Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - A gente não sabe o que é pior: se a perspectiva do caos nos aeroportos neste fim de semana ou se o conselho dado pelo novo presidente da Infraero, para que os passageiros evitem voar nos "horários de pico". Seria bom, primeiro, combinar com as empresas aéreas...
Os funcionários da Infraero estão, desde quarta-feira, empenhados na operação-padrão, eufemismo para caracterizar pouco caso diante de quem viaja de avião. Anunciava-se, ontem, a possibilidade de os controladores de vôo entrarem em greve. Convenhamos, mudou alguma coisa?
Basta ver nos telejornais as imagens de aeroportos conturbados, gente se debatendo nas filas e diante dos balcões de atendimento, crianças acomodadas em cima das malas, pessoas de todas as idades dormindo no chão e, sem exceção, todos os ministros e em especial o presidente da República viajando como marajás em jatos da FAB. Também, procuram precaver-se, porque se um deles aparecesse no saguão de algum aeroporto correria o perigo de ser agredido, e não só retoricamente.
Há mais de um ano que o Brasil defronta-se com o apagão aéreo e o governo, nesse tempo, só produziu discursos e promessas. Com o feriado deste fim de semana e o "feriadão" da próxima, não há quem saiba o que fazer, exceção do conselho do presidente da Infraero, capaz de transformar-se numa custosa campanha publicitária do governo, recomendando aos cidadãos que permaneçam em casa, aproveitando para confraternizações familiares.
Depois, sucedem-se explosões de indignação, depredações e violência, iniciando-se o jogo de empurra: a Infraero fala que a responsabilidade é da Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac descarrega em cima das companhias, estas chutam a bola para a Aeronáutica, que por sua vez lava as mãos e cobra providências do ministro da Defesa. Este, por sua vez, reclama que o ministro da Fazenda não libera recursos.
A saída para os brasileiros impossibilitados de usar jatinhos seria viajar de carro, mas com as estradas do jeito que estão, não dá. Melhor ficar em casa.
Mil votos não mudam nada
A Justiça Eleitoral merece olímpicos elogios por suas recentes decisões, mas, de vez em quando, também ela leva seus tombos. Tempos atrás foi cassado o mandato de senador de João Capiberibe, do Amapá, acusado de ter comprado dois votos de eleitoras do estado pela milionária quantia de R$ 24. Não lhe foi dado sequer o benefício de ser julgado no plenário.
O então presidente Renan Calheiros apenas aplicou a sentença do Tribunal Superior Eleitoral, até impedindo que o ex-governador se defendesse da tribuna. Aqui se faz, aqui se paga, mas esse não é o caso, hoje. Vamos continuar na Justiça Eleitoral. Em Rondônia, o Tribunal Regional Eleitoral condenou o senador Expedito Júnior, do PR, à perda de mandato, acusado de haver comprado mil votos nas últimas eleições. Quando a questão chegou ao TSE, o ministro-relator, Caputo Mendes, pediu licença pouco antes do julgamento, sendo substituído pelo ministro Arnaldo Versiani.
Tratava-se de apreciar recurso do candidato derrotado ao Senado, Acir Marcos Gurgacz, do PDT, que reivindicava a cadeira. A decisão de Versiani, em favor de Expedido Junior, foi de que mil votos não mudariam o resultado da eleição. Na próxima semana o Tribunal Superior Eleitoral julga a querela e o ministro-relator Caputo Mendes acaba de pedir nova licença. Será substituído por Arnaldo Versiani.
Previsível
Terça-feira reúnem-se os tucanos do Senado. Decidirão em definitivo se fecham questão para rejeitar a prorrogação da CPMF. Não fecharão. Cada senador do PSDB será autorizado a votar conforme sua consciência. São poucas as dúvidas a respeito de a emenda constitucional vir a contar com pelo menos 8 votos favoráveis. Será o bastante para garantir ao governo a continuidade do imposto até 2011.
De Tasso Jereissati, presidente do partido, a Artur Virgílio, líder no Senado, os tucanos estão elogiando os ministros da Fazenda e do Planejamento pelas promessas feitas no sentido de atender reivindicações de mudanças na política econômica. O argumento fundamental, porém, é outro: o PSDB foi o pai da CPMF, no governo Fernando Henrique. Como poderiam rejeitar o filho no governo Lula?
Fonte: Tribuna da Imprensa