sábado, novembro 10, 2007

Governador admite pressão para criticar antecessor

Jaques Wagner destaca ser impossível deixar de reconhecer avanços proporcionados pelos governos do PFL

SÃO PAULO - Após a vitória nas eleições do ano passado, o PT – cujo grupo político estava na oposição há 16 anos – passou a fazer gestões junto ao atual governador da Bahia, Jaques Wagner, para que ele não reconhecesse qualquer mérito vindo do seu antecessor. Já percebido pelos observadores da cena política baiana, o hábito de “olhar para o retrovisor” de forma sectária foi admitido por Jaques Wagner em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, em entrevista publicada na edição de ontem.
“Quando ganhei a eleição, pessoas do PT me diziam: ‘Bota para quebrar em cima dos caras’. Não é fácil mudar esse comportamento. É evidente que meu projeto é diferente do dele, mas não posso dizer que o ex-governador Paulo Souto não fez nada”, afirmou o governador. Na mesma entrevista, feita no começo da semana, Wagner identifica o plano Real como ação positiva do governo Fernando Henrique Cardoso aproveitada nas duas gestões de Lula. “Não dá para negar que PSDB e PMDB deram uma contribuição ao país”.


As declarações do governador repercutiram entre os deputados da bancada de oposição. “É um momento de lucidez, que vai de encontro com a campanha do governo, que tenta mostrar que tudo de positivo está começando agora”, afirmou Sandro Régis (PR). O parlamentar fez alusão à campanha do governo estadual que usa a expressão “pela primeira vez na Bahia” para falar de ações da administração petistas – versão regional do “nunca na história desse país” do presidente Lula que atinge até gestões de aliados, como os senadores João Durval Carneiro (PDT) e César Borges (PR).
Para Régis, o PT trouxe o estilo da época que era oposição e faz hoje um governo sectário. “O governo Paulo Souto sempre foi voltado para o desenvolvimento do estado e para a melhoria de vida da população baiana, nunca para a politicagem”, observou. “O PT pegou um estado redondo”, concluiu Régis.


O líder da minoria na Assembléia, Gildásio Penedo (DEM), avaliou que “não dava para (o PT) fugir da realidade, tanto que a Bahia crescia o dobro da média nacional”. O deputado democrata destacou que as inaugurações que Lula participou na Bahia neste ano refletem o trabalho dos governos passados. Em fevereiro, o presidente participou das inaugurações da fábrica de pneus Continental, em Feira de Santana, e da Brasil Ecodiesel.


No mês passado, Lula e Wagner comemoraram o milionésimo carro da Ford – fábrica que se instalou na Bahia após grande resistência do PT e partidos aliados – e assistiram à abertura da segunda unidade do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), iniciativa do Senai fomentada pela chegada da montadora americana. Penedo assinalou que falta agora Jaques Wagner “ter humildade” para assumir o que disse ao Estadão em público e na Bahia. O ex-go-vernador Paulo Souto estava ontem em Belo Horizonte e, conforme sua assessoria, não quis comentar as declarações do sucessor.


Sobre as próximas eleições para presidente, Jaques Wagner afirmou que “o fundamental é ter regras claras. Devemos acabar com a reeleição e criar mandatos de cinco anos para os eleitos em 2010, sem prorrogação dos atuais mandatos”. A seu ver, “a alternância de idéias é a riqueza da sociedade e no Brasil, ela será mais fácil porque as forças políticas mais importantes já foram oposição e passaram pelo governo. Depois que você governa e conhece as dificuldades terá passado por um processo de aprendizado para quando estiver de novo na oposição”.


Fonte: Correio da Bahia