BELO HORIZONTE - Em depoimento prestado ontem à Justiça Federal em Minas Gerais, Kátia Rabello, presidente do Banco Rural, afirmou ter conhecimento de três reuniões realizadas entre a instituição e o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. O responsável pela verificação da disponibilidade de Dirceu era, segundo ela, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o operador do mensalão.
Kátia foi interrogada em condição de ré pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta. De acordo com ela, o publicitário esteve presente a um desses encontros. Os assuntos tratados, disse, versavam sobre "generalidades, vida pregressa do ex-ministro e a suspensão do processo de liquidação do banco Mercantil do Brasil de Pernambuco".
Segundo ela, o interesse do Banco Rural no caso é "complexo". A instituição que dirige teria adquirido 20% do que ela chamou de "parte boa" do Mercantil. "O Valério foi quem intermediou essa negociação, pois achamos que seria interessante para o Rural, uma vez que ele já conhecia os procedimentos do Banco Central para a suspensão da liquidação", disse. Ainda segundo Kátia, o ex-ministro teria dito que não poderia tomar parte nesse tipo de discussão. Nenhum retorno teria sido dado ao Banco Rural após o encontro.
Empréstimos
Kátia disse que o responsável pelas operações financeiras do Banco Rural era o vice-presidente da instituição, José Augusto Dumont, até 2004, ano em que morreu. Ela alegou só ter tomado conhecimento das acusações após a deflagração da crise política, por meio da imprensa.
Afirmou também não ter nenhuma participação nos empréstimos concedidos ao PT e à SMP&B, extinta agência de Marcos Valério. Teria, contudo, votado pela renovação dos contratos com o PT.
A cifra desses empréstimos, segundo ela, era irrisória: R$ 29 milhões para a empresa de publicidade e R$ 2 milhões para o PT, pouco perto da linha de crédito de R$ 5 bilhões de que o banco dispunha. "Por isso esse total não chegava ao meu conhecimento. É realmente muito pouco perto do que detínhamos", afirmou.
O crédito concedido ao PT, segundo o depoimento, estaria lastreado pela contribuição paga pelos membros do partido. Não soube dizer, contudo, se tal garantia estava expressamente prevista no contrato de empréstimo. "Banco vive de emprestar dinheiro. Se você entende que o cliente pode pagar, não há por que negar".
Ela também refutou a acusação de lavagem de dinheiro. Todos os empréstimos, afirmou, são registrados em formulários próprios, contendo a origem do dinheiro e também quem o sacaria. Segundo Kátia, os saques poderiam ser feitos pela própria pessoa indicada ou por outra, desde que portasse os documentos necessários para identificação.
Aproximadamente R$ 40 milhões foram retirados ao longo de dois anos do Banco Rural. De acordo com a interrogada, o volume, se diluído pelo período de tempo apontado, não apresenta motivo para desconfiança dos gestores da instituição.
José Carlos Dias, advogado da acusada, disse que o depoimento foi tranqüilo e absolutamente normal. Afirmou que não há crime ou qualquer demérito no fato de o publicitário Marcos Valério supostamente facilitar o agendamento de encontros com José Dirceu.
Fonte: Tribuna da Imprensa