas de outro estado, o principal é focar na cultura da doação. "Temos que mobilizar as pessoas", afirmou. Lindalva Tomás de Freitas, de 35 anos, esperava na fila do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, para descobrir se estava com dengue.
Com dores no corpo, febre e enjôo, ela mal conseguia falar. O marido, Cleovaldo Joaquim, de 37 anos, estava revoltado. "Estamos aqui há mais de quatro horas e nos informaram que há apenas um médico. Quinta-feira, o secretário Estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, pediu desculpas à população pelas filas e afirmou que elas acontecem porque o Rio vive uma epidemia. Ele recomendou que as pessoas tenham paciência.
Morte
Um bebê morreu na quarta-feira com suspeita de dengue no Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio. O boletim médico indica que a causa da morte de Ana Clara Gonçalves, de apenas 7 meses, foi dengue, segundo a diretoria do hospital, mas o caso ainda não foi confirmado pela Secretaria municipal de Saúde.Das 48 mortes confirmadas, 24 são de crianças menores de 12 anos.
Fonte: Tribuna da Imprensa