BRASÍLIA - O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, cobrou ontem dos seus críticos que apresentem provas de que estaria utilizando critérios ideológicos para afastar pessoas dos quadros da instituição ou para apoiar pesquisas de outros centros. "As pessoas (que fazem esse tipo de acusação) têm que começar a apresentar elementos concretos", afirmou.
Ele disse que é "prisioneiro" de uma coisa que não fez, ou seja, um expurgo no Ipea, tirando economistas que não se alinham com as posições defendidas pelo governo Lula. Uma das acusações feitas a Pochmann é de que ele iria cancelar o apoio à pesquisa feito via a Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec), pois não teria como controlar a produção feita por pesquisadores "não alinhados" com as idéias defendidas pelo governo Lula. Ele negou essa acusação.
"Fizemos uma reunião com a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), que reúne os reitores das universidades federais, com o presidente do Crub (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e com as instituições de pesquisas estaduais", informou. "Teremos agora nesta semana uma segunda reunião na qual estabeleceremos uma rede de parcerias com universidades e instituições de pesquisa para ampliar a capacidade de investigação."
Segundo ele, isso significa que o Ipea está trabalhando para ter uma coordenação das investigações que ocorrem no Brasil. "Com isso, o Ipea terá melhores condições de desenvolver seu trabalho de planejamento." Pochmann considerou "normais" as mudanças feitas na diretoria do Ipea e disse que elas nada têm a ver com questões ideológicas. "Em todos os 43 anos do Ipea, toda vez que houve mudanças na presidência houve mudanças de diretoria", disse.
Segundo ele, as pessoas que foram colocadas nos cargos são pesquisadores e professores universitários. "Não tem nada ideológico."
Até agora, cinco diretores foram substituídos no Ipea. Pochmann afastou também os economistas Fábio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Régis Bonelli. Os dois primeiros são funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Eles estavam no Ipea por força de um convênio com o banco, que termina no dia 7 de dezembro deste ano. Gervásio Rezende e Régis Bonelli são funcionários aposentados do Ipea.
Os críticos do presidente do Ipea dizem que os quatro teriam sido afastados porque expressam idéias contrárias às do governo Lula. "Vejo (essa acusação) de duas formas. A primeira é que aqueles que argumentam nesse sentido (de perseguição ideológica) desconhecem as regras administrativas. Em segundo lugar, se conhecem, defendem que o Ipea pratique improbidade administrativa. Estou operando dentro das regras e acho um absurdo alguém falar em questão ideológica", argumentou.
Pochmann não fechou as portas do Ipea ao economia Fábio Giambiagi, caso o BNDES renove o seu convênio com o Ipea. "Como o presidente do BNDES não indica quem são os membros do Ipea, não cabe a mim indicam quem são as pessoas das instituições parceiras", afirmou. "Isso é uma questão do BNDES (renovar o convênio e indicar Giambiagi)", acrescentou.
A questão do aproveitamento dos aposentados iria ser discutida ontem por Pochmann com a sua diretoria. "Ano que vem, 200 colegas nossos vão se tornar aposentados porque cumprem seus requisitos", informou. "Temos que ver que instrumento a instituição pode utilizar para mantê-los ou de alguma forma estarem envolvidos com o trabalho do Ipea."
Fonte: Tribuna da Imprensa