Leandro Mazzini
Brasília. A batalha da prorrogação da CPMF ganhou mais um capítulo ontem baseado em hipóteses e barganhas, e desta vez envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente licenciado do Senado. Na véspera da votação em plenário do segundo pedido de cassação de Renan por quebra de decoro parlamentar, a oposição não perdeu a oportunidade ontem de ligar o caso à negociação do governo para aprovar a PEC. O líder do DEM, José Agripino Maia (RN), acusou o PT de esboçar um conluio com o PMDB aproveitando a votação secreta. Para contar com o apoio da maioria da bancada peemedebista na CPMF, semana que vem em primeiro turno, os petistas votariam hoje contra a cassação do alagoano, sustentou Agripino.
- A sorte de Renan está nos seis votos de abstenção que o PT teve no primeiro processo - observa Agripino. - Se eles optarem pela cassação, Renan estará cassado, porque a oposição vai manter os 35. Se migrarem para a absolvição, fica claro o acordão do Palácio do Planalto com o PMDB pela aprovação da CPMF.
Em meio à polêmica, a maioria dos parlamentares evitou dar parecer. O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, foi exceção. Aposta que Renan se livra, e sua tese corrobora a de Agripino.
- Acho impossível ele cair. Se já teve 46 votos antes, agora, com a CPMF na pauta, (os governistas) não vão querer abrir uma ferida.
Renan se comprometeu a renunciar ao cargo em troca da absolvição, num acordo de bastidores. Esperam que isso aconteça hoje, antes ou depois da votação, cuja sessão será aberta. No início da noite, porém, o Palácio do Planalto entrou no circuito e Renan deve esperar mais um pouco para anunciar a saída de cena. Há o receio de que o anúncio e o inevitável processo sucessório incite uma crise interna no PMDB pela vaga, embaralhe a pauta e atrapalhe a tramitação da CPMF.
- A questão de renunciar ou não ao cargo cabe a ele decidir - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que insistiu em dissociar o caso Renan da CPMF. - A PEC é uma matéria que tramita independentemente do caso Renan.
São precisos 41 votos para que Renan perca o mandato. No primeiro processo, no qual foi absolvido, Renan foi julgado por suspeita de pagar pensão a uma ex-amante com dinheiro de um lobista de uma construtora. A oposição reuniu apenas 35 votos. Na votação de hoje, na qual o senador é acusado de comprar duas rádios e um jornal usando "laranjas" em Maceió. Agripino avalia o PT como o fiel da balança.
A grita de Agripino chegou aos ouvidos do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que declarou abstenção no primeiro processo. Houve, à época, especulações de que as seis abstenções tenriam sido de senadores petistas para ajudar Renan.
- Não é verdade que os seis votos foram do PT. O Mão Santa (PMDB-PI) declarou publicamente que se absteve - lembrou Mercadante. - No PT, cada um votará como quiser. Eu votarei pela cassação, porque considero que as provas testemunhais e documentais sustentam a acusação.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também declarou voto.
- Não faço prognósticos. Mas meu voto, e digo isso para toda a nação, é pela cassação - disse Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado.
A nova denúncia da Veja, no fim de semana, de que Renan teria usado a Polícia do Senado para espionar adversários, vai ser investigada pelo corregedor da Casa, senador Romeu Tuma (DEM-SP), que se disse pego de surpresa com o caso.
- Não sei se haverá absolvição, mas é claro que a denúncia afeta a votação - avaliou Tuma, para depois ponderar. - Temos que separar as coisas. Não acredito que os senadores se deixem influenciar preliminarmente por denúncias.
Fonte: JB Online