Karla Correia
brasília. Os governos do Brasil e da Argentina manterão reuniões bilaterais regulares, cerca de duas vezes por ano, para fortalecer a relação entre os dois países e acelerar a agenda da integração regional, sobretudo no setor energético. A criação de uma comissão bilateral foi anunciada ontem pela presidente eleita da Argentina, senadora Cristina Kirchner, em visita ao Brasil, depois de encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o segundo em um intervalo de 50 dias. O primeiro encontro de alto nível entre os dois países, com a presença dos dois presidentes e ministros dos dois governos, está previsto para o primeiro trimestre de 2008, em Buenos Aires.
- Precisamos estabelecer um método de trabalho que permita mais agilidade a essa integração, com fixação de metas, objetivos e prazos para as negociações - disse Cristina ontem, depois de duas horas de reunião com o presidente Lula, mais sete ministros brasileiros e nove autoridades argentinas.
- Não é apenas um exercício do que chamamos na Argentina, de reunionismo, mas de resultados concretos. É preciso que a integração avance com resultados que possam ser quantificados, exibidos e percebidos pela sociedade - alertou Cristina.
Há três anos, os dois parceiros do Mercosul mantêm um mecanismo bilateral de consultas comerciais. Nesse caso, são os secretários de comércio que se reúnem a cada dois meses. Desde que o mecanismo foi criado, em 2004, os dois países deixaram de protagonizar disputas comerciais. O fórum criado ontem terá foco político, e o principal objetivo é avançar na integração da América do Sul e tratar de problemas densos para os dois países, como a falta de energia, principalmente na Argentina.
A principal pauta dos dois governantes ontem foi justamente a integração energética. A parceria dos dois governos no projeto binacional de construção da hidrelétrica de Garabi, no Rio Uruguai, foi mencionada como uma das prioridades do primeiro encontro bilateral entre os dois governantes, em 2008. A recente descoberta de novas reservas de petróleo pela Petrobras renovou as expectativas de aumento dos investimentos da estatal no país vizinho, e o governo argentino sonha com uma parceria em larga escala com a Petrobras.
Cristina e Lula discutiram ainda a possibilidade de cooperação técnica na área de energia nuclear. Também estão em discussão financiamentos do BNDES para empresas argentinas que desenvolvam projetos em conjunto com empresas brasileiras.
Segundo o relato do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, que participou do encontro, os dois presidentes enfatizaram a necessidade de desenvolvimento de estratégias conjuntas entre os dois países na área da Defesa, no âmbito do Mercosul.
- A entrada da Venezuela no bloco econômico sul-americano teria, contudo, ficado de fora da pauta entre os dois presidentes - afirmou o ministro.