VITÓRIA - Em meio aos preparativos para a instalação da comissão parlamentar que vai investigar o uso de cartões corporativos do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que não tem tempo a perder com CPIs. Lula, que passou o dia em uma maratona de eventos no Espírito Santo, disse deixar para o Legislativo a tarefa de conduzir essa investigação. Enquanto isso, segundo o presidente, seu papel será viajar pelo Brasil e garantir que o País se torne uma economia global.
"Eu confesso a vocês que não tenho tempo a perder, sabe, com CPI", disse Lula, após visitar pela manhã o gasoduto Cabiúnas-Vitória, no município de Serra, região metropolitana de Vitória. Em entrevista após o evento, Lula disse ser adepto da tese de que o Congresso tem a tarefa de legislar, investigar e fazer CPIs. Já o governo, segundo ele, "existe para trabalhar".
"Enquanto as pessoas discutem lá em Brasília, enquanto as pessoas fazem investigação, fazem CPI, meu papel vai ser viajar pelo Brasil. Porque o que eu quero é que o povo brasileiro possa conquistar, com crescimento e desenvolvimento, a cidadania que há séculos a gente está reivindicando".
Lula disse não querer "perder a oportunidade" de aproveitar o "momento bom e extraordinário" que o País vive. Mas ressaltou que o governo irá "fazer tudo o que for possível" para contribuir com a comissão. Mais tarde, ao falar novamente sobre a CPI, Lula também foi mais comedido.
Voltou a defender os cartões corporativos como instrumento de transparência e emendou: "Acho que a CPI vai prestar um serviço à Nação porque vai aprimorar - piorar jamais - o sistema de gasto do governo". Questionado sobre a notícia de que o Planalto estaria elaborando um dossiê com informações sobre gastos do atual governo e da gestão de Fernando Henrique Cardoso, Lula rebateu: "Isso não procede. Eu aprendi, neste tempo de governo, que têm muitas coisas que procedem, e têm coisas que não procedem".
Embalo
Apesar de não ter comentado diretamente o desempenho positivo do governo na última pesquisa CNT/Sensus, Lula não escondeu o entusiasmo. Após a visita à estação de gás da Petrobras, o presidente seguiu para um anúncio de obras na região onde aproveitou para mandar um recado a adversários.
Disse que sua chegada à Presidência é um "sinal de alerta para qualquer cidadão brasileiro" pois, até então, o posto era reservado à elite. E disse que precisou mostrar que "valeu a pena ter brigado para chegar lá". "Porque se eu chego à Presidência da República e é um governo totalmente fracassado, como alguns queriam que fosse, nós iríamos levar 100 anos para levantar a cabeça outra vez. Iriam dizer para a gente na escola: pobre não tem que governar nada. Pobre só tem que trabalhar", afirmou.
"É minoritário, mas tem gente nesse País que passa 24 horas por dia acendendo vela para não dar certo. É impressionante". Diferentemente de Lula, o governador Paulo Hartung (PMDB) não disfarçou a satisfação com a pesquisa. Em seu discurso, disse que Lula é "uma força da natureza" e que "deu conta do recado" ao assumir o País.
O discurso de Lula terminou por contagiar também a platéia reunida no Palácio Anchieta para o anúncio de investimentos em obras viárias e de saneamento. Ao final, o presidente se lançou no meio dos participantes para receber abraços, como se estivesse em um ato de campanha. Com direito a gritos em favor de um terceiro mandato, o presidente saiu ao som de "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula".
Na saída, depois de almoçar com Hartung na sede do governo, Lula evitou associar o clima do evento à pesquisa CNT, na qual o governo teve avaliação positiva de 52,7% dos entrevistados, o melhor índice desde 2003. "Eu estou sempre animado, você nunca me vê desanimado. Eu estou animado por que as coisas estão indo bem no Brasil".
Fonte: Tribuna da Imprensa