Uma recente descoberta feita por pesquisadores brasileiros pode evitar que mais de 20 mil pessoas morram anualmente no Brasil, vítimas de derrame cerebral causado por entupimento da artéria carótida. O estudo, chefiado pelo cirurgião cardiovascular Luciano Cabral Albuquerque, consegue prever a iminência do derrame, evitando que aconteça. A validade da pesquisa acaba de ser reconhecida internacionalmente, com sua publicação na revista científica Journal of Vascular Surgery, uma das mais respeitadas mundialmente na área da medicina vascular.
Além da eficácia em prever o derrame, outra boa notícia é que não há a necessidade de grandes adaptações ou investimentos para que exames de ressonância magnética detectem com precisão micro-hemorragias nas placas de gordura da carótida, que significam justamente a iminência de um derrame cerebral.
Regulagem
A descoberta brasileira é relacionada a dois aspectos. O primeiro é a inédita associação da necessidade de se realizar a ressonância na carótida a partir do resultado positivo de um exame de sangue chamado proteína C reativa, hoje bastante popular, que detecta o desprendimento de placas de gordura em artérias no organismo. O segundo aspecto é a descoberta de uma regulagem específica do equipamento de ressonância magnética utilizado na maioria dos grandes hospitais brasileiros (incluindo os do SUS) para que ele detecte micro-hemorragias nas placas de gordura da carótida, identificadas através de um sinal de alto brilho, evidenciado nas imagens.
- No Brasil, há em torno de 250 mil novos casos de derrame por ano. Cerca de 90 mil são provocados por desprendimento de placas de gordura da carótida. A técnica que desenvolvemos, a partir desse estudo, aplica-se a este contingente de pessoas. Dessas 90 mil, em torno de 20 mil morrem por ano - informa Luciano Albuquerque.
A partir da detecção das micro-hemorragias que anunciam o desprendimento, o paciente é submetido à cirurgia ou a remédios agressivos que eliminam o problema. Antes da técnica, não havia como prever quando aconteceria o desprendimento e, conseqüentemente, o derrame.
Fatores de risco
Entre os fatores de risco que levam alguém a ter placas de gordura na carótida, Albuquerque cita o fumo, a hipertensão ou mesmo a predisposição genética - os mesmos do infarto e outras doenças coronarianas. Nesses casos, é indicada realização do exame proteína C reativa, ao menos, a cada ano. Em caso de resultado positivo, a nova técnica seria indicada.
Devido à facilidade de sua implementação, o novo exame já é utilizado no Hospital da PUC-RS - onde foi realizada a pesquisa - e no Hospital Mãe de Deus (SUS), ambos em Porto Alegre. Para que um hospital realize o exame, basta que na unidade exista um aparelho de ressonância nuclear magnética de alta resolução, equipamento comum na maioria dos grandes hospitais brasileiros, inclusive naqueles que atendem pelo SUS. O exame é possível depois que uma configuração específica, resultante da pesquisa, é feita no painel eletrônico da máquina.
- Outras pesquisas estão sendo feitas no Rio Grande do Sul, buscando, inclusive, identificar as predisposições genéticas que podem levar à formação das placas de gordura - anuncia Albuquerque.
Fonte: JB Online