Tribuna da Bahia Notícias-----------------------
Diz o ditado popular que “onde há fumaça, há fogo”. Assim, a idéia de um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem sendo negada peremptoriamente por seus aliados e por ele próprio, mas a evolução dos fatos aponta para outra realidade. Na segunda-feira, 29, o prefeito de Camaçari, Luis Caetano, declarou, durante a solenidade pelo lançamento do milionésimo carro da unidade Ford do município, que as articulações para um novo mandato começaram porque “o povo já está com saudades”. Além de agradecer a Lula pela ajuda ao seu município, dirigindo-lhe inúmeros elogios, Caetano ainda teve tempo de insinuar uma possível candidatura do governador Jaques Wagner para as eleições presidenciais em 2010, “caso Lula não aceite o novo mandato”. Para o deputado João Carlos Bacelar (PTN), a declaração foi infeliz, porque não está amparada nos princípios democráticos. “A declaração de um integrante do PT, utilizando métodos stalinistas, não é qualquer surpresa para ninguém. Há muito tempo que o PT vem negando o seu discurso e rasgando a Constituição”, disse. Contudo, o parlamentar não acredita que o próprio presidente Lula esteja por trás destas articulações, mas não poupou os petistas. “A luta política deles, hoje, se resume ao poder pelo poder”, completou Bacelar. A idéia começou a ser ventilada nos últimos dias, e vem ganhando espaço na mídia pouco a pouco. Embora aconteçam as negativas do presidente e dos seus aliados, ela está fundamentada através dos deputados Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo pessoal de Lula, e Carlos William (PTC-MG), que articulam cuidadosamente a apresentação de uma emenda à Constituição que viabilize a reeleição do presidente em 2010. Não sem motivo, o escritor João Ubaldo Ribeiro outro dia escreveu artigo, publicado em O Globo, advertindo sobre o assunto, quando aludiu às táticas de Hugo Chávez para explicar as manobras que estão sendo gestadas. Segundo o próprio escritor, o presidente está inteirado de tudo. “Faz poucas semanas, argumentei aqui que não havia golpismo nenhum no Brasil, a não ser numa cabeça desvairada ou outra. Gira o mundo, passam os dias, e agora me encontro na obrigação de engolir minhas palavras...”, escreveu o consagrado escritor baiano. “Pois não é que, num relampejo deflagrado pela Providência, numa reprodução modestíssima do estalo de Vieira, acaba de me aparecer com grande vividez toda a verdade, em sua nudez tão clara quanto imunda? Mas é obvio que há golpismo, como asseveram os governistas. Mais que isso, o golpe já está se desenrolando, com uma sorte e uma maestria sem rivais”, completa João Ubaldo. Em Brasília, o PSDB, interessadíssimo na sucessão de Lula em 2010, também mostrou a sua insatisfação. Tanto que, sentado à mesa do governo para uma tentativa de acordo sobre a CPMF, os líderes do partido condicionaram a continuidade das negociações mediante “declarações seguras” de que as insinuações não procedem. “O terceiro mandato só acontece em republiquetas em que a democracia é usada como uma farsa. Eu não acredito que o presidente Lula se envolva na tentativa de se igualar a um ditadorzinho da América Latina”, declarou o deputado federal Jutahy Magalhães Jr. (PSDB-BA), insinuando uma comparação do gesto aos métodos o venezuelano Hugo Chávez. (Por Evandro Matos)
Senadores do PSDB se irritam com vazamento e se dizem "traídos"
Líderes do PSDB ficaram irritados com a proposta costurada pelo Palácio do Planalto para garantir o apoio do partido na votação da proposta que prorroga a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) até 2011. Os senadores tucanos não esconderam a insatisfação com o fato de parte da proposta ter sido divulgada publicamente por líderes governistas sem que o partido tenha sido informado oficialmente do seu teor. Um dos líderes tucanos disse à Folha Online que se sentiu como “marido traído” pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), já que soube dos termos da negociação pela imprensa. Oficialmente, a assessoria de Mantega disse que o ministro desconhece a proposta, mas que torce pelo fechamento de um acordo com o PSDB. Os senadores do PSDB negam que tenham sido informados sobre a proposta em discussão pelo governo, confirmada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). Se a proposta do governo for mantida no modelo atual, o PSDB promete votar contra a prorrogação da CPMF no plenário da Câmara.
Zuanazzi deixa hoje a presidência da Anac
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou em entrevista à TV Bloomberg, que o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, deixará o cargo amanhã. Segundo o ministro, a secretária especial de aviação civil do Ministério da Defesa, Solange Vieira Paiva, assumirá o comando do órgão regulador. “A informação é que ele se afaste amanhã. Tenho a informação do ministro Walfrido (dos Mares Guia) que amanhã ele se afasta e leva a carta de demissão ao Palácio do Planalto”, disse Jobim. Um interlocutor do Palácio do Planalto confirmou que Zuanazzi telefonou para o ministro das Relações Institucionais na manhã de ontem e comunicou a decisão de deixar o cargo. Zuanazzi convocou uma entrevista coletiva para esta quarta-feira, que será realizada na sede da Anac. Segundo a assessoria do órgão, ele apresentará um balanço com vários dados. Ainda hoje, ele deve comparecer ao Palácio do Planalto e conversar com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia. Se a saída for confirmada, Zuanazzi deixará a presidência da Anac após mais de um ano de crise aérea. Mesmo depois de meses de atrasos nos aeroportos, duas CPIs e a troca de todos os companheiros de diretoria, ele relutava em deixar o cargo. Desde que Nelson Jobim assumiu o Ministério da Defesa, Zuanazzi teria perdido força política dentro da agência e no governo. O ministro não convocou o presidente da Anac para as reuniões do setor aéreo e concedeu entrevistas dizendo que o substituiria assim que encontrasse o nome adequado.
Reputação, escândalo e crise de imagem
Acabo de ler dois livros notáveis do mesmo autor, o publicitário e jornalista Mário Rosa: A era do escândalo e A reputação na velocidade do tempo. Os dois volumes são como duas faces de uma mesma moeda, de tal sorte se intercomplementam. N´A era do escândalo, o autor edita o depoimento minucioso de dez personalidades de diferentes setores da vida nacional que tiveram a responsabilidade de gerir crises profundas de imagem vividas por organizações que dirigiam ou assistiram e por pessoas em suas dimensões profissionais ou morais. Episódios como o acidente aéreo da TAM de 1966; os bancos Marka e Fontecindam dos banqueiros Luiz Antônio Gonçalves e Salvatore Cacciola, este último retornado à ribalta com sua recente prisão em Mônaco; o apagão de 2001 que tanto comprometeu a qualidade da gestão do Ministério das Minas e Energia, no governo Fernando Henrique; a doença que matou Mário Covas impedindo-o de concluir seu segundo mandato como governador; o caso das aleivosias que afastaram Eduardo Jorge Caldas Pereira da Secretaria Geral da Presidência da República; o dramático episódio vivido pela atriz Glória Pires, quando a maledicência insinuava que Cleo Pires, então uma adolescente, sua filha com Fábio Júnior, estava tendo um caso com seu segundo marido, o músico Orlando Morais; e mais quatro narrativas igualmente marcantes. A leitura é de tal modo envolvente, que o leitor vivencia os casos como se fora parte de cada um desses difíceis processos que nos transmitem lições excepcionalmente úteis para a gestão de nossas múltiplas vicissitudes existenciais. Lia, coincidentemente, sobre a crise da TAM de 1966, quando aconteceu a catástrofe de 17 de julho passado com aeronave da mesma empresa. Tão enriquecido me sentia com os conhecimentos recém-adquiridos, que passei a acompanhar o noticiário do último acidente com nova visão crítica, como se fora o próprio gestor das providências que se desdobravam na seqüência dos dias. O segundo volume, A reputação na velocidade do tempo, consubstancia uma reflexão completa e acabadA?a???a sobre a interação crescente entre o público e o privado no mundo moderno, a partir de uma perspectiva inteiramente nova, quando todos fazemos parte, queiramos ou não, de um Big Brother universal, versão atualizada do Grande Irmão de George Orwell. Em jogo a reputação, o ativo mais importante para o desenlace de nossas vidas. Quando se perde a reputação, perde-se na realidade o bem mais valioso. A falência, nos dias que correm, é a parte material, visível de uma perda fundamental anterior, a da reputação. Os casos concretos mencionados para exemplificar a rica e irrespondível argumentação do autor são do conhecimento geral. Na realidade, o grande mérito do livro é o de nos fazer compreender coisas que sabíamos sem nos darmos conta de que não compreendíamos. Situações que se repetem e terminam por nos surpreender porque não ajustamos nem nossa mirada nem nossas ações às exigências dos novos tempos. O preço de ignorar essa nova realidade é o desaparecimento em face da perda dos referenciais que alimentam nossa auto-estima. O autor demonstra à saciedade que não há mais vida privada como nos habituamos a concebe-la. Basta acompanhar o noticiário de todos os dias para constatarmos essa inquietante verdade. As lições que estes dois livros encerram podem diminuir quando não eliminar muitos reveses com potencial para nos abater quando não para nos destruir integralmente. É por acreditar no que estou dizendo, que vou fazer mesas redondas regulares com meus familiares e companheiros de trabalho, para discutir esses livros. É melhor prevenir do que remediar. Joaci Góes é empresário e escritor. joacigoes@uol.com.br
Fonte: Tribuna da Bahia