Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Tivemos, na primeira semana do ano, mais um exemplo de como é inócuo, perigoso e até vergonhoso dialogar com bandidos. Voltaram aos países de origem representantes internacionais de governos democraticamente constituídos, dada a fracassada tentativa de libertação de três reféns das Farcs. Não cumpriram sequer a metade do prometido, esses ditos integrantes do exército de libertação da Colômbia, na verdade um bando de trapaceiros e traficantes de drogas.
Alegando pretextos pouco claros, as Farcs enganaram e humilharam governos como os da França, Argentina, Brasil e Venezuela. Até o assessor internacional do Lula, Marco Aurélio Garcia, sacrificou a passagem do ano com a família para instalar-se numa tapera no meio da selva amazônica, entre mosquitos de toda ordem, à espera do resgate que não se completou.
As Farcs não soltaram sequer três reféns, das muitas dezenas que mantém em cativeiro há anos. Mostraram, como já sabíamos, que em bandidos não se pode confiar. A tal Operação Emmanuel resultou numa lambança sem par, onde sobrou vergonha até para a Cruz Vermelha Internacional, também presente e exposta ao ridículo.
Aguardam-se novos capítulos dessa novela de horror. Pode ser que os seqüestradores venham a propor novos entendimentos, quase com toda certeza para frustrá-los mais uma vez. Mesmo que soltem os reféns no meio da floresta, serão inconfiáveis, pois pretenderam e estão conseguindo o único objetivo real a que se propuseram: ganhar a mídia internacional.
Aqui para nós, com esse tipo de rebelião mesclada ao crime hediondo de traficar drogas, só existe uma solução: pau neles!
Remando contra a maré
Remar contra a maré geralmente não leva a lugar nenhum, nem à praia nem a alto-mar. De vez em quando essa prática nos carrega para as profundezas, mas trata-se de uma compulsão, da qual sempre emergimos sem mudar de opinião.
A maioria dos países celebrou o fim de 2007 como tendo sido, aquele ano, excepcional. Assim, disse o presidente Lula. As massas estão felizes com o bolsa família e penduricalhos. As elites exultam com os ganhos estratosféricos da outra bolsa, a de valores, dos bancos e da especulação financeira. A classe média, envolta pela propaganda pública e privada, prefere acreditar nas vendas a prazo e no sonho de uma ascensão tornada impossível pelos abomináveis e enrustidos juros que acompanham essas operações.
Mesmo assim, fica difícil sustentar, mas sustentamos, que não é nada disso. Um ano desses a sociedade acabará percebendo o quanto foi enganada por ela mesma, cada segmento sendo iludido pelos demais. As massas acabarão despertando para o horror de não lhes restar outra opção a não ser continuar morando em favelas e mocambos, eternizando-se nas filas de abomináveis hospitais públicos, recebendo miseráveis salários.
Para as elites, sempre de goela aberta, restará a frustração de perceber haver caminhado para um beco sem saída, desfazendo-se no ar as suas ambições.
Quanto à classe média, a mais iludida, concluirá não ser nem média nem classe, acabando nivelada por baixo. Será o momento em que nós também lamentaremos haver remado contra a maré.
Conhecimento e sabedoria
A certas pessoas, por mais conhecimento que detenham, falta sabedoria. Com outras é o contrário: carentes de conhecimento, sobra-lhes sabedoria.
Enquanto não se puder conscientizar os alunos, nas escolas, de que não basta conhecer aritmética, gramática, geografia, história e filosofia, mas é preciso saber utilizar esse cabedal em prol de objetivos humanitários, continuaremos como estamos, ou seja, com elites egoístas e massas impotentes.
Fazer o quê, já que sabedoria não se ensina na escola, sequer nas universidades?
Fonte: Tribuna da Imprensa