segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Emissoras de TV em nome de laranjas

Em depoimento no processo movido pelo Ministério Público Federal em São Paulo, a mulher de Edir Macedo, Ester Eunice Rangel Bezerra, que é detentora de 10% das ações da Rede Record de Televisão S/A, muito embora tenha afirmado que não participou das negociações, limitando-se a assinar papéis, informou enfaticamente "que seu marido adquiriu as ações para ele e não para a Iurd".
Também ouvida em juízo, Sylvia Jane Hodge Crivella, mulher do bispo e senador pelo Rio de Janeiro Marcelo Bezerra Crivella, a despeito de também figurar como acionista do grupo Record (ela e seu marido controlam a TV Record de Franca S/A), "alegou que nada sabe a respeito dos negócios do marido e que tem conhecimento - por ouvir dizer - que a Iurd emprestou dinheiro a ele, ignorando, contudo, qual o valor do empréstimo".
No depoimento, Sylvia Crivella informou ainda que "Marcelo e Edir Macedo procuraram obter empréstimos de dinheiro junto aos bancos, mas não conseguiram, e que se recorda de uma campanha feita pela Iurd para angariar fundos a fim de saldar os compromissos assumidos com a aquisição do grupo Record, ocasião em que ela e Marcelo venderam um carro, tendo doado à Iurd o dinheiro obtido com a venda".
Entrevista
Os depoimentos das mulheres de Macedo e Crivella se somam a uma entrevista concedida à "Folha de S. Paulo", em 20 de julho de 1999, pelo diretor-superintendente da Rede Record de Televisão S/A, Dermeval Gonçalves, que chegou a descrever a artimanha adotada para assegurar que os bispos e pastores usados como laranjas, falsos donos dessas rádios e TVs, não pudessem aplicar um golpe em Edir Macedo.
Nessa entrevista, Gonçalves revelava que Macedo dispõe de contratos de gaveta, assinados pelos laranjas, para que o líder da Universal possa retomar a propriedade das emissoras quando bem lhe aprouver. Mas o esquema não está funcionando a contento, porque a recente reportagem de Elvira Lobato revela que alguns dos laranjas estão se negando a devolver essas ações a Macedo, já havendo até disputa judicial pelo controle de emissoras.
Prisão
Edir Macedo é veterano em responder a processos e até chegou a ser preso uma vez, em maio de 1992, por determinação do juiz Carlos Henrique Abrão, da 21ª Vara Criminal de São Paulo, em processo que acusava o bispo de estelionato, charlatanismo e formação de quadrilha. Mas até agora tem escapado de todos os processos judiciais abertos contra ele, conseguindo absolvição ou através de prescrição, por decurso de tempo.
"Desde 1990, antes mesmo de sua prisão, foram instaurados 21 processos e inquéritos criminais (contra Macedo). Hoje, em outubro de 2007, o Judiciário brasileiro inocentou-o em vinte processos. As denúncias-crimes se espalham por centenas de páginas de documentos. Falsidade ideológica, crimes contra a Fazenda Pública, sonegação fiscal, estelionato, charlatanismo, curandeirismo, seqüestro de bens, formação de quadrilha, vilipêndio, crime contra a ordem tributária, incêndio criminoso, comparação indevida entre homossexual e criminoso, racismo, incitação ao crime, preconceito religioso, calúnia e difamação. Do total de processos e inquéritos, cinco prescreveram e 15 foram arquivados por falta de provas", diz a biografia "O Bispo - A História Revelada de Edir Macedo", de autoria de Douglas Tavolaro, com reportagem de Christina Lemos.
Impunidade
No livro "O Bispo", Edir Macedo não explica como arranjou dinheiro para comprar o grupo Record e nega enfaticamente que a Igreja Universal hoje transfira recursos para a rede de TV, alegando que a Iurd não passa de um cliente que aluga horários da emissora.
Com essa argumentação falaciosa, não é de se estranhar, que, a exemplo do ocorrido com os 20 processos citados na biografia, os inquéritos criminais em andamento também venham a ser arquivados ou considerados prescritos. Mas a opinião pública deve lamentar que processos dessa importância, tendo como acusado o dono da segunda maior rede de televisão do país e um dos mais polêmicos líderes evangélicos da atualidade, prescrevam por falta de julgamento. Deve-se lamentar, também, que um inquérito dessa magnitude esteja se prolongando desde 2000, sem que a investigação se conclua, o que fatalmente acarretará prescrição.
Vale registrar que, enquanto essa importante investigação se arrasta, o poderio econômico, social e político do bispo Edir Macedo está aumentando de tal forma que o líder da Igreja Universal já não mede as palavras quando se refere a seus principais opositores - a Igreja Católica e a Organização Globo.
"Eu respeito as pessoas. Devemos respeitar cada ser humano, independentemente daquilo em que acredite. Eu respeito o homem, mas abomino a instituição, principalmente as que têm tentado atrapalhar o desenvolvimento da igreja. Eu rasgo o verbo ao dar minha opinião sobre a instituição Igreja Católica, mas tenho obrigação de respeitar os católicos. Todos, sem exceção. É como a Globo. Eu não conheço a família Marinho, não sei se são más pessoas. Mas a instituição Rede Globo faz um mal tremendo ao Brasil. Não obrigo ninguém a seguir coisa alguma. Nem meus filhos. Eu ensino o caminho do bem. Se a pessoa desejar ir em frente, tudo bem. Do contrário, será respeitada por mim da mesma maneira", diz o bispo, no livro "O Bispo - a História Revelada de Edir Macedo".
Por derradeiro, Macedo assegura que, apesar das especulações, nunca pensou em se candidatar à Presidência da República. "Mas, se eu fosse presidente, este país seria outro. Meu primeiro ato seria proibir o gasto de um centavo sem a minha autorização. Você iria ver este País mudar. Os corruptos iriam passar fome", afirma o controverso líder da Iurd.
Fonte; Tribuna da Imprensa