terça-feira, dezembro 25, 2007

Vítima da omissão

Comerciante morre por não encontrar atendimento no Hospital Geral João Batista Caribé


Flávio Costa
m clima de revolta, o corpo do dono de bar, Ivan Santos da Conceição, foi enterrado no Cemitério Municipal de Periperi, ontem à tarde. Vítima de enfarto aos 43 anos, ele foi levado com dores no peito para o Hospital Geral João Batista Caribé, em Coutos, durante a madrugada. Ivan não recebeu atendimento, pois não havia médicos no plantão. Morreu a caminho da emergência municipal de Plataforma.
A uma hora da madrugada, Ivan, que era cardiopata, fechou o boteco que tinha em Vista Alegre, no subúrbio ferroviário. Começou a passar mal duas horas depois enquanto dormia. “Ele começou a sentir falta de ar”, conta a única fi-lha, Vanessa, 14 anos. Levado de carro às pressas por dois cunhados e a mulher, ele chegou ao Caribé por volta das 3h30, mas não foi atendido. Não havia médicos no plantão.
“Dois seguranças nos disseram que era para a gente levar ele para outro lugar. Nem passamos do portão. Ele estava gritando de dor”, diz um dos cunhados, José Ramos Oliveira. Os parentes resolveram ir para a emergência municipal de Plataforma, mas Ivan não resistiu. “O médico que o atendeu disse que, se ele fosse socorrido 20 minutos antes, ainda estaria vivo. Ele morreu por omissão de socorro no Caribé”, atestou o cunhado.
Velório - A indignação deu o tom ao velório no Conselho de Moradores de Vista Alegre. Vizinha de Ivan, a empregada doméstica Maria Graças da Silva, 33, afirmou que um caso como este mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Ela declara que no último dia 5 sofreu uma torção no pé, mas também não foi atendida no Caribé. “Eu tive que voltar para casa e pegar uma carona para o Ernesto Simões Fi-lho (Pau Miúdo). ‘‘Como é que pode o único hospital do subúrbio não ter médicos para atender?”, questiona.
A família de Ivan afirma que denunciará o caso ao Ministério Público Estadual. “É uma sensação de revolta e indignação muito grande. É um absurdo saber que alguém morre deste jeito”, declara o aposentado Ronaldo Junqueira, amigo de Ivan.
A reportagem esteve ontem, à tarde, no Hospital João Batista Caribé. O coordenador de plantão, que se identificou apenas como Jorge, declarou que chegou ao hospital para trabalhar às 7h. “O coordenador do turno anterior não me revelou que tinha acontecido nada de anormal”. Ele disse que a unidade só vai se pronunciar oficialmente sobre assunto amanhã quando a diretoria estará presente. “Neste momento (às 15h30), estamos com o quadro de médicos completo, mas eu não posso responder por algo que aconteceu em outro plantão”.
Fonte: Correio da Bahia