Fazendeiros teriam contratato pistoleiros para eliminar presidente da Pastoral da Terra
BELÉM - O advogado e coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Xinguara, no Sul do Pará, frei Henry dês Rosiers recebeu informações de policiais militares da região de que poderá ser assassinado a qualquer momento por três pistoleiros que teriam sido contratados por R$ 50 mil para matá-lo.O valor estipulado pelo crime é o mesmo prometido aos assassinos da missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, morta com seis tiros no dia 12 de fevereiro de 2005. O serviço de inteligência da Polícia Militar do Pará está investigando a ameaça desde o final de outubro, mas até agora não divulgou o resultado do trabalho.
Frei Henry, que desde o assassinato de Dorothy Stang anda com proteção policial, disse que não abandonará sua luta em defesa dos direitos humanos e da reforma agrária. "Tem gente aqui muito mais ameaçada do que eu. Não vou me intimidar com isso", afirmou o religioso.
Ele registrou queixa na delegacia de Xinguara e foi informado de que um dos pistoleiros já não mais estaria no Pará. Premiado nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva com a medalha nacional de direitos humanos, o coordenador da CPT anda dia e noite acompanhado por dois policiais militares.
Chegou a recusar proteção, mas foi aconselhado por amigos e outros religiosos a aceitá-la. De acordo com as investigações, os principais interessados na morte de frei Henry seriam fazendeiros da região inconformados com as constantes invasões de suas terras. Eles atribuíriam ao advogado da CPT a responsabilidade por essas invasões e teriam decidido matá-lo para intimidar os movimentos sociais empenhados na luta pela reforma agrária.
Segundo nota divulgada ontem pela CPT e assinada pelos coordenadores da entidade, José Batista Gonçalves Afonso, de Marabá, e Dalva Cardoso, da regional de Belém, diante do contexto em que se vive no Estado do Pará, marcado pela violência e pela impunidade, "não faz sentido oferecer proteção policial aos ameaçados de morte se não são adotadas medidas eficazes para sequer concretizar as condenações judiciais referentes aos mandantes e executores de trabalhadores rurais".
Os dois líderes da CPT acrescentam que há tempos a entidade vem insistindo junto aos responsáveis pela segurança pública do Pará para que a polícia investigue seriamente a origem das ameaças, realizando um trabalho preventivo para evitar mortes de líderes sindicais, religiosos, militantes de direitos humanos e trabalhadores rurais.
No período de 1971 a 2006, foram registrados no Pará 814 assassinatos no campo, dos quais 568 permanecem sem apuração. Os casos investigados resultaram em 92 processos criminais, mas apenas 22 julgamentos pelo Tribunal do Júri, todos com condenação - 16 pistoleiros e seis mandantes.
A CPT lembra que, dos mandantes condenados, apenas um está preso, o que seria "um verdadeiro escândalo". Há um foragido, dois recorreram a Brasília, um morreu de morte natural e outro foi indultado (perdoado) pela Justiça de Goiânia.
O procurador federal dos Direitos do Cidadão e chefe do Ministério Público Federal (MPF) no Pará, Felício Pontes Junior, informou ontem deverá pedir a interferência do Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, ligado ao Ministério da Justiça, para garantir a segurança de frei Henry na região.
Fonte: Tribuna da Imprensa