Polícia prende oito jovens de classe média alta acusados de tráfico de drogas
A Polícia Civil prendeu ontem oito jovens de classe média e média alta do Rio acusados de integrar uma quadrilha que vende maconha, haxixe, crack, cocaína, ecstasy e LSD. O nono integrante do bando já estava preso por roubo, mas também foi indiciado por tráfico e associação para o tráfico. Eles já foram denunciados pelo Ministério Público (MP). Uma adolescente envolvida com o grupo foi levada para prestar depoimento e liberada em seguida.
O grupo vendia drogas para amigos de escola e universidade, para festas rave, boates e até mesmo nas ruas de bairros da Zona Sul. As drogas eram compradas em morros cariocas, como o Dona Marta, em Botafogo (Zona Sul), e o Jacarezinho, na Zona Norte.
A Operação Octógono - em alusão a um ringue de Vale Tudo, já que alguns dos jovens são envolvidos com lutas marciais - começou às 5h e teve a participação de 50 policiais da Delegacia Contra as Drogas (Dcod). A maior parte dos presos morava em endereços caros da Zona Sul do Rio, como as ruas Fonte da Saudade, na Lagoa, e Cupertino Durão, no Leblon.
Um deles, Pedro Paulo Farias David, de 23, foi preso dentro da sala de aula do curso de Administração da Faculdade Estácio, no Centro. Apenas um deles, o taxista Renato Magdalena, de 31 anos, que servia aos traficantes, foi preso na Penha, bairro do subúrbio do Rio.
Uma das surpresas dos policiais durante a investigação foi com o linguajar e expressões usados pelos jovens nas interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça. "São os mesmos diálogos travados por traficantes do morro. Você ouve o diálogo de um deles, que mora numa rua chique na Lagoa, e acha que está ouvindo o gerente de uma boca-de-fumo de um morro qualquer. As pessoas sentem pena, mas são tão bandidos quanto os do morro", contou o delegado Fábio Cardoso, que participou da operação.
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, disse ficar mais assustado com a "juventude que a sociedade está produzindo". "A polícia tem que agir contra a criminalidade sem discriminação de rico ou pobre. Essa não é uma quadrilha de usuários, é uma quadrilha de traficantes. É um problema social que passa pela família, pelas amizades que levam os jovens ricos ao tráfico", afirmou.
A Quadrilha
A investigação durou cinco meses e começou com a infiltração de policiais mulheres em festas rave e boates. A partir daí, a polícia começou a identificar os integrantes do bando e a grampear telefones. Segundo a delegada titular do Dcod, Adriana Amorim, foram feitas mais de 16 mil ligações. "Isso indica que eles falavam muito no telefone".
O estudante universitário Bruno Pompeu D' Urso, de 18 anos, é a principal figura da quadrilha, sendo responsável pela compra de drogas em morros cariocas. "É o atacadista do grupo que fornece para o que seriam seus gerentes", afirmou Cardoso. O delegado contou que no momento da prisão a empregada da casa chorava mais que a mãe, que é separada.
"Ela foi babá dele. Enquanto a mãe parecia decepcionada, mas não indignada, a empregada estava aos prantos e pediu demissão na hora da prisão. Disse que tinha dignidade e que não ia trabalhar na casa de traficante", contou. Mineiro e também universitário, Rodrigo de Luca, 19, era sócio de D' Urso e morava sozinho no Leblon.
Jessica de Albuquerque e Corrêa, de 18 anos, era namorada de Bruno e, segundo a polícia, já apanhou drogas para ele algumas vezes. Fábio Luiz Cardoso da Silva, de 26 anos, Mycon Igor Scoralick, de 20 anos, e Rafael Luiz de Vasconcelos Passos, de 19 anos, também faziam parte do grupo. Thiago Castilho Gama, de 24 anos, morador de Copacabana, já estava preso por roubo.
A adolescente de 17 anos, portuguesa e namorada de Passos, foi levada para o Juizado Especial de Infância e Juventude e responderá em liberdade também a processo por tráfico e associação para o tráfico. Segundo a polícia, minutos depois da prisão, ela confessou para a mãe que vendia drogas na escola porque "tinha a cabeça fraca" e gostava de dinheiro.
Orkut
As páginas do Orkut, o site de relacionamento na internet, de Rafael Luiz de Vasconcelos Passos e de sua namorada, a adolescente de 17 anos, já traziam quarta-feira mensagens de seus amigos comentando a prisão. Um deles foi sarcástico: "é Passos....bom de bola....cheio de condição financeira, precisava se envolver?....quem vai pela cabeça dos outros é piolho....se cuida irmão.....Paz, Justiça e Liberdade !!"
Outra jovem foi mais cruel. No Orkut da menor, estudante do 3º ano de um colégio tradicional no Rio, no Catete, bairro da Zona Sul, deixou o seguinte recado: "pena que é menor de idade.. merecia ir junto". No Orkut de Rafael, a jovem foi mais dura: "se f.... seu traficantizinho de m...".
O Orkut da adolescente é cheio de mensagens de amor para Rafael. Os dois se declaram "casados". Entre as comunidades de Rafael, está a Fúria Jovem do Botafogo, torcida com base no Edifício Rajah, prédio na Praia de Botafogo que ganhou má fama nos anos 80 pelo envolvimento dos seus moradores com crimes.
FONTE: Tribuna da Imprensa