Leandro Mazzini
Brasília. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso foi voz dissonante entre os tucanos, ontem, sobre o caso Eduardo Azeredo, em que o senador foi denunciado pelo Ministério Público Federal no esquema do "mensalão mineiro". No congresso do partido ontem, em Brasília, enquanto a maioria dos correligionários saíram em defesa de Azeredo - embora longe dos holofotes o constrangimento tenha sido notório - FH foi direto:
- Temos de ver os dados. Se ele tiver culpa, o que vamos fazer? Que cada um assuma suas responsabilidades - disse FH, taxativo.
Azeredo não apareceu ontem à tarde no local do congresso, na Asa Sul, mas foi defendido por senadores, deputados e governadores do partido, que não pouparam elogios. Inclusive o atual presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE) e o futuro, senador Sérgio Guerra. Tasso esquivou-se de comentar. Disse que "questões imediatas serão tratadas em outro dia" e que o interessava a ele o programa. Sem titubear, porém, Guerra puxou a responsabilidade para o partido.
- Acredito no senador e na sua inocência. Não há mensalão. Isso era uma prática em que se comprava votos de deputados. Lá em Minas não houve nada disso - ponderou Guerra.
A resposta foi a mesma, minutos antes, dada pelo ex-presidente Fernando Henrique, apesar de ter cobrado coerência do senador mineiro.
- Mensalão é a corrupção das instituições. Já o mensalão mineiro é verba para financiamento de campanha, o que também é errado. Mas são duas coisas diferentes - disse.
O que ficou claro, ontem, é a tática do PSDB de atacar para se defender, e usar os erros do PT com artifício para defender Azeredo. A comparação do "mensalão" no governo Lula com o caixa 2 - reconhecido, aliás, por Azeredo - é estratégia para livrar o PSDB de um expurgo popular à altura do que manchou a estrela dos adversários. Em pleno congresso dos tucanos, a ordem é olhar para frente. Azeredo entendeu o recado dos aliados. A defesa caberá a ele. No Senado, não fugiu das respostas assim que soube da denúncia. Preferiu culpar, mais uma vez, os colaboradores, sem nomeá-los.
- Quero reiterar, mais uma vez, que a minha vida vai continuar sendo uma vida limpa. As questões relativas à campanha de 1998 (quando houve o caixa 2, então candidato à reeleição ao governo de Minas) não estavam sob minha responsabilidade.
Disse também que não vai se afastar se o Supremo Tribunal Federal aceitar a denúncia do chefe do MP. A denúncia feita no dia em que o PSDB iniciou seu congresso causou uma saia-justa política, mas não arrefeceu os discursos de oposição ao governo. Os tucanos souberam separar as questões. Foram uníssonos em negar que tenha havido motivação política na data escolhida pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, ao encaminhar a denúncia ao STF justamente ontem.
- Foi coincidência - resumiu Tasso.
O presidente do partido foi endossado pelos aliados. Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, outro defensor de Azeredo, destacou a isenção do procurador e seu caráter jurídico no assunto, mas disse que vai cobrar dele, como amigo, um olhar crítico para o passado recente.
- Temos mais de 20 senadores com processos no STF e ele (Azeredo) é só mais um. Os seres humanos erram, e isso é normal numa democracia - observou Virgílio. - O doutor Antonio Fernando não agiu de má-fé, é uma pessoa séria. Mas vou questionar uma coisa: por que no caso do mensalão o presidente Lula também não foi denunciado?
Fonte: JB Online