domingo, dezembro 02, 2007

Poder - Cargo de líder abre guerra no PSDB

Leandro Mazzini
brasília. Mal pousou no topo do ninho tucano, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) depara-se com dois problemas e terá de se esforçar para não deixar exposto um racha no partido que agora preside. Não bastassem as disputas discretas entre mineiros e paulistas em torno dos governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), que pleiteiam a indicação como candidatos do PSDB à presidência, agora é a bancada de deputados que entrou na contramão da sinergia pregada pelo partido. Em má hora, aconteceu o que todos queriam evitar: a troca no comando do partido acabou por antecipar a disputa pela liderança na Câmara, hoje sob o comando do paulista Antônio Carlos Pannunzio. Guerra convocou para terça-feira, às pressas, uma reunião com toda a bancada para tentar abafar a briga.
O líder fica no cargo até fevereiro. Mas há quem defenda no partido a escolha já este mês do novo líder, que tomará posse ano que vem. As conversas de bastidores acabaram por dividir a bancada de 57 deputados em dois grupos, que lançaram seus candidatos. Um, com 31 parlamentares, apóia José Aníbal (PSDB-SP), ex-presidente nacional do partido. Outro grupo, liderado por Pannunzio e por Jutahy Junior (BA), quer indicar Gustavo Fruet (PR).
- Líder não se cria em laboratório. É um processo. Pannunzio e Jutahy começaram a cogitar meu nome antes de me ouvir. Agradeci a eles, mas esse processo todo começou errado. Falo com tranqüilidade, não sou candidato - ponderou Fruet. - Não formamos partido na soma dos ressentimentos.
O que ninguém nega dentro do PSDB é que o partido entrou em polvorosa. Os ânimos se exaltaram semana passada quando, num encontro de colegas na casa do deputado Rômulo Gouveia (PB), que apóia o nome de José Aníbal, chegou a notícia de que Pannunzio e Jutahy lançariam Fruet. O que o partido menos quer, neste momento, é mostrar-se dividido para a opinião pública. A ordem de abafar o caso partiu do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que se nega a interferir no assunto.
- Eu, como líder, vou tratar disso (a sucessão). Guerra tem todo o direito de acompanhar a situação, mas a decisão é nossa - alerta Pannunzio.
Os tucanos têm outro receio, além do perigo de a batalha expor as feridas do partido: a de que essa disputa interna envolva os grãos-tucanos. José Aníbal é ligado ao ex-governador Geraldo Alckmin. Jutahy, que defende Fruet, é da ala de José Serra.
- Prefiro não falar, é uma situação delicada - diz Aníbal. - Não queria que misturassem a sucessão presidencial com a liderança. Pannunzio é o nosso líder até fevereiro e ponto.
Sérgio Guerra ainda tentará contornar outra situação. A bancada paulista, que reúne mais de uma dezena de deputados, se mobiliza para emplacar um dos seus na sucessão. Seria Aníbal. Enquanto isso, em outra frente, os deputados "novatos" na Câmara cobram mais espaço no diálogo. São os ex-estaduais e ex-prefeitos que chegaram a Brasília e reivindicam o mesmo trânsito na executiva que os veteranos desfrutam. Na reunião de terça-feira, na sede do partido em Brasília, no entanto, o foco é a disputa pela liderança. A se concretizar a pretensão de alguns grupos sobre o tema, haverá constrangimento, prevêem membros da executiva.
- O que tenho ouvido é que vão fazer uma reunião para antecipar a escolha do líder para dezembro - observa o deputado Mendes Thame, presidente regional do PSDB em São Paulo. - Nesse caso, estamos mutilando dois meses de liderança. O que pode ser discutido é o método para a sucessão. Agora, a escolha tem que ser feita no momento certo.
Apesar de também dizer ser cedo para iniciar a escolha do próximo líder, Jutahy Junior não admite que não haverá, desta vez, um consenso em torno de um líder, como foi a escolha de Pannunzio no início deste ano.
- O que há é uma precipitação de tentar antecipar a eleição. Mesmo que haja uma disputa, deve ser feita com ética. O essencial é que se respeite o mandato de Pannunzio.
Fonte: JB Online