Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Transcorreu esta semana o Dia da Bandeira. Salve! Salve! O problema é que andam exagerando, no Congresso, sabe-se lá se por falta de aptidão para debater a CPMF ou o terceiro mandato.
O competente senador Cristovam Buarque sugeriu mudar a bandeira brasileira: em vez do "Ordem e Progresso" no globo central, quer "Educação e Progresso". Providenciou até um modelo gigante, que mandou plantar nos jardins do Legislativo.
Já o senador Eduardo Suplicy prefere acrescentar outro valor. Para ele, a mensagem da bandeira deveria ser "Amor, Ordem e Progresso". Em suas palavras, o País seria outro, dando lições para o mundo.
Convenhamos, além de quebrar tradições e de sepultar a História, estão beirando o ridículo. Abrindo as portas para que logo surja um parlamentar flamenguista propondo a mudança das cores verde e amarela por preta e vermelha. Ou algum cervejeiro pretendendo fazer a propaganda de sua marca preferida. Por que não "Ordem Para o Povo, Progresso para Nós", contribuição da Federação dos Bancos? Depois reclamam que a opinião pública é injusta ao negar credibilidade para o Congresso e os políticos.
Cinco anos de atraso
Na véspera de sua Convenção Nacional, o PSDB soltou um documento que, com todo o respeito, chega com cinco anos de atraso. Trata-se da defesa das privatizações efetuadas no governo Fernando Henrique Cardoso. Na campanha de 2002 o então candidato tucano, José Serra, omitiu de sua campanha a entrega do patrimônio público às empresas privadas, mas mesmo assim não adiantou. Perdeu para Lula. Em 2006, Geraldo Alckmin precisou levar um pito do ex-presidente Fernando Henrique para, num debate com Lula, referir-se às privatizações como uma alavanca para o desenvolvimento.
Agora, pretendendo redimir-se, o partido sai justificando as atabalhoadas e algumas vezes criminosas doações de patrimônio público a preço de banana como meta para o futuro. Estão jogando pela janela o inesperado patrimônio eleitoral conquistado nas últimas pesquisas. Porque se José Serra aparece como favorito, deixando para trás companheiros impossibilitados de decolar à sombra do presidente Lula, não será através de mais promessas de privatizações que se afirmará.
O que mais pretendem privatizar os tucanos, depois da Vale do Rio Doce, das telecomunicações, do subsolo, dos transportes, das ferrovias, do saneamento e da petroquímica? Atingirão o Banco do Brasil? A Caixa Econômica Federal? O que sobrou da Petrobras? Ou partirão para vender as Forças Armadas?
Tempo existe para o governador de São Paulo mandar parar com a brincadeira, dar um basta no festival de incompetência e declarar que as privatizações não farão parte de sua pregação.
Não se duvida da influência do sociólogo na redação e promoção do documento agora divulgado. Serão suas razões simples exigência de desagravos? Ou estaria pensando em... (cala-te boca).
Guerra paulista
A escolha por unanimidade do senador Sergio Guerra para presidente do PSDB envolve certas dúvidas. Sem o apoio dos paulistas que dominam o partido, o parlamentar pernambucano dificilmente teria chances. Presume-se, assim, que deva seguir a mesma linha do antecessor, Tasso Jereissati, cearense também com alma de paulista.
Presume-se, apenas, porque Sergio Guerra pode surpreender. Sabe, como aliás toda a tucanagem também sabe, que o PSDB será sempre o segundo colocado na disputa pelos votos do Sul e do Sudeste. A expansão do partido só poderá fluir no rumo do Nordeste e do Norte. Ou, pelo menos, para o lado de cá do túnel da Mantiqueira, quer dizer, de Minas para cima. Sob esse aspecto, a candidatura de José Serra à presidência da República surge como um obstáculo à transformação do PSDB em maior legenda nacional. Ainda que o governador paulista vença as eleições presidenciais, não transmitirá o plasma necessário ao controle do futuro Congresso.
A menos que se ressuscite o mensalão, só que de cabeça para baixo. Muita gente imagina Aécio Neves fora do páreo, em especial depois que o Supremo Tribunal Federal confirmou o fim da farra do troca-troca de partidos. Obrigado a permanecer no PSDB, o governador mineiro seria vencido por seu colega paulista. Ou Sérgio Guerra surgiria como fator de desestabilização das previsões?
Não quer, não quer, mas...
Sincero está sendo o senador José Sarney ao repetir mil vezes que não quer, não admite e não aceita sua candidatura à presidência do Senado, completando o mandato de Renan Calheiros. O ex-presidente da República tem até trabalhado para viabilizar eventuais candidatos, como Edison Lobão e Garibaldi Alves. O problema é que pelo menos até agora esses nomes não pegaram.
Diante da hipótese de as oposições e de setores governistas surpreenderem, lançando o senador Pedro Simon, fará o quê o senador José Sarney? Resistirá a um apelo do próprio presidente Lula para o sacrifício? Há quem julgue ser esse o limite, ainda que tudo no plano das hipóteses...
Fonte: Tribuna da Imprensa