Tribuna da Bahia on line de 12.12.2007.
Eles são coloridos, muito cheirosos, mais baratos e vendidos nas feiras livres ou de porta-em-porta, o que facilita a comercialização. Mas, por trás do aroma, das cores fortes e dos preços baixos, pode se esconder um produto ineficiente ou até mesmo prejudicial à saúde. Um alerta para quem prefere comprar produtos de limpeza falsificados.
A afirmação vem do químico Celso Miranda de Lima. De acordo com ele, a confecção desse material é relativamente simples, mas a origem é duvidosa. “Eles não desinfetam o ambiente por não terem a quantidade necessária do princípio ativo necessário”.
Conforme ele, esse material chama a atenção pelo preço menor que o de mercado e pela coloração. Porém, existe uma falta de respaldo na segurança dos consumidores. “Não tem nenhuma fiscalização na preparação técnica, que geralmente é feita com a dosagem do principio ativo errada, para menos ou maior quantidade.
O que pode interferir não só na eficiência, mas na saúde de quem utiliza”. Salientou ainda, que os principais consumidores eram as classes D e E. “Mas agora, pessoas das classes A, B e C também estão aproveitando os valores. Talvez, por que na maioria das vezes, quem faz as compras nas feiras livres desses lares são as domésticas”.
A Fundação Instituto de Pesquisa da Universidade de São Paulo (FIP/USP), informou que de 2001 até o inicio desse ano, cresceu em mais de 40% o consumo de desinfetantes clandestinos. Conforme o Instituto, o aumento prevalece nas águas sanitárias, que circulam em maior quantidade no Brasil e são mais fáceis de serem feitas.
Esses produtos deveriam estar registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que não acontece nos de origem clandestina. Sequer possuem rótulo, indicando a dosagem de cada item na confecção. Outro alerta é da dermatologista Graça Brito.
De acordo com ela, esses desinfetantes clandestinos podem causar além de pequenas alergias, até queimaduras de pele. “É importante saber a formulação”. É freqüente ocasionar dermatites de contato – uma reação inflamatória da pele em decorrência de um agente agressor externo, podendo ter maior ou menor grau de gravidade.
Em caso de intoxicação é de fundamental importância que a vítima leve também à unidade de saúde, o rótulo do produto causador do problema. “Dessa forma poderemos saber o principio ativo e tratar o foco principal. Os clandestinos são feitos com materiais duvidosos”, salientou. É de fundamental importância que o consumidor observe todos os princípios ativos dos produtos adquiridos, assim como as embalagens. Não podem estar violadas e a quantidade de cloro utilizada, por exemplo, deve estar destacada”, salientou o químico.
Estima-se que o Brasil deixa de arrecadar R$ 30 bilhões ao ano por causa dos produtos piratas, de acordo com os dados do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco). Para tentar conter o uso e a fabricação indiscriminada desse material, a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de limpeza e Afins (Abipla), criou um fórum de denúncias. “Também preparou seminários e cartilhas para a população”, destacou Celso Miranda de Lima, que também é um dos diretores das Indústrias Anhembi. De acordo com ele, o interessado pode acessar o site www.abipla.org.br para visualizar as indicações.
A dona-de-casa Fernanda Costa, 39 anos, sempre utiliza produtos pirateados para realizar a limpeza da residência. “Nunca tive nada. Acho que tem um aroma agradável e limpa direitinho. Além de serem muito mais baratos que os outros vendidos em supermercados. O melhor! Nem preciso sair de casa para comprar, o vendedor passa aqui toda semana”, disse ao mesmo tempo que pegava uma garrafa pet com um liquido azul e jogava no chão.
Concordando com a dona-de-casa, Ricardo Silva, 25, destacou que a fabricação dos desinfetantes é feita de forma totalmente correta. “Faço isso há tempos e nunca tive problemas com meus clientes, pelo contrário, sempre recebo elogios”. Segundo Ricardo, a questão da falta de rótulo nas embalagens é meramente burocrática. “Não temos empresa constituída, por ser muito dispendioso e o governo não colabora com as pequenas empresas como a minha. Aprendi a fazer os desinfetantes num curso, aqui mesmo em Salvador”. Ricardo informou que a existência de cursos não se limita aos detergentes.
“Sei fazer xampu, sabão e detergente para lavar louça”. Ainda de acordo com ele tudo pode ser aprendido “em programas de televisão". (Por Karina Baracho)