sábado, dezembro 01, 2007

Coisas da Política - Ainda é tempo de prevenir

O turismo internacional descobriu as capitais do Nordeste e invade as praias incomparáveis de areia que parece intocada, banhadas pelo mar colorido. Nunca chega sozinho. Geralmente mal acompanhado pela ganância dos ansiosos por ocupar os melhores espaços. Não estou contando novidades. Trago o testemunho da preocupação que cruza dois exemplos que se completam. Estive há poucos anos em João Pessoa e lavei os olhos no surpreendente panorama da orla marítima preservada, com residências particulares, raros prédios de apartamentos, lojas no decoroso limite de dois pavimentos.
O segredo encerra uma lição de energia e sensibilidade de um político que deixou a marca de celebrada coragem que se concentrava no corpo mirrado de nordestino e tantas vezes posta à prova ao longo de uma carreira que conheceu derrotas e vitórias, mas construiu a própria estátua.
João Agripino Maia chegou ao governo da Paraíba durante a ditadura militar. E teve o bom senso de usar as facilidades de um regime de exceção para deter no nascedouro a maré suja da construção de prédios em frente à praia. E foi às últimas: atualizou, ampliou o plano diretor da capital para estabelecer as normas para toda a orla marítima do Estado, escalonando gabaritos de extrema severidade. Na quadra em frente à praia, dois pavimentos, nas seguintes a tolerância progressiva de três, quatro, cinco andares.
Pronto o projeto, a solução perfeita do encaminhamento à Assembléia Legislativa como proposta de emenda constitucional. Desdenhou a grita dos empreiteiros locais e estrangeiros e empurrou de goela abaixo a aprovação da emenda que qualifica a Constituição paraibana como um exemplo que ainda não foi seguido. Pois soaram as badaladas de advertência ou de alarme e não há tempo a perder. Não tenho informações atualizadas sobre a exata situação de todas as capitais do Norte, do Nordeste e do Centro.
Volto a Natal. No segundo mandato, o jovem prefeito Carlos Eduardo Nunes Alves realiza uma administração criativa, com várias iniciativas culturais, como o Congresso Natalense de Escritores, pelo segundo ano realizado com enorme sucesso popular. E vem travando, a duras penas, a guerrilha contra a resistência de políticos e entidades de classe para deter e dar a volta na ocupação das áreas nobres da bela capital do Rio Grande do Norte. Por enquanto, vem ganhando todas as paradas nos acertos com os vereadores para a aprovação da reforma no plano diretor da capital, revendo gabaritos e demarcando as áreas para os limites da altura e do número de andares dos prédios.
Não se pode afirmar que seja uma solução perfeita. Choca a visão panorâmica de uma cidade luminosa, abençoada por uma localização excepcional, cercada de praias fantásticas, com originalidades como o cajueiro de Pirangi, com oito quilômetros de diâmetro, o maior do mundo; e uma população alegre, amável, acolhedora - os blocos de prédios imensos, alguns monstrengos de gosto duvidoso, com faixas coloridas parecendo saias de baiana, mas que enfim obedecem às normas do plano.
O prefeito Carlos Eduardo conta com a solidariedade da governadora Wilma Maia na luta para preservar a capital encantada, no seu melhor momento. E raspando nos limites de 800 mil habitantes e mais 230 mil da população flutuante. Restam algumas áreas que podem ser ampliadas.
A preservação de Natal é uma bandeira de luta que tem de ser empunhada pela população. E a lição de João Agripino ensina a saída: o campo para a batalha final é a Assembléia Legislativa para emoldurar a receita para a salvação de Natal e de todas as cidades ameaçadas na Constituição do Rio Grande do Norte.
Fonte: JB Online