quarta-feira, março 26, 2008

Aeroportos em estado crítico serão fechados

BRASÍLIA - A presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Solange Paiva Vieira, disse ontem, em audiência pública na Câmara, que está em curso um amplo levantamento sobre as condições de funcionamento de todos os aeroportos do País, especialmente os de médio e pequeno portes. Segundo Solange, a Anac vai determinar o fechamento dos que estiverem em estado "crítico" até que cumpram as exigências da Anac.
O alvo do grupo de trabalho são os aeroportos que não estão entre os 67 administrados pela estatal Infraero. Solange não informou quantos aeroportos serão vistoriados, mas disse que a maioria é administrada por governos estaduais e prefeituras.
Segundo a presidente da agência, os aeroportos de menor porte de cidades distantes no Norte, Nordeste e Centro Oeste são os mais precários. "As regiões que mais precisam de aviões são as que têm mais problemas", afirmou. "O fechamento dos aeroportos vai começar a acontecer. Alguns problemas são administráveis. Outras questões são críticas e não permitem que o aeroporto funcione", disse Solange.
Segundo ela, os problemas não são tanto de segurança de vôo, como más condições das pistas, mas de falta de estrutura física nos aeroportos, com ausência de raio x e outros equipamentos sem os quais os aeroportos não podem funcionar, por determinações de normas internacionais de aviação civil seguidas pelo Brasil. Solange pediu a colaboração dos parlamentares para estudar a flexibilização da lei brasileira em relação às exigências feitas aos aeroportos médios e pequenos.
Treinamento especial
A audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara foi convocada para debater a segurança do Aeroporto de Congonhas. Solange anunciou que todos os pilotos que operam em Congonhas terão que passar por treinamento específico, como ocorre no aeroporto Santos Dumont, no Rio. Inicialmente, Solange disse que as empresas aéreas tiveram prazo de 120 dias para treinar os pilotos, mas que pediram mais tempo. No fim da audiência, a presidente da agência informou que os treinamentos começarão no mês que vem.
A exigência de treinamento específico para Congonhas faz parte, segundo Solange, de uma série de medidas tomadas depois do acidente com o Airbus da TAM, em 17 de julho passado, quando morreram 199 pessoas. A proibição de pousos de aviões com reverso (freio localizado nas turbinas) inoperante, o fim da utilização da pista auxiliar de Congonhas por aviões de grande porte e a determinação de que pilotos procurem outro aeroporto para pousar se detectarem qualquer problema mecânico na aeronave são outras regras decorrentes da tragédia.
Por ter pista curta e estar localizado à beira da Baía da Guanabara, o Santos Dumont exige treinamento específico dos pilotos. Congonhas, embora também tenha pista curta e esteja em pleno centro urbano de São Paulo, não tinha exigência semelhante até agora.
Segundo o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, um dos treinamentos mais importantes nestes dois aeroportos é para arremetidas, quando os pilotos forçam uma nova subida, por detectarem algum problema na hora do pouso.
Segundo Kersul, as investigações do acidente da TAM indicam que uma arremetida do Airbus A-320 poderia ter evitado o acidente. No entanto, garantiu o brigadeiro, os pilotos não tentaram fazer a manobra.
"Não houve consideração em relação a arremetida", disse aos deputados. "Arremetida era uma opção, mas precisa estar muito bem treinado. Principalmente com 'spoilers noihing'", afirmou Kersul, referindo-se a um trecho da degravação da caixa preta do Airbus, feita em inglês, em que um dos pilotos constata a falta de funcionamento dos freios localizados nas asas do avião.
Segundo Kersul, sem a arremetida, o acidente teria ocorrido mesmo se a pista "tivesse mais mil metros". O fato de Congonhas estar no meio do aglomerado urbano e de o avião ter ultrapassado os limites do aeroporto agravou a tragédia. "Foi catastrófico não por causa do tamanho da pista, mas da localização da pista", afirmou o chefe do Cenipa.
O relatório final sobre as causas do acidente deverá ficar pronto em julho deste ano, segundo Kersul. O brigadeiro disse que não foi possível avançar na investigação sobre a posição inadequada de uma das manetes (alavancas que funcionam como a marcha do avião) do Airbus acidentado.
O quadrante (base) das manetes foi encontrado e analisado, mas não permitiu concluir se a posição de aceleração, quando deveria estar em posição de desaceleração, foi decorrente de falha do piloto ou de um erro de interpretação do computador da aeronave. Depois de "uma espécie de tomografia" no quadrante, a peça foi derretida, bem busca de algum dado revelador, "mas o trabalho não foi conclusivo".
Na audiência, Kersul afirmou que "nunca estará afastada a possibilidade de acidente em Congonhas nem em nenhuma pista do planeta", mas lembrou que, quanto maior o movimento de um aeroporto, maiores as chances de acidente. "Temos que ter consciência do risco que queremos correr", disse o brigadeiro.
Fonte: Tribuna da Imprensa