Prefeito pode perder, inclusive, o apoio do próprio partido
O final de semana de intensas movimentações políticas em Salvador podem ser avaliadas como uma prévia do “inferno astral” que o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) está prestes a entrar. Abatido diante dos altos índices de rejeição de seu governo e das inúmeras críticas que tem recebido da oposição e até mesmo de aliados, como o PT, PSB e PCdoB, o prefeito vê a possibilidade de marchar isolado na campanha à reeleição em 2008. Isso se o PMDB, do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, der a legenda para ele entrar na disputa.
Como foi publicado pelo Correio da Bahia em agosto, caso João Henrique chegue às vésperas das prévias eleitorais, em junho do próximo ano, amargando índices de rejeição altos, o ministro poderá usar como “carta na manga” o lançamento das candidaturas dos deputados Walter Pinheiro, do PT, ou Lídice da Mata, do PSB. Geddel, como admite fontes próximas a ele, dá demonstrações públicas de que está empenhado em concentrar forças na reeleição do atual gestor. “Mas, como em política a movimentação é bastante intensa, não se pode descartar essa possibilidade de apoiar canditaturas de maior capilaridade na capital”, disse uma fonte peemedebista.
O entendimento hoje é que “não adianta virar agora as costas” para o atual prefeito. Mas todos _ no PT e PMDB _ reconhecem o processo desgastante que ele está passando. “Estamos trabalhando com a possibilidade de lançar uma chapa reunindo todos os partidos da atual base de sustentação em torno de João Henrique. Mas, se diante do momento decisivo do jogo o prefeito demonstrar que não possui força suficiente para desbancar o(s) adversário(s), infelizmente será substituído”, explicou o integrante do PMDB.
Outro assunto que tem tirado o sono do prefeito é a possibilidade, cada vez mais concreta, de o PCdoB lançar a vereadora Olívia Santana como candidata ao Palácio Thomé de Souza no próximo ano. No último sábado, os comunistas receberam o afago do governador Jaques Wagner (PT), que pretigiou a conferência estadual do partido, encerrada ontem – também com a presença do petista. Para o governador, “o lançamento de candidaturas em eleições majoritárias, além de construir um projeto político, também ajuda a credenciar pessoas”. Ao todo, existe a possibilidade de serem lançadas quatro candidaturas de partidos da base do gestor. Além dos comunistas, do PMDB e do PT, Wagner aponta a candidatura do tucano Antonio Imbassahy como a favorita entre os aliados.
Como o próprio petista reconheceu na última semana, não está descartada a tese de o PT entrar de vez na briga sucessória. Os petistas trabalham a passos largos para lançar os deputados federais Walter Pinheiro ou Nelson Pellegrino. Como já havia afirmado o presidente da executiva estadual, Marcelino Gallo, o Processo de Eleição Direta (PED) será o balizador do assunto. “O PED deverá nortear os rumos do partido de lançar ou não candidato próprio em Salvador”.
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PCdoB vai resistir a pressões do PMDB
A 3ª Conferência Estadual do PCdoB foi encerrada ontem em Salvador. Do encontro, saiu o entendimento político de que o partido deve lançar candidatura própria em 65 municípios baianos, inclusive na capital, e que vão resistir às pressões exercidas pelo PMDB para que sejam entregues os cargos que ocupam na prefeitura. Além da pasta da Educação _ comandada pelo professor Ney Campello, que possui o segundo maior orçamento do município, com R$381.132.000 previstos para 2008 _ o PCdoB comanda quatro subsecretarias e os cargos do segundo e terceiro escalões do governo. Segundo a líder do partido na Câmara, vereadora Aladilce Souza, oficialmente ainda não foram instados a entregar os postos. No entanto, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), já cobrou do deputado federal Daniel Almeida (PCdoB) um posicionamento da sigla. O ministro reconhece a legitimidade do PCdoB de lançar uma candidatura própria, mas afirma que os aliados devem decidir se vão marchar juntos com João Henrique (PMDB) ou se vão assumir projetos próprios rumo à sucessão municipal de 2008.
De acordo com o líder do PCdoB na Assembléia, deputado Álvaro Gomes, o partido não vai ceder às pressões do PMDB para deixar a máquina pública. Para ele, o lançamento da candidatura da vereadora Olívia Santana “é uma posição do partido, é um direito que temos e, por isso, não vamos aceitar interferências de quem quer que seja”. “Fazemos parte da administração João Henrique. Entendemos que este não é o momento de sair (do governo). O PMDB tem a possibilidade de tirar ou não o PCdoB. Assim como o PCdoB tem o direito de lançar candidatura própria, segundo orientação da executiva nacional do partido”.
O deputado diz ainda que o PCdoB não é um partido de aluguel. “Atravessamos diversas fazes na história política do país. Portanto, não vamos aceitar interferências de quem quer que seja. Não vamos permitir que venham falar o que temos que fazer. Só os integrantes do PCdoB podem decidir isso”.
Os comunistas repudiaram ainda as declarações do secretário de Governo da prefeitura, Gilmar Santiago (PT), de que “não se cospe no prato que comeu”, ao se referir à possibilidade de o PCdoB deixar a prefeitura para tocar candidatura própria. Para os integrantes do partido, a afirmação foi considerada “infeliz” e de “extremo mal gosto”.
Ontem, o governador Jaques Wagner retornou ao Hotel Fiesta para prestigiar a conferência comunista. Na manhã de sábado, ele havia se reunido rapidamente com dirigentes da sigla. No retorno, ele discursou para a militância da legenda, falou da ligação que possui com o PCdoB e da participação da ascensão dos governos de esquerda, nos âmbitos federal e estadual. Na conferência, foram reeleitos ainda os 63 integrantes do diretório estadual comunista.
Fonte: Correio da Bahia