O vereador e policial civil licenciado, Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB) foi preso ontem após nove meses de investigação da Polícia Civil sobre a atuação das milícias (grupos paramilitares formados por policiais e bombeiros) na Zona Oeste do Rio. O irmão dele, o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM), também foi indiciado e não foi preso por ter imunidade parlamentar.
A "Operação Latifúndio" resultou no indiciamento de 11 pessoas, apontadas como lideranças das milícias, que exploram o transporte alternativo de passageiros (vans e Kombis), a distribuição de gás, TV a cabo pirata e, principalmente, a cobrança de segurança em favelas da região. Todos são acusados de formação de quadrilha associada ao uso de arma de fogo. Seis indiciados estão foragidos.
Jerominho foi detido ao ir à 35ª Delegacia de Polícia para saber sobre a prisão do filho, o PM Luciano Guimarães, acusado de integrar a quadrilha. Ao chegar ao distrito, foi informado que sua prisão preventiva foi decretada pela desembargadora Mônica di Piero. "Não faço parte de milícia. Estou sendo preso sob a acusação de combater o tráfico de drogas. Não é minha tarefa, minha função é atuar como parlamentar", disse o vereador.
O advogado de Jerominho, Raimundo de Matos, negou as acusações e disse que entrará com pedido de habeas-corpus. "Houve uma esforço muito grande da Polícia Civil, Polícia Militar, com a colaboração da Polícia Federal e a participação do Ministério Público. Foi uma ação emblemática, pois sempre fomos cobrados sobre a atuação destes grupos", disse o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, referindo-se ao ineditismo da ação da polícia contra as milícias.
O chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, disse que o grupo planejava assassinar o delegado-titular da Polinter, Herald Espínola, alvo de discursos de Natalino na Assembléia Legislativa, onde o parlamentar defende um projeto de legalização das milícias.
A investigação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) aponta que os milicianos se organizaram há oito anos. Há registros de homicídios, coações e extorsões cometidos pelo grupo desde 2005.
Execuções
Segundo fontes da polícia, o plano da quadrilha é dominar toda a Zona Oeste. A polícia não divulgou o faturamento da mílicia com o crime, mas possui informações que algumas cooperativas pagam R$ 8 mil por mês para circular em áreas dominadas por paramilitares. Os veículos são identificados com adesivos do Batman. A ousadia do grupo é traduzida em rondas pela Zona Oeste. Armados com fuzis e vestidos de preto, os milicianos realizam inúmeras execuções, como a do ex-PM Ilton Nascimento, em abril, com mais de 80 tiros.
"Sabemos que a mesma arma que matou o inspetor Félix (que comandava a milícia na favela de Rio das Pedras) em fevereiro foi usada por este grupo na tentativa de homicídio de um policial civil na Região dos Lagos", disse o delegado-titular da Draco, Cláudio Ferraz.
A prisão de Jerominho foi acompanhada por uma mega-operação que mobilizou 400 policiais civis e resultou na apreensão de 140 Kombis e vans utilizadas para transporte irregular, o fechamento de duas centrais de distribuição de sinal pirata de TV a cabo, dois homens presos por porte ilegal de arma e duas locadoras fechadas.
No último sábado a polícia, em operação semelhante, prendeu dez homens em flagrante por porte ilegal de arma, estourou nove centrais clandestinas de TV a cabo, apreendeu 80 Kombis e fechou uma rinha de galo.
Fonte: Tribuna da Imprensa