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O PMDB baiano não precisaria formalizar pedido de composição de chapa com o PT, convidando-o, por exemplo, para assumir a vice de João Henrique. A eleição de Jaques Wagner ao governo do Estado, sem cujo apoio peemedebista poderia ser inviabilizada, e os entendimentos mantidos ao longo dos últimos 12 meses entre os dois partidos, inclusive com a ampliação da participação do PT na administração municipal, são considerados motivos mais do que suficientes para que a aliança já estivesse explicitamente formada. Mas o presidente regional do PT, o recém-eleito Jonas Paulo tratou de pôr desordem na casa. Disse ele que a sua legenda recusa compor com o prefeito mesmo se lhe for oferecida a vice-prefeitura. Mais tarde, o próprio Jonas se retratou. Não era bem aquilo que ele queria dizer. Apenas defende uma ou duas candidaturas que assegurem a presença das esquerdas no segundo turno. Mas o PT insiste em ameaçar deixar a base de João Henrique. Concretizada, a atitude entrará nos anais da história baiana como sendo uma traição de caráter eminentemente político. O PT deixaria o governo depois de praticamente três anos e meio em secretarias-chaves. Na principal delas, Saúde, teve uma participação medíocre e até tenebrosa. É a pasta onde há maior reprovação popular da capital. Uma das exigências petistas para continuar na administração foi a de aumentar seu campo de influência na cidade. Eles chamaram isso de repactuação. Ou seja, você me entrega o que tem e eu lhe dou um empurrãozinho em direção ao abismo, mas só no momento certo. A tal da repactuação acabou saindo e privilegiou o PT com quatro pastas (antes, eram duas). (Janio Lopo - Editor de Política)
Provocações de ambos os lados
O golpe mortal contra o PMDB baiano deve ocorrer hoje à noite, quando o PT nacional decide sua política de alianças para as eleições municipais. É tida como pule de dez que o partido de Lula vai aprovar alianças com o PSDB nas capitais e grandes cidades brasileiras. Salvador é uma delas. As outras duas são Aracaju e Belo Horizonte. Portanto, não foi um lapso ou mera provocação ao PMDB a declaração do governador Jaques Wagner de que os tucanos são da sua base aliada e, como tal, pode apoiar a candidatura de Antonio Imbassahy à sucessão de João Henrique. Esse quadro já está esboçado. Falta apenas o próprio PT bater o martelo. A tendência, com essa reviravolta surpreendente no cenário político, é os petistas se afastarem, seja por oportunismo ou conveniência, de João Henrique, e se enroscarem com Imbassahy. Seria uma situação inusitada, mas não imprevisível. Na prática, o PT, ao ensaiar em dar um chega-pra-lá no PMDB, fica sem opção eleitoralmente viável para a prefeitura. Nomes não faltam ao partido, mas os que estão aí seguramente não alcançariam o pódio. O deputado federal Nelson Pelegrino não esconde seu desejo de ir para o sacrifício pela quarta vez. Se a eleição fosse hoje sua derrota seria constrangedora. O seu desgaste em Salvador é inquestionável, sobretudo agora com o episódio da invasão do apartamento da viúva do senador Antonio Carlos Magalhães, determinada por sua mulher, a juíza Fabiana Pelegrino. Embora tenha agido dentro da lei, a decisão da magistrada teve aspecto político, segundo os adversários do seu marido, para quem a doutora Fabiana deveria sentir-se impedida de tocar o caso. O PT também sugere Walter Pinheiro (também deputado federal) para entrar no páreo. Ele não vai para forca. Toparia a parada se tivesse o PMDB de Geddel Vieira Lima em sua companha. Não a terá, porém. A lógica indica que resta ao PT pongar (quem te viu, quem te vê) na chapa de Imbassahy. Não seria de graça, óbvio. O vice-prefeito petista, numa eventual vitória de Imbassahy, travaria a possibilidade de o tucano tentar dar um salto em direção ao governo do Estado em 2010, concorrendo com Jaques Wagner, que estaria atrás da reeleição. Se o tucanato virasse os olhos para Ondina, teria, portanto, de ceder a prefeitura ao PT. (Janio Lopo - Editor de Política)
Resistências internas e externas
As manobras políticas petistas em direção ao namoro mais firme com o PSDB enfrentariam, claro, resistências. Inclusive internas. Mas nada como promessas alvissareiras para acalmar os da casa e também os estranhos que frequentam a casa. Soa, no mínimo, sem nexo a deputada federal e também prefeiturável Lídice da Mata (PSB) ostentando o estandarte de Imbassahy-Prefeito. A ela, de acordo com as conversas captadas nos bastidores, estaria reservada uma das vagas ao Senado com o PT asseverando-lhe todo o apoio. Ainda dentro desse raciocínio, a tentativa de um possível isolamento eleitoral do PMDB, fortaleceria a candidatura do Democratas, a do deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto. Numa hipótese, tida como improvável, de derrota de João Henrique, o segundo turno - são apenas conjecturas - ficaria entre Imbassahy e seu PT e Neto. Aí, em tese, viria o troco do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que se uniria - agora, sim - ao DEM para o embate contra, especialmente, Jaques Wagner. Aliás, Geddel não escondeu o jogo: admitiu aliar-se aos democratas caso houvesse uma ruptura imprevista do PT. Geddel se disse um político de compromisso e disposto a manter na prática tudo o que foi dito e feito a favor da aliança PT-PMDB. Mas não vai ficar chorando sob o leite derramado. (Janio Lopo - Editor de Política)
Desdobramentos e conclusões
O rompimento PMDB-PT, ao que tudo indica, está com as horas contadas na Bahia. O primeiro achava que o pacto de aliança não seria rompido por conta da unidade construída durante a campanha de Wagner para o governo. Depois, havia (e há) todo um entrosamento nacional dos peemedebistas com o presidente Lula. Pesa (ou pesava) ainda o fato de Geddel Vieira Lima ser um dos ministros de Estado mais afinados com a Presidência da República. Em sendo assim, a casa não poderia cair com tanta facilidade. Para agravar ainda mais as coisas, achava-se que a eleição de Jonas Paulo para comandar o PT baiano abrira de vez as portas para a composição com o PMDB em torno da reeleição de João Henrique. Mas os ventos mudaram. Há quem veja nessa alteração de rumo o dedo do Palácio do Planalto, fustigado pelo Palácio de Ondina. Do jogo participaria diretamente a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. E Lula? Lula faz as piruetas que o garantem no centro do poder do País. Ele sabe que o bastão irá sair-lhe das mãos, mas o que passar não necessariamente a alguém do seu time, mas obrigatoriamente que faça o seu jogo e o deixe à vontade para pensar no retorno em 2014. Antes mesmo das eleições deste ano, os interesses maiores estão voltados para 2010. Um dado é elementar: quanto mais o PMDB avança no Estado, mais o PT se encolhe. Geddel controla hoje cerca de 130 prefeituras. O PT algo em torno de 30. O PMDB quer chegar a 200 prefeituras agora em 2008. O PT pensa em 80 - talvez menos. O partido, pois, que detiver maior estrutura terá mais chances de mando. Geddel prepara o terreno para ser governador. E isso os petistas temem, como temem também que o agigantamento peemedebista pode sufocar o petismo baiano. Além do mais, a reeleição de João Henrique, na capital, será creditada a Geddel. Wagner vai aparecer ( se aparecer) como mero coadjuvante.(Janio Lopo - Editor de Política)
Fonte: Tribuna da Bahia