Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - O presidente Lula discutiu o assunto com o Conselho Político, segunda-feira. A direção nacional do PMDB se reuniu ontem, para o mesmo objetivo. Estão chegando a uma solução, no caso, a nomeação de peemedebistas para as presidências e diretorias de estatais, em especial as elétricas.
Compõem o cardápio do PMDB a presidência da Eletrobrás e três diretorias da empresa, uma delas a poderosa diretoria financeira, outra, a diretoria administrativa, além de uma terceira menos importante. Uma diretoria da Eletrosul também parece garantida, assim como outra de Furnas, onde o partido já detém o presidente. Falta a presidência da Eletronorte e também entra no pacote a diretoria internacional da Petrobras.
A gente não se cansa de perguntar a razão dessa imensa goela aberta pretendendo deglutir, dominar e exercer funções em estatais que dispõem de dezenas de bilhões de reais para investimentos. A resposta surge óbvia: por causa das empreiteiras, responsáveis pela execução dos serviços.
A partir daí, qualquer um que conclua. No mínimo imaginando as empreiteiras lutando para receber aquilo a que têm direito, por obras realizadas ou em execução. Por isso, permeáveis a contribuir para os cofres dos partidos cujos representantes liberam as verbas. As "contribuições" servirão para saldar anteriores dívidas de campanha e para financiar eleições futuras.
Vale repetir, fala-se do mínimo, porque o máximo pode chegar a limites mais amplos, envolvendo a conta corrente de privilegiados caciques e índios partidários.
Não há porque crucificar apenas o PMDB, que chegou atrasado no governo e agora tenta recuperar o tempo perdido. Porque há cinco anos o PT domina o setor, sem falar em pequenas parcelas de influência concedidas a outras legendas, como o PTB, o PP e penduricalhos.
Deve-se acrescentar que, no passado, valia o reverso da medalha. O PSDB e o ex-PFL participaram do mesmo banquete, no governo do sociólogo. Olhando mais para trás, parece não haver escapado ninguém. O diabo é que se imaginou, faz algum tempo, que o governo do PT seria diferente...
Bi-presidente
Michel Temer, presidente do PMDB, não pensa em outra coisa: tornar-se presidente da Câmara no biênio 2009-2010, conquista que lhe permitiria o repeteco, ou seja, reeleger-se para 2011-2012.
O problema é que o parlamentar paulista também deseja permanecer à frente do PMDB, não abandonando sua presidência. Seria, assim, bi-presidente. Nada demais, porque o dr. Ulysses Guimarães foi tri-presidente, acumulando também a presidência da Assembléia Nacional Constituinte.
Deve-se indagar o que pensam seus companheiros de partido, porque no caso da presidência da Câmara registra-se uma quase unanimidade em favor dele. O PMDB forma a maior bancada, as demais legendas reconhecem-lhe o direito da indicação do presidente da casa. Reações, se surgirem, serão do PT e até do presidente Lula, porque o PMDB também dispõe da maior bancada no Senado e seu candidato já se encontra definido: é o ex-presidente José Sarney.
Admitiria o governo as duas presidências entregues ao partido aliado? Não raro isso acontece, inclusive quando o presidente da República era José Sarney, o presidente da Câmara, Paes de Andrade, e o presidente do Senado, Nelson Carneiro, os três do PMDB. Ou quando o dr. Ulysses, na Câmara, fazia dobradinha com Mauro Benevides ou Humberto Lucena, no Senado. Só que agora o chefe do governo é Lula, do PT...
Então, quanto a Temer permanecer presidindo o PMDB, trata-se de uma equação incompleta, ainda que questão interna do partido. Existem setores ávidos de espaço. É possível que alternativas surjam do Nordeste.
Comitiva singular
Não deixa de ser singular a comitiva chefiada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, em visita à França e à Rússia. Porque, junto com ele, vão o ministro Mangabeira Unger, do Futuro, e o assessor especial da presidência da República, Marco Aurélio Garcia. Além do comandante geral da Marinha. O objetivo é de pelo menos negociar com os franceses a compra de um submarino nuclear e, com os russos, uma esquadrilha de caças de última geração.
Nelson Jobim declarou, antes de viajar, que recursos não faltarão para as duas empreitadas, apesar dos cortes orçamentários. Resta saber se os governos de Paris e Moscou atenderão à exigência brasileira, de transferência de tecnologia. Claro que, no caso do submarino, nada de tecnologia nuclear de ponta, mas alguma coisa sempre poderá ser transferida.
O que não dá para entender é a presença tanto de Mangabeira Unger quanto de Marco Aurélio Garcia. Iria este, em nome do presidente Lula, opinar sobre a blindagem do casco do submarino, ou sobre a potência de seus mísseis? E quanto ao ministro do Futuro, seria candidato a dar uma voltinha na estratosfera, a bordo de um caça Sukoi, para conhecer os efeitos da destruição da camada de ozônio?
Diferente por diferente...
Nem a fórceps se arrancará do presidente Lula sua preferência em torno dos candidatos à presidência dos Estados Unidos. A palavra oficial, se vier a ser exposta, é de que o Brasil espera manter com o sucessor de George W. Bush as mesmas relações cordiais de hoje, tanto fazendo se ocupará a Casa Branca um republicano ou um democrata, um homem ou uma mulher, um preto ou um branco.
No fundo, porém, há quem desconfie estar o presidente brasileiro torcendo por Barack Obama, um candidato diferente não apenas pela cor de sua pele, mas por suas origens e por suas mensagens em favor de mudanças profundas na política de Washington. Não propriamente a política com relação à América Latina e ao Brasil, porque republicanos e democratas são uma coisa só, quando se trata de olhar para seus vizinhos aqui de baixo.
Há, no Palácio do Planalto, uma certa divisão de expectativas, porque a ninguém será dado negar que a ministra Dilma Rousseff torce por Hillary Clinton. Afinal, mais uma mulher no comando, em especial num país como os Estados Unidos, sempre servirá para impulsionar outra. Quanto à equipe econômica, volta-se mais para John McCain, neoliberal como todos os demais candidatos, mas afinal, outro membro do clube. Que clube? Dos carecas...
Fonte: Tribuna da Imprensa