quinta-feira, novembro 08, 2007

Rodovias federais continuam em estado de calamidade

Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes mostra que 74% das estradas estão comprometidas


BRASÍLIA - Apresentada ontem, a Pesquisa Rodoviária 2007 da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que as rodovias federais continuam em estado de calamidade. De acordo com o levantamento, 74,2% das estradas administradas pela União sofrem com problemas de pavimentação, sinalização ou desenho. O índice é praticamente igual ao apurado no ano passado, quando 75% da malha federal, de 58 mil quilômetros de extensão, estavam comprometidos. ”Podemos concluir que a situação das rodovias no país está inalterada. Houve apenas uma pequena melhora na sinalização, de 5%”, resumiu o presidente da CNT, Clésio Andrade. Os trechos reprovados foram classificados como regulares (46,9%), ruins (19,8%) ou péssimos (7,5%).
De acordo com o relatório, dois terços das rodovias federais têm deficiências na sinalização, como placas encobertas pelo mato e ausência de faixas no asfalto. Na metade das estradas, os motoristas são obrigados a desviar de buracos, afundamentos ou ondulações. “A grande extensão da malha com pavimento deficiente é preocupante, pois, em função do tráfego e das intempéries, pode evoluir para situações críticas de segurança”, adverte o estudo. A má conservação das rodovias é um dos principais gargalos que atrasam o crescimento do país, acrescenta o relatório, que estima em R$23,4 bilhões o volume de investimentos necessários para recuperar a malha viária brasileira.
O cálculo não inclui obras de ampliação de duplicação de rodovias. O percentual de estradas comprometidas apresenta uma queda ligeira, para 73,9%, quando se somam as rodovias estaduais e as concedidas à iniciativa privada. Os técnicos da CNT avaliaram, no total, 87 mil quilômetros de estradas, em inspeções que duraram 40 dias em todos os estados do país. A pesquisa registra falhas em elementos básicos de segurança no trânsito. Não há acostamento em 42,5% das rodovias avaliadas e, em outros 4,6% dos trechos, a pista de emergência está tomada pelo mato. Nas estradas com pontes e viadutos, apenas 23% têm acostamento ou defensas para proteger os motoristas. O mapa das rodovias brasileiras mostra que a situação é mais grave nas regiões Norte, onde os trechos considerados regulares, ruins ou péssimos chegam a 91,2%; e Nordeste, onde a soma atinge 86,3%.
Entre os estados, o pior caso é o de Roraima, onde nenhuma rodovia foi classificada como boa ou ótima. O melhor exemplo é o de São Paulo, líder no ranking de concessões à iniciativa privada, onde apenas 26,8% das estradas registram problemas. No entanto, o presidente da CNT criticou o alto valor dos pedágios cobrados no estado: “As novas licitações do governo federal mostram que é possível melhorar as rodovias sem que os motoristas sejam tão onerados”.
O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, não quis comentar o estudo. Subordinado à pasta, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), responsável pela manutenção das rodovias federais, divulgou nota em que considera o resultado animador, apesar das declarações do presidente da CNT. De acordo com o texto, a pesquisa “deu destaque à melhora nas condições da sinalização de rodovias em todo o país, e no estado geral das rodovias federais, em relação ao ano passado”. Segundo o diretor geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, “os investimentos do governo nos últimos anos estão produzindo bons resultados”. (AG)
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Tapa-buracos não funcionou
BRASÍLIA - Dos 109 trechos percorridos pelos técnicos da Pesquisa Rodoviária 2007 da CNT, o campeão de problemas é o trajeto da BR-222 que liga os municípios de Açailândia e Miranda do Norte, no interior do Maranhão. A estrada, de cerca de 400km de extensão, recebeu nota 44,9 na escala de 1 a 100 que avalia as condições de pavimento, sinalização e desenho das rodovias. Administrado pelo governo federal, o trecho foi incluído no mapa de obras da Operação Tapa-buracos, que fez reparos emergenciais em rodovias de todo o país no ano passado. No entanto, os pesquisadores constataram que os problemas não demoraram a voltar: falta acostamento, o asfalto está esburacado e não há placas para indicar os pontos mais perigosos.
Um longo histórico de fraudes em licitações e desvios de recursos para a compra de material de construção ajuda a explicar o péssimo estado da rodovia. Em março, o Tribunal de Contas da União multou um dirigente do Departamento Nacional de Infra-estrutura em Transportes (Dnit) em R$12 mil por irregularidades em obras de recuperação do trajeto. O relator do processo, ministro Mascos Vinicios Vilaça, listou indícios de dispensa indevida de licitação, negligência e superfaturamento em contratos. Na decisão, o TCU determinou uma nova tomada de contas para apurar o caso.
O prefeito de Açailândia, Ildemar Gonçalves (PSDB), diz que a péssima condição da rodovia provoca acidentes graves com freqüência e isola os moradores do pequeno município rural, a 550km de São Luís. “A estrada está muito ruim. Não tem acostamento e o asfalto é só buraco”, resume, antes de culpar os parlamentares do estado pela falta de conservação da rodovia.” O governo aí em Brasília não tem obrigação de saber dessas bagunças”.
O superintendente do Dnit no Maranhão, Gerardo de Freitas, não foi encontrado na sede do órgão para comentar os problemas. Mas o site da autarquia se encarrega de alertar os motoristas sobre os perigos da estrada. “Pista de rolamento e acostamento em condiçoes precária e com muitos buracos. Sinalização horizontal e vertical ruins”, resume o texto, que ainda cita a existência de “curvas perigosas com acúmulo de terra e erosões” e recomenda cautela aos motoristas que se arriscarem a percorrer o trajeto à noite. (AG)
Fonte: Correio da Bahia