Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Além da vaidade, da arrogância e das tradicionais goelas abertas, qual a diferença entre o governo do PT e o governo do PSDB? Nenhuma. Lula e Fernando Henrique são faces da mesma moeda, especialmente quando se compara a administração de ambos. Nada mais igual.
O governo tucano foi o responsável por estarem as rodovias nacionais em frangalhos, caracterizadas por crateras e buracos. Exceção, é claro, dos trechos privatizados que ele doou a grupos empenhados em lucrar com os abomináveis pedágios. Nesse caso, parte dos recursos arrecadados serve para recuperar um pouco do asfalto, ainda que o principal sirva para engordar suas contas bancárias.
Pois não é que o governo Lula reza pela mesma cartilha? Ainda agora se anuncia a entrega de mais sete trechos importantes das estradas federais aos urubus do pedágio. Começa que a população já paga a extorsiva "contribuição" que deveria servir para a recuperação e ampliação das rodovias, mas que sistematicamente é desviada para o pagamento de juros da dívida pública. Não estivesse o cidadão comum premido pela imensa carga fiscal e nem assim se justificaria a "contribuição" fajuta.
Mesmo assim, mais rodovias estarão sendo privatizadas, ou seja, submetidas ao pagamento de pedágios equivalentes a assaltos a mão armada.
Terá o governo calculado o quanto custa a um caminhoneiro, além do combustível e do desgaste das viaturas, para transitar pelos estados de Minas, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e outros? Depois não encontram explicação para o aumento dos gêneros de primeira necessidade.
Nem haverá que falar na falta total de segurança nas estradas, com o aumento vertiginoso do roubo de caminhões e de cargas, a maioria destas negociada com os mesmos de sempre, ou seja, comerciantes e proprietários de supermercados que melhor estariam alojados em alguma penitenciária.
Em suma, e aqui se apresentou só um exemplo, a estratégia dos companheiros é a mesma dos tucanos: sugar a população com impostos e negar a obrigação de promover serviços públicos de mínima qualidade. Não demora e privatizarão o oxigênio que a gente respira: um dólar por aspirada...
Devendo explicações
Entendeu o Tribunal Superior Eleitoral que também perdem os mandatos os senadores, prefeitos, governadores e o presidente da República, se deixarem os respectivos partidos. Claro que a decisão precisará ser confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, com as ressalvas de que perseguição ou mudança de diretriz programática justificam as mudanças. Ficam no ar, porém, algumas dúvidas. Se o mandatário for expulso de sua legenda, tendo manifestado o desejo de não abandoná-la, ficará submetido à perda do mandato?
Seria uma festa para certos caciques empenhados em livrar-se de correligionários incômodos, ainda mais se puderem substituí-los por amiguinhos. Da mesma forma, deixar um partido para participar da fundação de outro em formação, ainda inexistente, justifica a perda do mandato? Melhor faria o Congresso caso se antecipasse a essas revelações em conta-gotas que a Justiça Eleitoral começou a promover, votando com rapidez uma lei de fidelidade partidária.
Ventilador
A mãe de todos os escândalos, este ano, seria a investigação sobre as Organizações Não Governamentais em funcionamento no País. Com a óbvia ressalva de que há ONGs excepcionais, de relevantes serviços prestados às causas sociais, ambientais e educacionais. Mas num universo de 62 mil, quanta lama escorre de boa parte delas? Não são públicas nem privadas.
Não necessitam submeter-se ao controle de Tribunais de Contas nem comprovar a utilização de recursos recebidos dos cofres públicos. Seus dirigentes reservam-se retiradas ilimitadas. De acordo com o partido que estiver no governo, tucanos já foram beneficiados, como companheiros estão sendo. Vale tudo, desde a falsa prestação de serviços à mentirosa preparação de profissionais e a distribuição de benesses inexistentes.
Meses se passaram desde que o senador Heráclito Fortes apresentou o pedido de constituição de CPI para investigar as ONGs. O governo Lula fez de tudo para evitar o início das investigações, o que já constitui curioso sintoma. Agora a ordem é compor a comissão com gente morna, incapaz de levar a bom termo a elucidação de denúncias. Se a caixa-preta for aberta, não haverá ventilador que baste para espalhar seu conteúdo.
Fonte: Tribuna da Imprensa