Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Caiu a máscara: Fernando Henrique Cardoso não conseguiu segurar por mais tempo. Esta semana admitiu candidatar-se à presidência da República, em 2010, embolando ainda mais a esquadrilha dos tucanos no céu de São Paulo. Sua participação nos entreveros da fracassada prorrogação da CPMF serviu para inflar-lhe de tal maneira o ego a ponto de reconhecer a ambição.
Agiu pretendendo dois objetivos: prejudicar a administração Lula e, ao mesmo tempo, infringir uma derrota nos concorrentes José Serra e Aécio Neves. Perguntado a respeito de sua candidatura, cedeu, respondendo que "insistem muito, ainda não decidi".
Mentira. E dupla, porque decidir já tinha decidido faz muito, talvez desde o dia em que passou a faixa ao sucessor. E quanto a insistirem, seria bom fulanizar os insistentes. No Alto Tucanato, talvez apenas o senador Artur Virgílio, cujos dotes de coroinha vinham sendo escondidos.
O novo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, defronta-se com seu primeiro grande problema. O que fazer para baixar a bola e evitar a ampliação do racha agora começando a se abrir? O senador pernambucano já foi aconselhado a entrar em contato com universidades, centros de altos estudos políticos, associações internacionais e até governos nacionais para conhecer a agenda de seminários e conferências previstas para o próximo ano em todo o planeta.
A solução seria inscrever o sociólogo em todos, negociando ou, mesmo, oferecendo-se para arcar com as despesas de viagem e os altos honorários a que faz jus o palestrante. Assim, ele ficaria longe do ninho dos tucanos, pelo menos até que a natureza das coisas seguisse o seu curso e, no correr do ano que vem, revelasse José Serra ou Aécio Neves como candidato. A fixação da candidatura de um dos dois governadores afastaria o risco de quebra na unidade do partido.
Brada aos céus a pretensão de FHC, que se imagina o maior de todos os governantes de nossa História. A moda até pegou no Lula, mas essa é outra conversa. O ex-presidente quer voltar ao Palácio do Planalto para quê? Só se for para privatizar o que falta, ou seja, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
Quem sabe para dar seqüência ao projeto de venda da Amazônia? Ou para isentar por completo de impostos os especuladores estrangeiros? Talvez para revogar de uma vez por todas os direitos sociais e trabalhistas que sobraram de seus dois mandatos. Certamente para torpedear o Mercosul e reviver a Alca.
A luta nos municípios
Quando janeiro chegar as cartas estarão sendo postas na mesa. Fala-se das eleições municipais do ano que vem, com ênfase para a disputa pelas prefeituras das capitais. Pesquisas recentes começam a mostrar os percentuais de popularidade dos possíveis candidatos, reconhecendo todos os partidos que em 2008 serão jogadas as preliminares de 2010. Para recuperar-se e alimentar sonhos de permanência no poder, o PT precisa disputar e vencer em cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e outras.
Assentadas essas bases, os companheiros poderiam até arquivar a proposta do terceiro mandato para Lula. O problema é que os demais partidos pensam igualzinho. Os tucanos, por exemplo, sem descuidar dos estados do Sul e do Sudeste, precisarão assentar ninhos no Norte e no Nordeste. Formar bases sólidas em regiões onde são fracos de voto. Dessa forma seu candidato presidencial, qualquer que venha a ser, ocuparia a pole-position.
O PMDB já foi o maior partido nacional. Décadas atrás conseguiu eleger todos os governadores estaduais, menos um. O tempo passou, como passaram as veleidades de conquista da presidência da República, capazes de ser revividas apenas na hipótese de uma excepcional performance nas capitais dos estados.
Os democratas refundaram a desgastada legenda do PFL e imaginam que, elegendo número razoável de prefeitos e vereadores, terão chance de aumentar suas bancadas no Congresso, em 2010. Como provavelmente seguirão na esteira do PSDB, nas eleições presidenciais, poderiam ao menos potencializar sua participação num hipotético e futuro governo tucano. No reverso da medalha, ganhando o candidato do presidente Lula, nada melhor do que uma oposição reforçada por número maior de deputados e senadores.
Objetivo que começa na eleição de prefeituras importantes. Quanto aos demais partidos, a mesma coisa. Se não podem aspirar a eleição de muitos prefeitos de capital, centralizariam seus esforços numa ou outra grande cidade, dispondo de trunfos razoáveis para enfrentar o futuro.
Fonte: Tribuna da Imprensa