quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Ex-deputado relembra que PT daria R$ 20 milhões

O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, apontou o PT como origem dos recursos do mensalão e também do dinheiro que seu partido recebeu para pagar a produção de inserções de televisão em 2003 e para a campanha de 2004. Quando o juiz Marcelo Granado perguntou por que os pagamentos que o PTB recebeu foram sempre em dinheiro vivo, assumiu tom teatral. "É uma dúvida que também me assalta, Excelência", respondeu.
Ele contou que os programas de TV de 2003, produzidos pelo publicitário Cacá Moreno, custaram R$ 1 milhão, pago pelo PT. Nos programas, de elogio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmava-se que o PTB estava "ajudando a mudar o Brasil".
No ano seguinte, houve um acordo pelo qual o PTB apoiaria o PT em várias capitais e receberia R$ 20 milhões dos petistas para pagar sua campanha eleitoral. "Os R$ 4 milhões iniciais foram cumpridos", contou. "Os demais R$ 16 milhões, não".
Jefferson lembrou que não havia recibo do dinheiro e afirmou ter reclamado disso com o então presidente do PT, José Genoino, com quem negociara o acordo, além do então tesoureiro Delúbio Soares e do então subchefe da Casa Civil Marcelo Sereno.
Foi aí, relatou, que as divergências com o PT começaram. Ele admitiu que o dinheiro usado em campanhas, no Brasil, em sua maior parte é doado clandestinamente, porque os doadores, argumentou, temem perseguições e não querem aparecer. "Eu confiava que o PT fosse legalizar esse dinheiro, que era de recursos de empresários".
Jefferson declarou ter recebido a quantia em "relação de confiança", querendo legalizá-lo e cobrando isso de Genoino. O ex-deputado contou que a aliança com o PT surgiu após o primeiro turno da eleição presidencial de 2002, contra o seu voto, porque estava negociando o apoio a José Serra (PSDB).
Em troca do apoio a Lula, recordou, o PTB recebeu o Ministério do Turismo, a presidência da Eletronorte, uma diretoria na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e a presidência do IRB. Em 2004, houve promessa, não cumprida, de conceder uma diretoria do IRB, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) e uma diretoria da Itaipu Binacional.
Questionado por um dos procuradores, admitiu que o partido também ganhou a Delegacia Regional do Trabalho do Rio, segundo ele, que estava, havia muito, sob controle do PTB. Não respondeu, porém, por que a legenda queria controlá-la.
O petebista também produziu uma explicação curiosa para um dos saques ilegais. Segundo ele, ao morrer num desastre de avião, o então presidente do PTB, José Carlos Martinez, deixou "um problema": Patrícia Chaves, filha de um assessor do PTB, Alexandre Chaves.
Não foi mais específico, mas explicou que, como a mulher era amiga, não poderia ficar desamparada. Pediu ajuda a Delúbio, que disse que ela fosse a um banco em Minas Gerais, onde ela sacou R$ 200 mil para a compra de um apartamento. "Na relação política, existe esse tipo de ajuda?", quis saber o juiz Marcelo Granado. "Existe", respondeu Jefferson.
"Talvez eu tenha feito o concurso errado", disse o juiz. "Ou o certo". Ao fim do depoimento, quando o juiz lhe deu espaço para dizer o que quisesse, Jefferson o elogiou e disse que o fizera, sim, o concurso certo, e declarou ter sonhado para futuro da filha "o presente" do magistrado.
Diferentemente de outros réus que já depuseram no processo, o ex-deputado foi tratado, ao longo da audiência, de cerca de uma hora, de forma amistosa. As perguntas do juiz e mesmo dos procuradores foram pouco incisivas e deixaram de lado muitos detalhes. Nenhum dos advogados de defesa dos demais réus, que acompanharam o depoimento, quis fazer-lhe perguntas, como era de seu direito.
Em entrevista, Jefferson prometeu pedir que o presidente Lula seja convocado para depor no processo "Ele e muitos ministros com quem conversei sobre o escândalo do mensalão", afirmou. O ex-deputado também ironizou o escândalo dos cartões corporativos.
"Se esse cartão tivesse sido distribuído pelo PT há três anos e tivesse sido estabelecido um limite de R$ 30 mil, ficaríamos só no cartão e economizaríamos o escândalo do mensalão", disse. Para ele, o caso dos cartões "é muito pior". "Essa transparência é pior que lingerie de bordel", atacou.
O ex-deputado declarou que, nas investigações do novo escândalo, "até botox vai aparecer". "De homens e mulheres importantes", frisou. "O Fernando Henrique está enrugadinho porque não botou botox".
Fonte: Tribuna da Imprensa